Desde 1o de Maio a Ducati tem no Brasil um novo CEO. Radicado no Brasil há sete anos e casado com uma brasileira, Daniel revela nesta entrevista os seus planos para a marca em nosso país.
Em nossa edição 26w (moto Adventure Setembro/22) trouxemos a síntese de uma entrevista que fizemos com o novo CEO da Ducati no Brasil, o português Daniel Paixão.
Agora, você acompanha aqui a sua íntegra.
Boa leitura!
Texto: André Ramos
Fotos: Divulgação Ducati Brasil
Moto Adventure – Fale um pouco sobre a sua trajetória.
Daniel Paixão – Assumi em 1o de maio, sou português, mas estou no Brasil há 7 anos e meio. Estou há 13 anos fora de Portugal; estive por 11 anos na BMW (Portugal, Argentina e Alemanha) e depois vim para a Audi e aqui fiquei. Sempre tive a moto como hobby e ela deixou de ser hobby quando assumi a operação da BMW Motorrad na Argentina (2010). Vim para a Audi no escritório de serviços e técnica e quando surgiu oportunidade de ficar na Ducati, pensei que poderia fazer algo unindo o útil ao agradável. Já tive a oportunidade de fazer várias viagens de moto pelo mundo, gosto de moto de pista, de aventureiras e acho importante saber o que é moto, entender de moto. Já andei em quase todo line up da Ducati.
Moto Adventure – O que beneficia ou atrapalha, o fato de você ser um executivo apaixonado por motos, dirigindo uma marca de motos tão ligada à paixão?
Daniel Paixão – Eu só vejo vantagens nisso porque quem tem paixão pela moto e tem a oportunidade de gerir uma marca como a Ducati só encontra vantagens. Eu não vejo um ponto onde isso possa prejudicar, a não ser o fato disso poder gerar um problema familiar devido às viagens de moto, mas minha esposa é minha garupa. Minha filha, que hoje tem 9 anos, quando chego em casa já tenho de dar uma volta na quadra com ela. O que sempre procuro fazer é passar uma forma consciente de andar de moto. Um produto específico como uma moto, com um nível muito alto de tecnologia, só traz vantagens o fato de um gostar e conhecer de moto, pois isso me traz mais propriedade para falar sobre moto.
Moto Adventure – Você teve a oportunidade de estar no WDW (World Ducati Week). Fale um pouco sobre esta experiência.
Daniel Paixão – Eu vou falar aqui sem querer ser arrogante, que o WDW é o maior encontro de marca do mundo e tive uma oportunidade de, no domingo, andar na pista com a Panigale V4 – e levei o César Barros comigo. Fazia muitos anos que não andava em pista e assim foi, mas não tinha ideia de que era algo bem fechado: o (Claudio) Domenicali, eu, o César e como o César é muito amigo do Dario Machetti, o instrutor mundial da Ducati, o colocou na pista também, mais um CEO de outro mercado, umas seis ou sete pessoas em pista e foi uma experiência incrível, poder usufruir da V4S. Essa á parte boa: todos andam de moto e levam isso muito a sério.
Moto Adventure – Como você analisa tanto a marca no Brasil como o mercado brasileiro mediante essa nova posição que ocupa?
Daniel Paixão – Eu ainda estou analisando e vou te passar a minha posição que pode não ser de todo certa. O mercado de moto no Brasil no todo é um mercado muito importante e acima dos 500cc, girando em torno das 38 mil unidades, também é um mercado que apresenta um boom gigante. Falando de Ducati, estamos projetando fechar o ano com cerca de 1.200 unidades vendidas, mas pode ser que isso varie um pouco por conta da provisão de componentes, mas só vejo positividade por parte da marca no Brasill. O brasileiro começa a ser um cliente mais maduro, que começa a querer viajar de moto, que começa a querer ter moto de alta cilindrada, que começa a olhar para a qualidade e tecnologia e a Ducati oferece tudo isso. De nossa parte o que é necessário é que o cliente comece a conhecer mais ainda o produto e a marca Ducati e se sinta confiante em tudo que diga respeito a isso – e posso falar que hoje aos nossos olhos, temos peças para tudo, não temos problema de assistência, tudo está disponível hoje, temos uma boa rede de concessionários. O Brasil é um país continental, então estamos com muito cuidado com nossa rede; o nível de qualidade está muito alto e a Ducati é um produto que precisa ser vendido; o consumidor precisa ter conhecimento do que se trata, mas depois que ele entra dificilmente sai. É um trabalho que não é amanhã que vamos conseguir realizar, mas tem uma tendência de aumentar nosso market share de forma sustentável e saudável. Hoje, quando o proprietário entra com uma Panigale V4S em pista, ele sabe que está, com toda a humildade, com a melhor superesportiva que existe; o mesmo se dá com a Streetfighter, com a Multistrada… Peguei uma Diavel, e não pensei que as pessoas fossem me parar para tirar fotos dela e não à tôa ela recebeu o prêmio de moto mais bonita do Salão de MIlão de 2019 e mesmo quando ando com uma Scrambler, acontece a mesma coisa. E para terminar, temos a Monster, que com seu novo motor 937 é uma naked perfeita. Hoje temos motos para todas as propostas de uso e todas com o máximo de qualidade, tecnologia e performance.
Moto Adventure – A gente acabou de falar sobre o WDW e você mencionou como o mercado brasileiro está crescendo. Existe a possibilidade de rolar algo parecido aqui no Brasil?
