Cinco-amigos-viagem-lisboa-vladivostok-moto-moto-turismo-parte2-28-paises-joao-luiz-6

Depois de mostrarmos em nossa edição passada a primeira parte desta incrível jornada, agora, trazemos a parte final, mostrando o trecho percorrido por estes cinco amigos, da Armênia, até seu destino, no extremo leste da Rússia.

Texto e Fotos: João Luiz Marques da Silva

Depois de deixarmos a Armênia para trás, agora rumamos para entrar pela primeira vez na Rússia. Quanta expectativa por esse momento face a todos os relatos desse imenso país. A Rússia é um dos poucos que consegue ser maior que o nosso; ela é cortada por 9 fusos horários, abriga a maior ferrovia do mundo e a terceira maior rodovia, um país de superlativos e com muitas surpresas pela frente.

Mas nessa primeira etapa russa, rodamos apenas 2.000 dos quase 15.000 quilômetros que por lá percorremos, porque antes de enfrentá-los, passamos pela Bielo Rússia, Letônia, Lituânia, Estônia e Finlândia. Esses quatro países merecem uma menção especial dada sua agradabilidade, povo gentil, beleza natural e desenvolvimento de causar inveja; foi uma experiência muito rica e gratificante conhecer esses países diminutos em sua extensão mas grandes no todo que têm para oferecer aos seus visitantes.

Uma situação inédita e pitoresca foi cruzar a caminho da Estônia com a 7ª edição do mundialmente famoso Rallye Pequim-Paris, uma verdadeira loucura sobre 4 rodas, que ocorreu pela 1ª. vez em 1907, e onde só podem participar veículos fabricados antes ano de 1976; eram dezenas de modelos de todas as marcas, com exemplares das décadas de 30, 40, 50, 60, uma verdadeira loucura de se ver e poder interagir com seus participantes.

De Helsinque (Finlândia) rumamos para nossa segunda entrada na Rússia, e o destino não era nada mais nada menos que a belíssima e surpreendente cidade de São Petersburgo, uma verdadeira joia em matéria de arquitetura, igrejas, basílicas, passeios, rios, canais e de novo, muita história aprendida para depois ser contada.

Transiberiana

Finalmente começamos a desfrutar dos primeiros 745 quilômetros da Rodovia Transiberiana que nos levou a Moscou, onde nos esperava a segunda revisão das motos – agora já com 20.000 quilômetros – e uma surpresa muito agradável durante todo o tempo que passamos pela impressionante capital russa. O tão falado Kremlin, a Praça Vermelha, a Catedral de São Basílio, o Teatro Bolshoi, o Mausoléu de Lenin, todos estavam a poucos passos e puderam ser visitados e desfrutados de uma forma inacreditável.

Como tínhamos ainda quase 10.000 quilômetros para rodar pela terceira maior rodovia do mundo, lá fomos nós enfrentar seus longos e desafiadores caminhos através de inúmeras cidades, beirando uma outra gigante, a Ferrovia Transiberiana, a maior do mundo, que nos acompanhou pela direita, pela esquerda e cruzou nossa frente por diversas vezes. A flora dos locais por onde passamos nos chamou muita atenção: infindáveis campos de lavoura, vastas florestas e grandes rios em tamanho e quantidade, foram nossa companhia constante por todo o percurso.

E no meio dessa variedade toda, regiões e cidades marcantes como Cazã, com parte cristã e parte muçulmana, o Rio Volga, os Montes Urais, com sua altitude máxima de 800 metros e o início da temida Sibéria com suas temperaturas congelantes em boa parte do ano.

Tudo isso já seria o bastante, mas ainda tínhamos muito pela frente, como a passagem por Krasnoyarsk, pelo tão esperado Lago Baikal, que é o lago mais profundo do mundo (em alguns pontos ele chega a 1.600 metros de profundidade), o mais limpo e que concentra 20% da água doce em estado líquido de todo nosso planeta Terra.

