Confira o relato de um ex-policial rodoviário, que adquiriu recente uma motocicleta que ele utilizava em 1.973 em seus patrulhamentos diários

TEXTO E FOTOS: REINALDO BEINOTTI

O ano era 1.970! Quatro jovens ararenses entram para a Polícia Rodoviária do Estado de São Paulo. São eles: Beinotti, Guizelin, Casadei e Andreatto. A vida segue e, em 1.973, o D.E.R. SP adquire 50 motocicletas BMW R 75/5 750 cc, modelo especial, importadas da Alemanha, para o policiamento nas estradas paulistas. Beinotti frequenta um curso de motociclista de escoltas, ministrado pela Força Pública de São Paulo e aprende técnicas de manejo com BMW e Harley-Davidson, e também de patrulhamento rodoviário.

A região de Campinas recebe 09 motocicletas BMW 750 -1973, modelo de polícia, equipadas para a execução de policiamento motorizado, já então uma tradição das Polícias Rodoviárias, tais como O Vigilante Rodoviário em São Paulo, a P.R.F. nas rodovias federais, os C.H.l.P.s no Estado da Califórnia, nos EE.UU, entre outros. Beinotti recebe a sua, para uso exclusivo e pessoal, motocicleta BMW de cor preta original, ano 1.973, estilizada, modelo 75/5, placas GA-664 – patrimônio D.E.R. 3467-A.

Usava gasolina azul na época e vinha equipada com jogo de ferramentas, bomba de ar, kit para remendo de pneus à frio, kit para primeiros socorros, bolsas laterais, sirenes, lanternas dianteiras de pisca alerta, para-brisas, extintor de incêndio, manual de garantia e depois recebera rádio intercomunicador. Passam-se mais de 10 anos e foram muitas as ocorrências e incontáveis fatos importantes na região, assim marcados na vida do homem e sua máquina, a motocicleta BMW 1.973 -R75/5 – patrimônio DER 3467-A.

A vida de Beinotti já está marcada e sua relação com a 3467-A também. Quando o policial Beinotti estava presente num evento, junto estava sua BMW. Os amigos bem o lembram! Mas, em 1.983, Beinotti deixa a Pol. Mil. Rov. de São Paulo, por força de outro concurso público, passando a integrar a Polícia Civil do Estado como Delegado e, assim, separa-se de sua motocicleta e de seu carinho para com a mesma. Seu interesse permaneceria vivo, sempre procurando saber onde, com quem e como estaria a 3467-A. Jamais sonhou que pudesse, um dia, possuir de volta a “sua” BMW, e de maneira definitiva. Quando se deseja com fervor, o universo conspira a seu favor!

Foi numa dessas surpresas que a vida nos reserva que, em 1.996, aquelas motocicletas BMW foram todas recolhidas e classificadas com material de descarte e relacionadas para irem à leilão. Algumas poucas estavam ainda em uso e outras, sucateadas. No dia do pregão, uma manhã fria de São Paulo, no Jaguaré, o leilão. Que emoção! Beinotti procurava entre os lotes, identificar qual delas seria a sua 3467, já que estavam sem as placas e sem a plaqueta de patrimônio, já causando interesse entre os presentes, com sua história.

Começa o leilão e outras duas são arrematadas rapidamente, e chega a vez da 3467 com o lote 304. A emoção é indescritível! Beinotti passa a dar lances com outros participantes, sentindo-se próximo a reaver, agora definitivamente, a “sua” BMW. Mas ainda haveriam surpresas e entraves. Eis que, entre os participantes, surge um oriental rivalizando com suas ofertas, passando a dar lances milionários, cobrindo todos de Beinotti. Seu coração parecia que ia sair pela boca. Por um breve momento, a possibilidade de aquisição da

“sua” BMW havia chegado tão perto e agora essa oportunidade estava fugindo, com um aumento substancial dos valores dos lances e a possibilidade real de, a qualquer tempo, o leiloeiro dar por arrematada a motocicleta tão querida a outro pretendente sem nenhuma relação afetuosa com a aquela máquina. Restou a nítida impressão de que o leiloeiro leu nos olhos e no semblante de Beinotti seu desespero, que acenava e gesticulava a cada lance vencido. Foi então que o leiloeiro definiu sua aflição dando por ‘vendida” a BMW 3467-A para Beinotti. Ela era afinal, “sua” outra vez, e agora definitivamente.

Por alguns momentos, ele perdera a voz. Ficara mudo e perplexo. Precisava acreditar no que acabara de acontecer, sua posse na BMW como havia ocorrido há mais de 20 anos! Não parecia, mas era verdade! Passava um filme em sua cabeça. Um compilado de fatos e histórias vividos em companhia daquela máquina, estavam à sua frente. Ela fora trazida então para Limeira no estado que se encontrava, para restauração com muito esmero, porém, não havia profissional par fazê-lo. Houve até interesse do programa “Lata Velha”, mas queriam customizá-la e o interesse era sua originalidade.

Até que em 2.007, em Rio Claro (SP), o Bernar, da MOTOPOINT assumiu o compromisso de listar e importar via Frankfurt/Alemanha, todas as peças necessárias para restauração completa da BMW 3467-A, o que paulatinamente foi feito via Sedex. Esse processo até o início efetivo da restauração demorou quase uma década, mas afinal, o Walmir, da DINAMO MOTOS, se propôs a operar toda e esmerada restauração, tornando-a, novamente, “O km”! Valeu a pena. Foi um trabalho artístico, de mestre! Não restou parafuso ou arruela que necessitasse ter sido desmontado e substituído que não feito.

Hoje, finalmente, ela está pronta e voltou a ser a motocicleta BMW 75/5 – 1973 estilizada para a Polícia Rodoviária de São Paulo, tal qual quando chegou: “Zero Km” e está linda, maravilhosa, original! Uma motocicleta com uma história única dessas, não tem preço!

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