Eliana-Malizia-vai-de-São-Paulo-até-o-Pantanal-em-busca-da-onça-pintada

Nossa colunista relembra os melhores momentos da sua viagem ao Pantanal, e conta que foi uma das melhores viagens da sua vida. A viagem virou tatuagem na pele.

Uma aventura com direito a muitas risadas,  choro, emoção e surpresas – principalmente pela quantidade de animais diferentes vistos, coisa rara para quem vive seu dia a dia apenas nos grandes centros urbanos. Assim podemos resumir as impressões que a moto-repórter Eliana Malizia teve durante os nove dias e mais de 2.500 km percorridos entre São Paulo e o Pantanal mato-grossense, em uma motoaventura realizada em cima de uma moto de baixa cilindrada, 150 cc.

Pelo caminho, os muitos pisos diferentes, com asfalto, lama, areia fofa, pedras e mato foram apenas alguns dos desafios. A cada dia, Eliana percorria uma média de cerca de 500 km.  Passou frio, calor, medo, pegou estrada a noite e muita chuva e ventania.

Chegando lá, a missão principal era encontrar a onça pintada, mas vários outros animais – inclusive cobras – surpreenderam a motociclista. Para Eliana, a experiência foi única e inesquecível. “Esta viagem foi um grande desafio. Mesmo com mais de 15 anos de experiência em viagens de moto, esta foi daquelas que lembrarei sempre com alegria e lágrimas nos olhos, disse a motorrepórter. Uma das 8 onça-pintada que encontrei no caminho e fotografada, foi tatuada no meu braço, espero que ela ainda esteja viva”, comenta Eliana.

Relatos sobre a viagem

A autora deste relato é a motociclista Eliana Malizia, piloto de testes de motos, repórter de mototurismo e lifestyle. Hoje seu escritório é tanto na pista quanto na estrada, desde que em cima de uma moto. Ela cursou fotojornalismo e Educação Física, fez MBA em Marketing e cursos extensivos em Los Angeles e também já passou por revistas especializadas, sites, e jornais. Hoje, relata suas histórias de viagens e reconhecimento profissional no seu site pessoal, o Acelerada e também na revista Playboy.

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“Esta foi uma das minhas maiores aventuras de moto, uma viagem de superação, desafio, aprendizado e momentos emocionantes.”

Logo no primeiro dia, rodei 450 km e pernoitamos na cidade de Assis, ainda no estado de São Paulo. No segundo dia, acelerei mais 460 km; atravessei a divisa para o Mato Grosso do Sul e dormi em Nova Alvorada do Sul. A próxima parada foi em Campo Grande, capital do estado.

Segui então até Coxim. Neste dia, rodei  mais de 500 km, e foi quando passei pelo meu primeiro desafio. Além de pilotar à noite em uma estrada sem iluminação, ventava muito e, muitas vezes, tive a sensação que, com o vento, seria jogada da moto.

Se não bastasse a escuridão e a ventania, a luz do combustível acendeu, o que me deixou ainda mais tensa. Não havia posto de gasolina neste trecho e eu estava praticamente sozinha.  Mas foi assim, até chegar ao hotel. No fim, deu tudo certo. Graças ao tanque reserva da Crosser é possível pilotar uma média de 100 km. O consumo médio dela é de 35 km/por litro.

Este foi um dia de superação… Mas ganhei um presente! Durante o trajeto, presenciei um pôr do sol maravilhoso e, por vários momentos, tucanos atravessavam a estrada!

De Coxim (MS) a Rondonópolis (MT)

O quarto dia chegou. O trajeto nele era de Coxim até Rondonópolis. Naquele momento, o coração já começava a apertar, pois estáva cada vez mais próximos do Pantanal e da  grande missão de encontrar a onça pintada. Antes de chegar em Rondonópolis, parei em Alcinópolis, onde fui recebida por Ildomar Carneiro Fernandes, o prefeito da cidade.

