Ela surgiu como uma resposta da Casa de Akashi à Honda CB 750F e por isso, trazia motor de 900 cm3, capaz de entregar 82 cv e alcançar os 212 km/h.

Em 1968 a Honda chachoalhara o mundo das duas rodas quando, no final daquele ano, apresentou no Salão de Tokyo a CB 750F, motocicleta que quebraria uma série de paradigmas e contribuiu, inclusive, para mudar a imagem do país, passando de um simples copiador, para uma nação com alto poderio tecnológico.

Nós contamos essa história em nossa edição passada e este movimento da Honda acabou acionando o alarme nas demais japonesas, que perceberam que teriam que se coçar, caso não quisessem ficar debaixo da sombra da asa da marca vermelha, se é que você me entende.

Acontece que desde 1967 a Kawasaki já vinha tocando um projeto capitaneado por Gyoichi “Ben” Inamura, cujo objetivo era desenvolver uma motocicleta com motor de quatro cilindros e 750 cm3. Para entender por onde começar, Ben Inamura pegou vários estudos de mercado norte-americanos e embora internamente o projeto tenha sido batizado de N600, ficou mais conhecido pelo apelido de “New York Steak”, ou algo como “churrasco nova-iorquino”.

Mas como a “Sete-Galo” estava se tornando um sucesso de vendas, os caras do board da empresa sinalizaram que a nova moto da Kawasaki deveria entregar mais performance e por isso, pediram algo com 900 cm3, para ter mais potência que a moto da rival.

Mick Withers, um australiano que foi um dos responsáveis pelo desenvolvimento da motocicleta, afirma que a partir de então, tudo passou a ganhar muita velocidade em torno deste processo. No dia 1 de março de 1971 ele assumiu como um dos projetistas da moto e seria o responsável por fazer o seu mockup. Geralmente, isso levava em torno de 4 meses para ser feito, contando ainda com a participação de uma equipe numerosa, mas ele teria de apresentar a sua versão no dia 31 daquele mês e sem ninguém para auxiliá-lo.

“Pedi à minha esposa que esquecesse que tinha marido por um mês e trabalhei de segunda a segunda até entregá-lo”, recorda-se.

Os planos de lançamento estavam previstos para 1972, o que daria fôlego para que as H2 750 Mach III e IV pudessem performar em vendas até lá. No início dos Anos 70 saíram os primeiros esboços da moto, resultado do conceito batizado por NorimasaTada de “3S”: Slim (magro), Sleaky (charmoso) e Sexy. Um modelo fabricado em madeira e argila foi construído por Noboru Fukui, que para conseguir secá-lo, ficou segurando um secador de cabelos durante horas em torno dele.

Protótipos camuflados

Após alguns problemas no motor terem sido resolvidos, o primeiro protótipo (batizado de “V1”) foi testado na pista de Yatabe em 1971: ele entregou 95 cv e alcançou a marca de 224 km/h!

Como esta seria uma moto voltada para o mercado norte-americano, duas delas foram enviadas de navio para lá para serem testadas nas condições daquele país. Para não despertarem a curiosidade das outras marcas e muito menos da imprensa, os caras da Kawasaki pintaram estas duas motos nas cores que a Honda usava na época e, mais ainda: colaram adesivos da Honda no tanque delas.

Isso foi no início de 1972 e depois de terem rodado milhares de quilômetros por estradas e pistas de testes norte-americanas, estas motos voltaram para o Japão e foram totalmente desmontadas para serem avaliadas e segundo a lenda, só detectaram um problema de desgaste além do esperado na corrente. Então, um lubrificador automático foi instalado.

Em junho de 1972 uma avant premiére da motocicleta foi realizada no Japão para a imprensa especializada e em setembro, a Z1 foi finalmente apresentada no Salão de Colônia (Alemanha). A versão final trazia motor que entregava 82 cv e 7,5 kgf.m de torque e chamava a atenção e preocupação com os detalhes. Um deles foi a tampa do motor com a sigla DOHC em baixo relevo, para destacar-se frente ao OHC da “Sete-Galo”.

Finalizado o trabalho, Mick Witters foi promovido, ganhou um bom aumento salarial e passou a supervisionar um grupo de jovens designers, mas lamenta: “eu nunca mais trabalhei pessoalmente no desenvolvimento do design de uma motocicleta. Como um designer profissional e um amante das motos, eu até hoje sonho com aqueles dias insanos e intensos de desenvolvimento da Z1”.

Em 1976 a Z1 saiu da linha em favor da KZ900 (Estados Unidos) ou Z900 (outros mercados), a qual foi substituída no ano seguinte pela Z1000. Seu legado, entretanto, foi reverenciado em 2017, quando a Kawasaki apresentou a Z 900RS, com elementos estéticos nela inspirados.