Pé na Tábua
Pé na Tábua

O PNT (Pé na Tábua) é um evento de corridas e exposição de motos antigas. Considerado o maior do ramo, o tradicional encontro agitou os arredores de Barra Bonita (SP)

Texto: Rosa Freitag
Fotos: Aaron D.C. de Almeida/Gustavo Zoppello/Miguel Costa Jr.

Pé na Tábua

Em eventos de motos antigas, colecionadores estacionam as motos para serem observadas como antiguidades. No Pé na Tábua (PNT), que já é considerado o maior evento de motos antigas do Brasil, os visitantes também são torcedores e os expositores se tornam pilotos nas corridas disputadas no kartódromo em frente ao pavilhão. A 4ªedição do PNT Motos aconteceu entre 15 e 18 de junho, em Barra Bonita (SP), e contou com 153 motos inscritas, sendo que 82 participaram das corridas.

A origem

Tiago Songa, idealizador do PNT, explica: “As corridas de motos existem desde quando elas – as motos – surgiram. Assim, nasceu o “Troféu Turismo”, na Ilha de Man, há mais de 100 anos. Com a fama, veio a abreviação para ‘TT’. O PNT-TT (‘Tira-Teima’) nasceu diretamente do PNT de Calhambeques, que acontece desde 2011, em Franca. Em 2013, apareceu uma moto para correr junto com os carros, uma Gilera Saturno 500, de 1947, do Rodrigo Aragão, que se lançou em uma corrida contra carros de 8 cilindros e ganhou! O público gostou e em outubro de 2014 nasceu o primeiro TT de Barra Bonita, com 136 motos inscritas, das quais 60 correram”.

Tira-teima: corridas de regularidade e velocidade

Há treinos livres no primeiro dia e, no dia seguinte, as tomadas de tempo. O tempo de volta para as categorias de regularidade é a média entre os participantes. As provas são de 11 voltas e vence quem tiver menos penalizações por não cravar cada volta no tempo certo. Para as corridas, o grid é formado de acordo com os tempos. O nível vem subindo bastante a cada ano, com os tempos caindo de modo expressivo.

Pé na Tábua
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Vamos conhecer alguns personagens do PNT!

Originais e antigas – Vinicius Caires – Divinópolis (MG)

“Desde garoto ia com meu pai em lixão industrial catar coisas antigas, aí juntei o gosto pelas motos com as coisas antigas. Pegava o furgão e ia para a estrada garimpar motos de antes da década de 20.

Em 2014 fiz uma Jawa 1950 de 250 cc para correr no PNT. Na categoria Pós-Vintage até 350cc, a moto ganhou em 2014 e 2015 e, em 2016, faltando uma volta, tive um problema no pistão e abandonei a prova. Em 2017 foi campeã novamente.

Estou restaurando uma Halcyon de 1908, e o Roberto Privato me cedeu a 50cc para participar este ano – e foi campeã! Foram duas medalhas de ouro este ano”.

70’s e tributos – Jairo Portilho – São Paulo (SP)

‘‘As motos de corrida da década de 1970 são raras por aqui. Creio que 90% delas voltaram ao seu país de origem e as que ficaram estão nas mãos de colecionadores. Aí surgiu a ideia de fazer réplicas, ou “tributos”, a modelos da década de 70, utilizando motos de fácil aquisição, com valores mais acessíveis.

Este ano fiz uma Yamaha RD50, inspirada nas TR’s e TZ350 da década de 70, para correr na categoria 2 tempos até 50cc fabricadas até 1979. Aliado ao grafismo das TZ’s, fabriquei um tanque alongado e uma rabeta com desenho inconfundível das Yamahas de pista, além do para-lama dianteiro curto e baixo, com o clássico “branco com vermelho”, cores de guerra destas motos que foram verdadeiros foguetes nas pistas.

Essas motocicletas eu fabrico por hobby, e muitas vezes deixo para a última hora, caso desta RD50, o que me rendeu uma torneira entupida e a corrida perdida a três voltas do final.

Pé na Tábua
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Motociclismo amador do interior – Roberto Privato – Araraquara (SP)

No PNT dá para sentir como era correr com as motos da época! Este ano levei uma Zundapp KS50 1968, uma Yamaha RD50 1975 (emprestei para o Vinícius correr e ele ganhou de mim!), a Gilera 1960, a Honda 500 Four 1974 e uma Fórmula Honda 1980. Gosto de resgatar a história do motociclismo amador do interior, pouco difundido, que formou grandes pilotos”.