Lindas estradas

Parti então para Rondonópolis, no Mato Grosso, onde pernoitei. No dia seguinte, o destino foi Poconé. Nestes trechos, passei por uma estrada MA-RA-VI-LHO-SA, um dos pontos altos da viagem! Era uma estrada tão perfeita que mais parecia um cenário. Por ela não passavam carros, não havia comércio, nem postes de luz. Consegui curtir o silêncio e o show de pássaros de diversas espécies que voavam muito próximos de mim. Senti, em diversos momentos, a sensação de estar levitando… Eu, literalmente, viajei naqueles momentos!

O momento pediu uma oração de agradecimento, que fiz ali, de dentro do capacete. Senti uma paz indescritível, e chorei de felicidade. Como viver e saber viver é magnifico, não é mesmo? Como é bom poder compartilhar de tal alegria e beleza, é gratificante!

Poconé (MT)

A partir daí, parei de marcar quantos quilômetros estávamos percorrendo por dia, pois estava começando a ficar ansiosa. Agora, o foco era encontrar a onça pintada. Era o  quinto dia de viagem e o pernoite foi em Poconé, onde dormi pouco, afinal, ali já havia a chance de encontrar a onça. Entusiasmada , acordei  às 5 horas da manhã para começar a busca. Saí com o carro-safari do hotel e, em menos de 15 minutos, encontramos pegadas de onça pelo caminho. Logo em seguida, demos de cara com uma e seu filhote! Foi mais um momento emocionante pra mim, poder presenciar, tão de perto, um animal selvagem em seu habitat natural, longe do zoológico. Não encontrei ali apenas a beleza de uma onça, mas, sim, a sensação de felicidade de ver um animal livre e independente, do jeito certo de ser.

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Tivemos muita sorte, diga-se. Até os nativos da região disseram que fazia tempos que não encontravam uma onça com filhotes – ainda mais em tão pouco tempo de busca. Fomos, realmente, premiados. Aproveitamos o momento para apreciar o nascer do sol multicolorido e ainda ganhamos outro presente: no caminho de volta, encontramos um tamanduá. É muita sorte em um dia só!

Nesta estada, o que também foi muito bacana, foi a presença de lobos que circulavam pelo hotel, sem se importarem com a nossa presença.

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A grande aventura começa

Sexto dia de trip, hora de partir para uma das mais desafiadoras estradas brasileiras, a Transpantaneira. Eu não sabia o que me esperava. Sem exageros, por vários momentos, me senti no filme de ação Indiana Jones! Foram 140 km de terra, com mais de 90 pontes em situações precárias, esburacadas, com madeiras soltas e, embaixo delas, centenas de jacarés. Havia chovido forte e passei  por trechos de lamas grudentas, e, claro, atolei com a moto. A Yamaha Crosser não tem pneus 100% off road. Mas, mesmo assim, a moto  permitiu vencer mais um desafio: consegui passar por toda lamaceira e também por grandes poças d’água, que foi a parte refrescante do trecho. Foi uma forma de aliviar um pouco o calor, pois a temperatura naquele dia passava dos 40ºC.

Os trechos da estrada foram, sim, muito difíceis. Mas o tempo todo fomos recompensados com a beleza da natureza, de diversos animais, inclusive de uma onça – o que nos deu um pouco de medo, pois não sabíamos se ela poderia se assustar com a moto e, talvez, até querer  atacar. Mas, enfim, cheguei viva, salva  e feliz  ao destino final, o Porto Jofre. 

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Dois dias de descanso

Já no Hotel em Porto Jofre, no interior do Pantanal, foi o momento de relaxar, de sair em passeios de barco em busca de mais onças. A partir daí, vi mais seis delas e todas as vezes era motivo de comemorar. Em minha opinião, a onça é o animal mais lindo e exuberante que existe. Apaixonada por animais que sou, encontrar uma onça no habitat natural dela foi bastante emocionante, uma delas virará uma tatuagem. “e virou”.

Pantanal, até breve

Esta viagem foi um grande desafio. Mesmo com mais de 15 anos de experiência em viagens de moto, esta foi daquelas que lembrarei sempre com alegria e lágrimas nos olhos. Foi uma das melhores viagens da minha vida! Pra falar a verdade…a melhor com toda certeza, eu amo o Pantanal! Salve Pantanal!

Fotos Johanes Duarte

instagram.  @eliana.malizia