Ele começou uma marca de equipamentos de proteção quando sequer andava de moto e hoje, além de comandar uma empresa de sucesso, compete na motovelocidade e dá aulas de pilotagem.

Texto: André Ramos

Fotos: Cê Adapta/Day Miguel/Ton e Bruna Nay/

Moto Adventure – Como foi que surgiu a HLX? Pelo que sei, você trouxe a tua expertise do trabalho que ja realizava na confecção para desenvolver equipamentos de proteção para motociclistas. Foi isso mesmo?

Ronaldo Guimarães  – A HLX para motociclistas surgiu na realidade com um ensaio de uma parceria com o amigo Marco Mascari, em 2006. Na época, eu possuía a fábrica em sociedade com meu pai e irmão desde 1985 onde fabricávamos e desenvolvíamos EPIs (uniformes profissionais) e também para algumas grifes nos diversos segmentos da moda – casual, adventure, esportes, street e surf. A ideia era lançarmos uma capa de chuva, que não foi adiante na época com ele, mas como eu já havia pegado o gosto pela ideia, dei inicio ao projeto, lançando uma jaqueta térmica e impermeável, a “Imola”, e o conjunto de chuva “Discovery”. Foram os primeiros produtos, na sequência vieram as calças.

Moto Adventure – Mas cara, o que te chamou a atenção no mercado de equipamentos para motociclistas?

Ronaldo Guimarães – Assim como 99% dos brasileiros da minha geração, sou alucinado por tudo que se move através de rodas, uma, duas, três ou quarto, e se fizer barulho então, nem se fala! Aprendi a gostar do que fazia, então ter a oportunidade de focar naquilo que sempre me encantou, juntou a fome com a vontade de comer. Meu trabalho sempre foi de desenvolver produtos para melhorar o desempenho através do conforto, sempre preservando a integridade estética e segurança, no caso dos uniformes. Já estive no topo da asa de um (Boeing) A330, analisando as dificuldades do operador que faz a manutenção, observando o desgaste de seu equipamento no topo do hangar, onde a temperatura podia chegar aos 40°C, e nas galerias desta aeronave, onde o mesmo tem que engatinhar para a execução de seu trabalho. Pode até não ter relação para um leigo, porém o conceito básico é o mesmo e isso se tornou para mim um de meus mantras: a segurança é inversamente proporcional ao conforto. Muito conforto significava pouca proteção.

Moto Adventure – E como foi o começo? Quais foram as dificuldades, principalmente para quem não era motociclista?

Ronaldo Guimarães –  Todas, mas citarei uma só para não ficar chato, apesar de que, quando me perguntam eu digo que é uma história triste com final feliz! Uma delas foi a dificuldade com os lojistas; meu representante Robinho chegou a ser expulso por um proprietário de uma loja na General (Osório) que disse: “fazem perder meu tempo com essas coisas, não sabem nada do mercado”. Fui até chamado de “oportunista”, como um cara que “nem andava de moto e que queria se aproveitar”. Sem querer me achar muito, mas a marca HLX sempre foi inovadora, arrojada e cujas ideias andavam na contra-mão do mercado. Afinal, como poderia me destacar sem ser dealer de uma marca estrangeira, ou ser um piloto, ou mecânico famoso, ou irmão de fulano e sem ter amizades? Tentarei ser o mais autêntico possível e fazendo a diferença com minha experiência no setor têxtil e varejo. O ponto positivo no começo foi a recepção que tive dos profissionais da mídia, sem exceção, todos me ajudaram com estímulos, ideias, indicações, enfim, sou muito grato.

Moto Adventure – Eu me recordo que uma vez, estava trocando ideia contigo lá na loja do Shopping Moto & Aventura e você me disse que estava fazendo um curso de pilotagem. Isso foi há bastante tempo. Você não sabia mesmo andar de moto? E o que o curso agregou para você? Qual foi sua primeira moto?

Ronaldo Guimarães – A minha primeira moto foi com 16 anos, uma (Honda) CB350 que comprei escondido do meu pai e uns dez meses depois quando descobriu me ameaçou: “você quer que eu morra de preocupação?” Depois de muita chantagem emocional, dei um tempo no meu início como motoqueiro, retomando trinta anos após, com o advento da primeira loja no Shopping Moto aventura, com ajuda do meu amigo incentivador Laertes Torrens Filho (colaborador da Moto Adventure) que me aconselhou pegar uma 250 para início. O meu primeiro curso de moto foi com o saudoso e fabuloso Carlos Amaral – quem teve a oportunidade de conhecê-lo sabe do que falo. Foi uma das melhores coisas que fiz. Ali vi o quanto é importante passar por esse aprendizado; é essencial para quem tem moto.           

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Moto Adventure – Quando foi que a empresa “pegou no breu” e deslanchou? E qual foi o motivo?