Daniel Paixão – Pensar eu penso em fazer algo parecido, mas é algo a ser pensado e desenvolvido melhor. Hoje temos algo muito bom que são os DOCs (Ducati Owners Groups), que hoje já existem em número significativo em comparação com o restante do mundo e hoje eles já começam a nos perguntar sobre isso. Então é algo que está em nosso radar, não sei responder quando, pois é algo que precisa ser trabalhado com a Itália, mas eu vou além e a ideia é trazer ducatistas de outros países da América Latina para o nosso evento. Quando tiver de ser feito, precisará ser bem feito e hoje não sei quantas pessoas teríamos em um evento assim, mas daqui um ano ou dois eu já consigo ter esta ideia.
Moto Adventure – Como a Itália enxerga a oepração brasileira?
Daniel Paixão – A Itália enxerga o Brasil de forma positiva e diferente. A segunda fábrica fora da Itália está aqui no Brasil (a primeira está na Tailândia) e eles olham para a América Latina e enxergam o potencial de crescimento que existe, principalmente no Brasil.
Moto Adventure – Falando em lançamentos, lá fora a Ducati lançou da Desert X. Você acredita que exista potencial para esta moto no Brasil? Você pensa em trazê-la?
Daniel Paixão – Existe um enorme potencial e eu posso garantir a você que vou trazê-la para o Brasil. Nós vamos trazê-la provavelmente no próximo ano. É uma moto da qual sou suspeito para falar a respeito, pois sou um admirador das motos dos Anos 80 e 90 do Dakar. É uma moto que vai além do que você possa imaginar, pois ela encara muito bem uma estrada, mas se quiser fazer a América Latina inteira só de off-road, ela faz. E ela é bonita e não há o que você não possa cumprir com ela.
Moto Adventure – Daqui para frente, onde a Ducati tem de ir para colocar sua bandeira em pontos estratégicos do mercado nacional?
Daniel Paixão – Hoje estamos presentes nas principais capitais – não em todas – e vamos provavelmente focar um pouco mais no Nordeste. Se tudo correr como a gente quer, pois eu aprendi aqui, este ano tem eleição e o cenário pode mudar, mas sou um cara positivo e estamos com 17 concessionários e vamos fechar o ano provavelmente com 20 e se tudo correr bem, em 2023 teremos 23/24. Não buscamos quantidade, mas qualidade para que seja algo sustentável para todos.
Moto Adventure – Você já disse que para atrair o motociclista para a marca é preciso fazê-lo experimentar o produto e o lifestyle da Ducati. O que vocês hoje estão fazendo para interagir não somente com seu cliente, mas com teu potencial cliente?
Daniel Paixão – Usamos muita mídia através das redes sociais, e estamos dando ênfase no Linkedin, que é uma rede social muito importante, com grande abrangência; temos eventos como o Festival Duas Rodas, que foi muito forte. Temos os nossos DOCs e concessionários que vão começar a fazer eventos para mostrar a clientes de outras marcas o nosso produto e o nosso estilo. Quando comecei a andar de moto, não interessava qual a moto do outro. O que importava é que ele estava ali com uma moto e o que importa é o espírito e acho que é preciso quebrar um pouco o paradigma.
Maristela Ramos (assessora de imprensa da Ducati, complementa) – Todos os encontros que tem do DOC acabam saindo da concessionária e é incrível como você vê outras pessoas com motos de outras marcas que querem participar e eles são sempre muito bem recebidos. Claro que o assunto é sempre Ducati, mas são sempre muito bem-recebidos.
Moto Adventure – Você já conhecia o Capital Moto Week?
Daniel Paixão – Eu já tinha ouvido falar e não sabia que era uma concentração de motos mas me surpreendeu muito com seus números, já que um evento de moto na Europa reúne em torno de 50, 55 mil pessoas, com exceção do WDW que reúne 85 mil; nos Estados Unidos costuma reunir em torno de 200 mil, mas aqui a gente consegue reunir 400 mil… O Brasil tem de colocar que é made in Brasil, o Brasil é um mercado gigante, o brasileiro gosta de moto e isso é importante falar.
Moto Adventure – Fale sobre a planta de Manaus (AM): quantos modelos são produzidos, capacidade produtiva, etc.
Damiel Paixão – A fábrica está ativa desde 2012 e continua em sistema CKD e hoje produzimos cerca de 1.800 motos por ano e todas as motos do line up são fabricadas lá.
Moto Adventure – E hoje o brasileiro pode ficar tranquilo quanto à qualidade do produto fabricado lá?
Daniel Paixão – Pode e deve ficar descansado. Eu já trabalhei por muitos anos na área técnica e de qualidade da Audi e sei tudo sobre isso e posso garantir que as motos fabricadas no Brasil têm a mesma qualidade as que são feitas na Itália. Todas as tecnologias estão presentes, inclusive, a de radar.
Moto Adventure – Hoje quantas unidades existem do DOC no Brasil. Fale um pouco sobre isso.
Daniel Paixão – Hoje existem 16 DOCs e acredito que este número vai aumentar e hoje deve ter 2.200 pessoas e todos são ativos. São muito importantes para a marca, fazem eventos, encontros, então, o DOC é hoje uma ferramenta importantíssima para a Ducati e o DOC no Brasil hoje está com um nível muito interessante em relação ao resto do mundo.
Moto Adventure – E quando vamos andar de Ducati, juntos?
Daniel Paixão – Hoje dependo somente de uma questão de agenda. Por exemplo: tive de ir a Belo Horizonte (MG) e gostaria de ir de moto mas tive de ir de avião, por conta de tempo. Tirando isso, é só questão de acertar data.