Construída em estilo Steampunk, a terceira integrante da “Família Fantasma” é uma obra de arte que não serve somente como decoração.
Texto: André Ramos | Fotos: Divulgação Kingston Custom
A Kingston Custom é um estúdio de customização que surgiu na região do Ruhr, Alemanha, há 20 anos a partir do gênio criativo e inquieto de Dirk Oehlerking, um ex-piloto de motos que nunca se conformou em ter motocicletas como as que todos os demais podiam ter.
Ao longo de sua carreira, ele já teve a oportunidade de dar vazão a diversos projetos que exalam a sua personalidade, mas dois destes chamaram muito a atenção da mídia especializada europeia.
Batizadas de White Phantom e Black Phantom, são motos construídas a partir de modelos clássicos da BMW, com linhas exóticas feitas a mão, com um apelo art-decò, às quais Dirk costuma dizer que ambas se completam, como em um desenho do Yin e Yang.
Mas recentemente, a empresa acaba de revelar uma nova criação que gerou um terceiro elemento dentro desta equação simbiótica. Trata-se da “The Good Ghost” (O Bom Fantasma, em português), uma motocicleta que também foi construída a partir de uma BMW clássica e que elevou o padrão de qualidade e refinamento da empresa para um novo patamar.
O chamado
Na real, Dirk nunca pensou em criar este terceiro membro da família, mas o pedido veio de uma fonte impossível de ignorar: o renomado customizador e colecionador, Bobby Haas.
“O pedido surgiu em 2019, durante o Distinguished Gentleman’s Ride de Dallas (Texas-EUA), quando nos encontramos no Haas Moto Museum. A White Phantom e a Black Phantom eram as atrações principais da ocasião e aquilo me lisonjeou muito. Então, Bobby e Stacey Mayfield, diretor do museu, me questionaram se seria possível construir uma terceira Phantom, então uma trilogia, uma família, seria criada”, recorda-se.
De acordo com o briefing passado pela direção do museu, a moto deveria se chamar “Ghost”, deveria ser cinza e seu estilo, alinhar-se ao das outras duas. Em um nível filosófico, a moto deveria atuar como uma guardiã das outras duas e por isso, deveria ser mais imponente e veloz.
Dikr tinha usado nas duas anteriores, motos BMW R80, e baseado neste briefing, tratou de partir de uma moto maior, uma R100RS 1980, a qual procurou manter o chassi o mais original possível, à exceção de um aspecto: ele substituiu a balança convencional por um “monolever”, equipado com amortecedor YSS.

Surge o fantasma
Na primeira moto, a White Phantom, Dirk deixou as duas rodas expostas; na Black Phantom, decidiu cobrir a traseira com a carenagem e na Good Ghost, ousou ainda mais e elaborou um desenho onde ambas as rodas ficassem ocultas.
O esboço da moto foi criado com arame e fita adesiva, sobre o qual ele aplicou cartolina e cola, para criar o que seria o mockup e apresentar o conceito da motocicleta. A partir de então, Dirk moldou a carenagem da moto em uma chapa de 2 mm de alumínio – todo o peso desta peça é de apenas 21 kg.
O “design Phantom” tem como premissa deixar o piloto no topo da moto e não “dentro dela”, o que não deixa muito espaço para o tanque de combustível. Então, Dirk criou uma pequena célula de combustível e a colocou atrás da transmissão, com uma bomba externa para enviar a gasolina para o carburador.
Dirk colocou os carburadores para debaixo da carenagem e os dotou de filtros K&N, dotados de novos dutos de admissão artesanais. O escapamento foi fabricado em aço inox, servindo também como uma moldura inferior que percorre a motocicleta.
A parte superior e o assento foram feitos em couro e conta com uma linha de relógios da MMB integrados na superfície.



Toda a estrutura é escamoteável e pode ser aberta, revelando um habitáculo desenhado para abrigar uma garrafa de vinho e uma taça. Claro que não poderiam faltar um saca-rolha – há também uma vela sobressalente.
Na parte traseira, os painéis laterais abrigam duas tampas: a traseira armazena o kit de ferramentas, enquanto que a direita abriga uma coleção de talheres centenários.
Na frente, um outro toque clássico: um par de grelhas inspiradas na BMW 328 Roadster, de 1936, tendo logo acima o farol, abrigado por uma lâmina de vidro, lembrando muito os vidros do submarino Nautilus, de 20.000 Léguas Submarinas. Semi-guidões com manoplas revestidas em couro e manetes originais finalizam o cockpit.
“Quando você a pilota, tem-se a impressão que estamos em um tempo diferente”, garante Dirk.