Um dos roteiros mais adorados por motociclistas de todo o Brasil, o Rastro da Serpente, serra que liga o interior de São Paulo a Curitiba, oferece o que há de mais emocionante em termos de pilotagem: curvas sem fim! Acompanhe o relato de quem realizou a façanha a bordo de uma KTM 1290 Super Duke R
TEXTO: FÁBIO AMORIM SOARES
FOTOS: FÁBIO AMORIM SOARES / RICARDO KRUPPA
Existem estradas icônicas mundo afora, e aqui no Brasil não é diferente. A Serra do Rio do Rastro, a Estrada Real, a Estrada da Graciosa e tantas outras, cada uma com suas características e beleza peculiar. Um dia desses, eu estava com um moto emprestada. Simplesmente uma KTM 1290 Super Duke R, de 177HP. Acordei e o dia estava lindo. Muito sol e céu azul. Com aquela máquina na garagem, não pensei duas vezes e fui para a estrada.
Estou acostumado com motocicletas big trail, então tive que mudar minhas opções de trajetos, pois não poderia pegar terra. O que me veio à cabeça foi chegar até Curitiba pelas SP-250 e BR-476, mais conhecidas como “Serra do Rastro da Serpente”. Esse trajeto liga o interior de São Paulo a Curitiba, passando por inúmeras cidades pequenas desses dois estados. É uma ótima opção para quem quer curtir belas paisagens, pista sinuosa e pouco trânsito. É um percurso mais longo e bem mais demorado, cerca de 495 km, mas sua beleza e suas curvas fazem valer a pena.
O acesso a elas se dá por ótimas rodovias. Partindo da cidade de São Paulo até a região de Sorocaba, a partir da Rodovia Castelo Branco. Dali se vai, por cerca de 77 km, pela parte boa da Rodovia Raposo Tavares (quando ela se torna pista simples o percurso se torna horrível). Na altura de Itapetininga é a vez de entrar na SP-127 até Capão Bonito. O interior de São Paulo realmente é lindo! Plantações, gado, infraestrutura de apoio aos usuários, entre outras particularidades.
CURVAS SEM FIM
Muitas retas, curvas suaves, aclives e declives formam a paisagem até Capão Bonito. Nessa cidade, há um portal sinalizando oficialmente o início da Serra do Rastro da Serpente. A partir daí, começa a diversão. Segundo a lenda, são mais de 1.200 curvas intercaladas, vez ou outra, por pequenas retas. No lado paulista o asfalto, recém-recuperado, é um verdadeiro tapete. Sinalização horizontal e vertical novas. Algumas obras de recapeamento ainda existem. As curvas já se mostram abundantes, incentivando, pela qualidade do piso e por suas geometrias, a testar a inclinação da moto ao limite, sempre dentro das velocidades regulamentares.
Em Apiaí, existe outro portal em homenagem ao Rastro da Serpente, com uma área muito agradável para descanso e sessões de fotos. É a partir desse ponto que a estrada fica ainda mais sinuosa. Não conheci muito sobre a cidade, pois minha curiosidade em prosseguir pela estrada não permitiu que eu a explorasse, mas parece ser bem bonita. Pouco mais à frente, como sempre acontece em viagens de moto, encontrei um casal cheio de bagagem e adesivos na motocicleta. O que me chamou a atenção foi a placa da moto, indicando que eram de Fortaleza. Conversando, descobri que estavam indo para Mendoza, na Argentina, mas o destino principal era o Alasca e, de lá, percorreriam os cinco continentes durante dois anos (para acompanhar essa trip, acessem: www.dreamitdoit.com.br). Uau! De Fortaleza para o mundo de moto, por cerca de 80.000 km, e fizeram questão de passar pelo Rastro da Serpente.
Seguindo suas curvas, cerca de 30 km à frente de Apiaí, chega-se à divisa de estados. Cidades de Ribeira (SP) e Adrianópolis (PR), separadas pelo Rio Ribeira de Iguape. Agora, termina a SP-250 e começa a BR-476. As mudanças não são apenas no nome. Muda o visual, o asfalto e a sinalização, altera a quantidade de curvas. Elas não dão trégua. Esquerda, direita, esquerda, direita, e assim vai. À medida que a altitude aumenta (chega a cerca de 1.130 mts), as paisagens vão ficando mais lindas. O asfalto cai em qualidade. Alguns buracos aparecem no meio da curva – é preciso ficar atento, e não há acostamento, mas os mirantes, que permitem ver as montanhas paranaenses, nos fazem esquecer o asfalto e outras coisas menores. As paradas frequentes são inevitáveis.
ATRAÇÕES
Mesmos em asfalto ideal, as curvas continuam, sendo a grande atração dessa estrada. Elas são intermináveis, literalmente, e assim permanecem até aproximadamente 30 km antes de Curitiba. A curva da “ferradura”, na altura do Km 68, tem uma geometria perfeita. Ao final desta, começa um declive acentuado. Consegui percebê-la antes de me aproximar e me preparei para contorná-la. Fiz a manobra bem inclinada e comecei a acelerar na saída. Quando troco de marcha, vem a descida. Inevitável! Sistema Anti-Wheelie desativado, a roda dianteira deu uma subida por uma distância considerável. Deu vontade de voltar e fazer de novo!
Parei para almoçar na cidade de Tunas. O restaurante à beira de estrada mostra, em sua porta de vidro, como esta estrada é a queridinha do mundo das motocicletas. Centenas de adesivos das diversas tribos cobrem toda a visibilidade. Gradativamente as curvas começam a ficar menos frequentes, sinal de que Curitiba não está longe. A quantidade de carros começa a aumentar. Placas surgem indicando o fim da trip. Tudo bem! A capital paranaense é uma cidade adorável.
Assim que me instalei no hotel, por volta das 17h, a chuva desabou, e dessa forma permaneceu durante a noite inteira. Mais tarde, saí de taxi para comer uma pizza deliciosa em um lugar que tem o nome de uma grande avenida de São Paulo e, já que não estava dirigindo, bebi um vinho não menos saboroso. No dia seguinte, acordei e olhei para o céu. A chuva havia passado, porém, o tempo não estava como no dia anterior. Tomei o rumo de casa por volta das 7h, via BR-116 e, enquanto rodava por suas largas e movimentadas pistas, não pude deixar de notar a diferença entre ambas.
Disso tirei uma conclusão filosófica: para um mesmo objetivo, algumas vezes, escolhemos a opção mais prática e rápida e, talvez por comodismo, deixamos de lado a que dá mais trabalho. Entretanto, pode ser a mais prazerosa.
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