Aos 31 anos – e pilotando há pouco mais de 12 – ela já percorreu 22 estados brasileiros e mais de 160 mil km de moto sozinha. E quer ir ainda mais longe.
Texto: André Ramos(*)
Fotos: Arquivo Pessoal
Moto Adventure – De onde você é e como surgiu a moto na sua vida?
Celina Martins – Sou mineira, nascida em Uberlândia (MG), mas fui criada em Frutal (MG). Atualmente, moro em São José do Rio Preto (SP). Não venho de uma família de motociclistas; a moto entrou na minha vida mais por necessidade. Quando eu tinha 19 anos, precisava percorrer longas distâncias para o trabalho e ia de bicicleta, o que era perigoso. Então, decidi comprar uma moto e acabei me apaixonando por ela.
Moto Adventure – Como você começou a viajar? Qual foi a sua primeira viagem longa?
Celina Martins – Cerca de um mês depois de obter a habilitação, comecei a viajar. Antes disso, minha família nunca teve um veículo, e morávamos em uma cidade muito pequena, onde eu sempre dependia de caronas ou ônibus para me locomover. Comecei a explorar cidades vizinhas e experimentei a sensação de poder ir para onde quisesse. Depois, mudei-me para o interior de São Paulo e comecei a fazer viagens frequentes entre lá e Minas Gerais, para visitar minha família e amigos. Com o tempo, fui aumentando as distâncias, conhecendo as cidades da região e outros estados. Estou viajando de moto desde 2011. Minha primeira viagem longa foi para Goiás, mas não consigo me recordar do ano exato. Foi uma jornada de mais de 1.000 km, e acredito que tenha acontecido aproximadamente dois ou três anos após eu começar a fazer viagens mais curtas.
Moto Adventure – Como é para uma mulher viajar sozinha? Você já enfrentou alguma situação desconfortável?
Celina Martins – Ao longo do tempo, adquiri experiência, conheci pessoas e entendi os riscos envolvidos, então tomo algumas precauções. Evito viajar à noite, não forneço informações sobre o meu destino, a cidade em que estou ou a estrada que vou percorrer. Também evito divulgar em tempo real nas redes sociais. Quando encontro alguém, evito mencionar onde estou hospedada. Já enfrentei algumas situações de assédio, principalmente quando chego em alguma cidade e saio para comer, mas, graças a Deus, nunca sofri nada enquanto estava na moto. Nas redes sociais, as pessoas muitas vezes se sentem no direito de fazer comentários sobre tudo. Existe mais machismo nas redes sociais do que no mundo real, mas, tomando as devidas precauções, tudo corre bem.
Moto Adventure – E falando nisso, você já passou por algum perrengue? Se sim, conte-nos como foi e como resolveu.
Celina Martins – Já me perdi em um lugar deserto junto com uma amiga (foi uma das poucas viagens que fiz acompanhada); já tive situações em que não encontrei banheiro e precisei fazer xixi na beira da estrada; também já fiz xixi na roupa, pois a estrada não tinha acostamento. Já tive um pneu furado no fim da tarde, mas consegui resolver tranquilamente, contando com a ajuda de outras pessoas. Como costumo dizer, existem mais pessoas boas do que ruins, e tudo deu certo.
Moto Adventure – Qual região ou viagem você guarda com mais carinho na memória?
Celina Martins – Goiás me traz lembranças muito boas, especialmente por ter sido minha primeira viagem longa e também porque é o lugar onde meu pai nasceu. Ele costumava falar muito sobre querer nos levar para conhecer Goiás, mas infelizmente não pôde realizar esse sonho. Acabei indo sozinha de moto. Hoje, é o lugar que eu mais amo visitar.
Moto Adventure – Das suas viagens, qual episódio ficou marcado na sua memória? Conte para a gente.
Celina Martins – Acho que um dos momentos mais sensacionais foi quando conheci os Lençóis Maranhenses. Durante a viagem, passei por uma estrada onde pude ter uma amostra grátis de como são os Lençóis. Eu não sabia que passaria por lá, nem que a estrada seria dessa forma, então foi uma surpresa muito boa que ficou marcada na minha memória. Quando vi, fiquei surpresa e pensei: “Meu Deus, como isso é magnífico!”.
Moto Adventure – Você tem alguma formação? Ainda trabalha na área? Como você custeia suas viagens?
Celina Martins – Sou formada em química e trabalhei por muitos anos como representante de visitas médicas. Por último, estava trabalhando em um banco, mas me desliguei para me dedicar integralmente a prestar serviços de marketing para empresas. Atualmente, o marketing digital está em alta, e trabalho produzindo conteúdo e gerando mídia para várias empresas. É assim que custeio minhas viagens e meu sustento.
Moto Adventure – Já tem ideia de qual será sua próxima aventura?
Celina Martins – Depois de concluir esta viagem, pretendo visitar os cinco estados do Norte que ainda não conheço (Amapá, Rondônia, Amazonas, Acre e Roraima). Espero concluí-los ainda este ano para completar os 27 estados do Brasil. Em seguida, planejo visitar alguns países da América do Sul. Já conheço o Uruguai, pois também fui sozinha de moto, e foi uma experiência sensacional. Agora, quero explorar outros países, como Argentina, Chile, Peru, Colômbia e Venezuela, que são vizinhos aqui da nossa região.
Moto Adventure – Qual mensagem você deixaria para outras mulheres que têm medo de viajar sozinhas?
Celina Martins – Viajar sozinha é um grande desafio, mas você pode se apaixonar pela sensação de liberdade ao descobrir que é capaz de fazer algo sozinha. Não fique pensando em tudo o que pode dar errado, mas sim em tudo o que pode dar certo. Em 12 anos de estrada, tive apenas dois pneus furados. Imagine se eu tivesse deixado o medo de um pneu furado me dominar, quantas coisas lindas eu teria perdido e quantos lugares não teria conhecido. Portanto, não tenha medo. Siga algumas regras de segurança, como mencionei anteriormente, e tudo dará certo. Lembre-se de que nunca estamos sozinhas no mundo. Viajamos sozinhas, mas sempre haverá mais pessoas boas do que ruins dispostas a ajudar, e essa é a mensagem que deixo. Arrisque-se, vá em frente e descubra como é bom estar sozinha, o quão magnífico é fazer algo por si mesma e conhecer novos lugares. Nem sempre teremos companhia para ir aonde queremos, então precisamos aprender a aproveitar a vida sozinhas.