Augusta e Adeline foram as primeiras mulheres a cruzarem os Estados Unidos a bordo de motocicletas, provando que, sim, elas podiam tanto quanto os homens.
Texto: André Ramos
Fotos: Coleção Família van Buren/Internet
Em 1916 os Estados Unidos estavam na iminência de entrarem na I Guerra Mundial. Era uma época em que as mulheres não tinham muitos direitos, ou melhor: não tinham quase nenhum direito.
Foi em meio a este cenário que as irmãs Augusta e Adeline van Buren decidiram tomar uma atitude que as colocariam em um lugar de destaque na história. Augusta com 32 e Adeline com 26, eram descendentes do ex-presidente Martin van Buren e desde jovens, não eram muito inclinadas às atividades voltadas às moças de boa reputação de sua época. Em vez de tricô, chás da tarde e aulas de piano, as van Buren, junto com o irmão Albert, curtiam atividades digamos… mais radicais, como mergulho, natação, luta livre, canoagem, corrida e motocicletas!
Diante da proibição de prestarem serviço militar, as van Buren decidiram provar ao governo americano que, sim, mulheres poderiam servir ao seu país de maneira mais efetiva e assim, decidiram fazer uma expedição cruzando o país de motocicletas, para demonstrar que poderiam trabalhar como mensageiras. Outra intenção era, com isso, requisitar o direito ao voto, algo concedido apenas aos homens naquele tempo, uma vez que estes lutavam pelo seu país.
A bordo de duas Indian Power Plus adquiridas por US$ 275 cada (valor à época), Augusta e Adeline partiram de Sheepshead Bay, no Brooklyn, Nova York, no dia 4 de julho de 1916, tendo pela frente uma jornada de 4.800 km. Elas imaginavam que chegariam a Los Angeles após um mês de viagem, mas a coisa não rolou como esperavam.
Presas
As primeiras dificuldades não demoraram a surgir, já que à época, as estradas eram muito rudimentares. Elas também não podiam se dar ao luxo de encararem as estradas à noite, já que os faróis alimentados a gás de suas motocicletas
não eram os maiores aliados para a proposta.
Nas imediações de Chicago, as irmãs van Buren enfrentariam um problema no mínimo, inusitado: elas foram presas algumas vezes, não por cometerem algum delito de trânsito, mas por estarem usando calças (!), algo proibido para mulheres em alguns estados norte-americanos. Só depois de muito diálogo que eram liberadas e podiam retornar à estrada.
Depois de se tornarem as primeiras mulheres a terem chegado ao topo de Pikes Peak (Colorado) a bordo de um veículo motorizado, as irmãs perceberam que estavam atrasadas em seu cronograma e em vez de rumarem ao norte, pelo Wyoming, elas decidiram seguir sentido Oeste, cruzando as temidas Montanhas Rochosas.
Acontece que Addie e Gussie – como preferiam ser chamadas – pegaram muita chuva e isso, aliado às péssimas condições das estradas, fez com que suas valentes Indian Power Plus começassem a atolar, o que as levou à exaustão. Elas só conseguiram superar este trecho da viagem graças à ajuda que receberam de moradores locais.
Depois, atravessaram o severo deserto a oeste de Salt Lake City (Utah), onde ficaram sem água e passaram muita sede, até que finalmente, no dia 8 de setembro, elas finalmente alcançaram Los Angeles – e já que estavam ali, decidiram descer mais um pouco e chegaram a Tijuana (México).
Quando voltaram a Nova York, Adeline candidatou-se para ser mensageira do Exército mas foi rejeitada. Mais tarde, tornou-se professora de inglês, formando-se pela Universidade de Nova York. Augusta virou piloto de avião, voando como membro do Esquadrão 99, criado por outra pioneira, Amelia Earhart.
Em 2002, as duas irmãs foram nomeadas para o Hall da Fama da AMA, a Associação Americana de Motociclismo.