João Luiz e a águia dourada, utilizada para caça e cujo voo pode chegar aos 200 kmh e ter 2 metros de envergadura

Temos ainda que citar nossa passagem por vários trechos da Rota do Chá, pela Rota da Seda, as marcantes presenças no Cazaquistão e na Mongólia.

Que surpresa no Cazaquistão, a sua capital Astana com arquitetura diferenciada e marcante, seus arranha-céus que destoam e se destacam na paisagem local e a maior tenda do mundo, com 150 metros de altura, além de sua malha rodoviária de altíssima qualidade e segurança.

Gengis Khan

E o que dizer da Mongólia? Sem dúvida, o país com a pior estrada de todo o roteiro, onde os veículos procuram desviar de inúmeros e imensos buracos na terra, para tentar a sorte nos acostamentos e campos que margeiam o caminho principal, fazendo um frenético e sem fim zigue-zague, onde todo cuidado é pouco. Esse país de civilização mongol, que nos presenteia com seu Deserto de Gobi, suas Yurts (tendas onde o povo nômade vive) e sua estranha culinária à base de carnes como de camelo, rena e cavalo, nos reservava novas e fortes surpresas. A começar pelo frenético trânsito na capital Ulan Bator e as incríveis conquistas de Gengis Khan, considerado por muitos o maior conquistador da história da humanidade. Sua estátua, esculturas de guerreiros e construção em sua memória é algo impressionante, quer seja pela sua dimensão como sua beleza.

De volta à nossa grande estrada, nos preparamos para desbravar seus últimos 3.000 quilômetros onde o destino final em Vladivostok nos esperava. Ao longo desse trecho passamos pelas últimas cidades da Rússia oriental como Chita, Mogocha, Svobodny e Khabarovsk, locais onde a grande maioria dos carros tem a direção do lado direito, influência dos veículos usados importados de países com mão inglesa.

Estátua Equestre de Genghis Khan, segundo a lenda, nesse local ele encontrou um chicote de ouro. 70 km da Capital Ulan Bator

Todo o cuidado foi pouco nessa reta final para chegarmos sãos e salvos depois de todos 30.000 quilômetros rodados, 90 dias pelas estradas de 28 países do mundo, o que nos levou, com tudo isso, a termos várias viagens em uma.

Após as comemorações na chegada, começamos a tomar as providências de retorno, onde 3 das motos foram despachadas de navio para Lisboa, e duas – entre elas a minha – foram de avião para Moscou, em uma viagem de 9 horas de voo. Lá eu faria a revisão dos 30.000 quilômetros rodados e  voltaria rodando por mais 5.000 quilômetros até Lisboa, viagem essa adiada por ter descoberto (após 10 dias) que naquela “estrada” da Mongólia, eu havia fraturado o tornozelo direito depois de uma pequena queda, que não me impediu de continuar a viagem apesar do grande desconforto.  Bom, mas esse é um outro capítulo para sem contado um dia, quem sabe?

João Luiz posa ao lado de uma mongol, trajada com o dêr, traje típico que protege do frio

O comportamento das motos não poderia ter sido melhor. Tivemos apenas um pneu furado em uma das estradas de terra/pedra que pegamos; as manutenções foram programadas antes do início da viagem, bem como a compra dos pneus e as reservas para as 90 noites em hoteis, o que foi sem dúvida alguma, um dos grandes diferenciais proporcionados pela Alive Moto Tours que ficou responsável, por essa parte, além do reconhecimento, logística, navegação e condução do grupo.

E foi assim, nesse breve relato, que espero ter podido contar um pouco do muito que significou esse desafio, que trouxe mais uma grande experiência e marca na minha vida de motociclista.

Gostaria de aproveitar esse relato para agradecer aos meus amigos que participaram bravamente dessa loucura calculada, minha família nas pessoas de minha mãe, esposa e filhos pelo apoio incondicional e a Deus, por toda sua bondade e proteção.

E agora?

Agora resta planejar a melhor viagem da minha vida, que será a próxima!

João Luiz Marques da Silva

   Administrador, trabalha no segmento do agronegócio, 61 anos, casado há 35 anos, pai de 4 filhos, avô de 2 netos e motociclista por paixão. @jlmsinsta