Ronaldo Guimarães – Na realidade foi muito gradual. O crescimento foi lento mas constante. Acredito que o trabalho, a perseverança, mais trabalho, a resiliência, mais trabalho, muita dedicação e o amor que deposito nessa marca em cada produto que fazemos. E muita sorte, né?  

Moto Adventure – Você chegou a ter uma Concept Store no Shopping SPMarket , mas acabou fechando. Por que não deu certo? Fale sobre isso.

Ronaldo Guimarães –A ideia foi ter uma loja com a flexibilidade do horário de um shopping tradicional, de segunda a domingo até às 22h. Além disso, os shoppings são um centro de convivência, onde você encontra quase tudo, onde o cliente poderia ir com a família que a diversão seria garantida – tinha até um parque infantil lá. E o principal motivo, foi ter os cursos de pilotagem urbana (Abtrans – Academia Brasileira de Trânsito) em uma área de 15 mil metros quadrados, ou seja, um sonho que durou três anos e meio. Mas os custos são altíssimos num shopping e num cenário de economia em crise e sendo uma proposta nova, com a loja não consolidada junto aos clientes então o faturamento ficou muito a desejar e não deu.      

Moto Adventure – Quantos produtos fazem parte da linha da HLX hoje?

Ronaldo Guimarães – Separando em famílias são cinco: temos os impermeáveis, as calças e jaquetas, as luvas a linha completa da segunda pele e as calças.      

Moto Adventure – De um cara que não sabia andar de moto para alguém que dá curso de pilotagem, faz track day e compete na motovelocidade. Foi uma grande guinada, não?

Ronaldo Guimarães – Na moto me encontrei e me realizei em todos os aspectos. Fico satisfeito em lançar produtos e produzir e com as amizades que fiz com clientes, lojistas, pilotos, jornalistas, montadoras e muito mais. Hoje na Abtrans, tenho a honra de  ser sócio de um cara que admiro muito, Geraldo Tite Simões. Me especializei em pessoas que não têm nenhum conhecimento, mal sabem andar de bicicleta, mas que depois da terceira hora já estão em cima da moto passando marcha.

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Antes, quando via qualquer motociclista usando um macacão, não fazia distinção de um piloto para outro: para mim eram os “caras”, não muito diferentes de um Valentino Rossi… Ai fiz o curso com o Tite. Hummmm… Pra que!? Sempre gostei de velocidade e competição então foi inevitável, mesmo com todas as dificuldades de iniciante “véio”. Para mim, três elementos são fundamentais para competir de moto: preparação física, que tenho bastante; preparação mental, que adquiri ao longo do tempo (fazendo muita cagada), e técnica, que não tenho (risos). Nada! Estou aprendendo, é difícil e desafiador, mas empolgante.             

Moto Adventure – A gente já falou sobre isso lá em Curvelo (MG), mas quero tocar novamente neste assunto: como é para você, um cara já maduro (ele tem 56 anos), competir com garotos de 12, 13, 14 anos de idade, na Yamalube bLU cRU R3 Cup?

Ronaldo Guimarães – Obrigado pelo maduro! Quase idoso. A questão não é apenas a diferença dos 40 anos para essas crianças, mas comecei a correr com 53 anos, muito diferente de quem já correu e volta a correr. Sou um iniciante. Quando uma criança dessa começa, ela não têm limites, não tem medo e nem compromissos na segunda-feira. Vão aprendendo, se desenvolvendo junto com seu corpo em crescimento, fica algo natural como se a moto fizesse parte da extensão do seu corpo e isso faz toda a diferença. Para mim, preciso aprender a técnica, ter preparo físico de atleta, muito alongamento, resistência, pois o corpo já foi formado. Até fazer exercícios específicos para amenizar as dores eu faço, mas vale a pena: é uma experiência única que jamais pensei que realizaria.          

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Moto Adventure – De que maneira a pandemia atingiu a HLX?

Ronaldo Guimarães – Na cabeça! Diferente do mercado de peças, que até aqueceu bastante, nosso item não é considerado de primeira necessidade, mas diferente da época da loja no shopping SPMarket, hoje somos bem mais conhecidos e com muitos clientes. Em 2020 com todas dificuldades, ainda tivemos um crescimento de 20% e portanto, só temos que agradecer e continuar trabalhando.   

Moto Adventure – E o futuro? Como você enxerga a HLX daqui para frente? O que pensa em fazer e o que já está fazendo para adequá-la à um mundo cada vez mais líquido e digital?

Ronaldo Guimarães – A Deus pertence! Fazer planos até podemos, mas no decorrer do tempo vamos adequando, ajustando, às vezes até dando uma virada de 180 graus, mas teremos novidades que na hora oportuna anunciaremos.