HDs antigas – Hadys “Jurassic Machines”

Eu, o Erick, a Katia, o Rodrigo, o Vinicius e o Jairo ajudamos a formatar o evento. Saímos convidando todo mundo, por amor às motos antigas. No primeiro PNT, levei quatro HDs com três amigos para pilotá-las com medo de não ter motos na pista, mas de cara já lotou. O Tiago foi se envolvendo com motos e se apaixonando, e já está com uma HD 1928 para restaurar. Estragamos ele!”.

Exposição e Concurso de Elegância – Erick Fernandes

“Este ano reverenciamos os 100 anos de fundação da fábrica da Zundapp. Na exposição, temos o Concurso de Elegância, com categorias por idade e origem da moto, até o limite de fabricação, em 1984. A votação é feita entre os expositores. Este ano a vencedora foi uma DKW, de 1927, do Orbio Máximo de Borba”.

Desafio de Motonetas – Tatu Albertini – Campinas (SP)

“Há rumores de que nossa prova no PNT é insana, que a gente corre e disputa muito, mas o Desafio de Motonetas começou em 2012, para Vespas e Lambrettas, com provas a cada dois meses. Os pilotos evoluíram bastante e tem sido uma ótima escola de preparação, mecânica e pilotagem. O PNT é um evento admirável, onde você vê a máquina fazendo o que foi feita pra fazer. Dividir a curva com motos de 1930, ver rodando motos da década de 20, é muito bonito”.

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Categoria Batom

Inaugurada em 2016, a Categoria Batom é a mais charmosa do PNT, com motos de qualquer cilindrada e fabricadas até 1984, pilotadas por mulheres. Katia Zoppello, que participava do PNT com a Indian Scout 1942, insistiu para a criação de uma categoria só para mulheres – e já somos 10! Antes da largada e no fim da prova, os maridos, irmãos e filhos das pilotos se tornam “garotos do grid”, segurando os guarda-sóis!

Nancy do Prado é a musa da Batom em sua Harley 1946 e traje de época. Esposa do “João da Triumph”, da oficina Motos do Porão, de São José dos Campos,pediu para ele preparar essa moto, que estava desmontada no quintal. Com embreagem no pé e câmbio na mão, João e os filhos ficaram extasiados ao vê-la completar a primeira volta. “Foi a maior emoção que passei na vida, e agora o bichinho pegou e quero andar em todas as motos do João”, diz Nancy.

Em 2016, sua filha Edna correu com a CG125 1982 que estavam vendendo no evento. Foi adquirida por Cris Portella, de Brasília, que este ano corrreu com ela. E a pista do kartódromo serviu de motoescola: Kelly Cajano Meira, que nunca tinha pilotado, participou em 2016 com uma Lambretta LD 1958 do pai. Eliza Maia Rosa tinha medo de andar de moto até na garupa. “Ano passado, quando vi a Batom, fiquei com vontade de participar. Quando entrei no circuito (com a Honda Monkey J3 1973 do pai) o coração acelerou e vi que não tinha mais como desistir, mesmo porque eu estava curtindo muito. Até levei um tombinho besta, mas faz parte”, conta Eliza. Sua cunhada, Claudia Simões Maia Rosa, correu com uma Suzuki TS125 1975.

A Kelly “Docinho”, de SBC, eu conheci no encontro de motos antigas do Valongo, em 2016, e convidei para o PNT. Ela tinha ido até Santos rodando com sua XL125 1974, e em 2016 foi a vencedora da Batom. Distribuiu a todas uns docinhos de uva deliciosos e ganhou o apelido. Em 2017, correu com uma Honda “setentinha”.

Luciana Rodrigues foi buscar sua Yamaha TT-125 1980 em Guariba, a 350 km de São Paulo. “O PNT TT é mais que um evento. É trazer de volta à vida estas máquinas que guardam tantas aventuras. Fazer parte dessa família é um privilégio”, afirma Luciana.

E eu fui a vencedora em 2017! Ano passado, logo antes do PNT, comprei uma Yamaha DT250 1974 e fiquei empolgada para participar da Batom. Com tanta disparidade entre a idade, estilo e cilindrada das motos, o tempo de volta ficou uns 15 segundos mais lento do que a minha média, então desde a largadaacompanhei as motos mais lentas, da Kátia e da Nancy. Desfilei acenando para o público, assim como todas as pilotos, e foi uma grande surpresa ser chamada para receber louros e a medalha no alto do podium. Nas corridas de regularidade o vencedor só é revelado na hora da premiação.

O PNT Motos 2018 ainda não tem data confirmada, mas é provável que permaneça no feriado de Corpus Christi.

Para mais informações, acesse o site.

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