Cuidado onde apoia o pé! Nesta edição, o tema em destaque é o escapamento da motocicleta

TEXTO: TEODORO VIEIRA

FOTOS: MAURA DE ANDRADE

Pura química! Daquela queima da mistura de ar e combustível para movimentar o sistema de transmissão, restam os gases de combustão que precisam encontrar uma saída do motor. A engenharia do sistema de arrefecimento faz com que a altíssima temperatura resultante da explosão dentro da câmara de combustão – que fica entre 800 a 1000°C – seja dissipada logo que passa para as paredes do cilindro e cabeçote, por meio das aletas. Com a moto em movimento, esse calor é irradiado para o ar pelas aletas do motor.

Imagine o barulho absurdo produzido pelos gases resultantes dessa queima se fossem descarregados diretamente para fora. Entra em cena o escapamento, que, entre outras funções, aspira os gases de escape para dentro do silencioso, fazendo com que seja expandido e descarregado para a atmosfera, baixando sua temperatura e a pressão. Par perfeito do escapamento, o catalisador purifica esses gases tóxicos em gases inofensivos, como o gás carbônico.

Ainda assim, o cano do escape chega a altíssimos 500°C e, na ponteira, a uns 200°C. Parece incrível, mas o escapamento é projetado para trabalhar nessas condições. Fique longe dele, a não ser que seja pego de surpresa em uma gelada noite do deserto do Atacama e precise aquecer as mãos dentro da luva. Todo bom garupa presta muita atenção onde apoia o pé. Porém, essa também é uma boa recomendação para quem conduz uma nova moto, considerando o desenho, caminho e altura do cano de escapamento.

A princípio, eu não conseguia entender porque a lateral da sola de borracha do pé direito do sapato tinha um leve achatamento. Procurei associar com o pequeno desgaste interno que alguns saltos possuem – para evitar enganchar na barra da calça social ao caminhar. Cheguei a pensar que era um defeito de fábrica, ou mesmo, por se tratar de um calçado de baixa qualidade. Até me dar conta da baixa frequência que eu conduzia a recém adquirida BMW G650 GS quando estava sem botas.

Apesar da boa proteção existente ao longo do escapamento para evitar contato direto com o calor emanado por ele, o ponto crítico suscetível estava na alavanca de câmbio. Era bem ali que eu repousava o pé esquerdo, próximo o suficiente para que o calor do escapamento fosse derretendo lentamente a lateral do sapato. A solução era manter esse pé ligeiramente afastado daquele ponto entre as trocas de marcha, quando era inevitável conduzir a moto calçando os sapatos ao invés de um par de botas. Pé quente!

Já havia me acostumado com o ronco do escapamento da “Pretinha”, a Agrale SXT 16.5, apesar deste soltar aquela típica e desagradável fumaça que impregnava a jaqueta de couro e denunciava quem tinha estacionado uma motocicleta dois tempos lá fora. Ao rodar com a máquina durante pouco mais de um ano e ter me acostumado com seu nível de vibração, aquele ronco passou a aumentar – a ponto de incomodar. Foi quando percebi algo solto lá dentro. Miolo mole!

Na próxima edição do ABC da Moto, traremos mais curiosidades sobre este universo que tanto amamos: o mundo dos motociclistas. Até lá!

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