entrevista-luciano-peixoto-moto-adventure

Ele respira motociclismo ativamente desde o final da década de 70. Já fez de tudo um pouco neste mundo e continua ainda hoje com o cabo virado para levar o motociclismo ao lugar que merece.

Texto: André Ramos

Fotos: Arquivo Pessoal/André Ramos

Moto Adventure – Faça um resumo sobre como foi o teu começo no mundo das duas rodas

Luciano Peixoto – No final dos anos 70 eu praticava montanhismo, skate vertical e atletismo escolar, nessa época eu já era muito ligado nas duas rodas mais especificamente no motocross; era um ávido comprador de revistas americanas e me imaginava a andando de moto pelas trilhas que eu normalmente caminhava para fazer montanhismo. Mais ou menos nessa época um amigo perguntou para mim e para o meu irmão mais velho se a gente não queria andar na moto dele. Prontamente achamos fantástica a ideia, aceitando rapidamente. A gente começou ajudando um ao outro segurando a moto, empurrando, pois não tinha prática em utilizar a embreagem etc.  Quando eu comecei a andar um pouco mais de moto – ainda com moto de amigos – rapidamente decidi comprar minha motocicleta. Eu não tinha muito recurso mas o meu salário dava para pagar a prestação e eu não perdi tempo: comprei uma TT 125 0 km. Adaptei-a à função colocando escapamento por cima, pneus, relação mais curta etc. Muito rápido já estava na trilha do “Nariz da Velha” com o Christian, um amigo que era gerente de uma revenda Yamaha, se não me engano, da Maremoto no Rio de Janeiro Rapidamente eu comecei a conviver mais com o motocross carioca e comecei a tentar fazer motocross, mas com a TT não tinha jeito, pois moía as suspensão traseira. Cada treino, um jogo novo; os saltos não tinham recepções… mas  enfim… Logo me mudei para Brasília (DF). Foi quando migrei para uma XL 250. Mas já tinha decido que seria impossível ser piloto sem recurso financeiro e o apoio do meu pai. Foi aí que descobri a minha capacidade de desenvolver e treinar pilotos.

entrevista-luciano-peixoto-moto-adventure

Moto Adventure – Você teve a oportunidade de fazer parte da equipe do Bike Show. Como foi esta experiência em tua vida?

Luciano Peixoto – André… A experiência de fazer parte do time Bike Show e ser o correspondente centro-oeste no primeiro programa de TV especializado em 2 rodas do Brasil… Cara, é difícil descrever, mas posso dizer que foi uma experiência única e que me ajudou a ser a pessoa que eu sou hoje dentro desse universo que a gente habita. Eu poderia contar tudo pra vocês né, mas eu tenho que acabar de escrever essa parte do livro do João Mendes. Em breve ele irá lançá-lo e aí vocês vão saber exatamente como aconteceu isso, mas com certeza foi fantástico.

Moto Adventure – Você acredita ser possível que um novo Bike Show possa acontecer na TV aberta brasileira ou mesmo em um canal fechado?

Luciano Peixoto – O mercado atual é outro, completamente diferente dos anos 80 quando o Bike Show foi ao ar pela primeira vez até a sua última edição ainda dentro da mesma década.

Moto Adventure – Você também competiu. Fale um pouco sobre o Luciano Peixoto piloto. Sente falta do mundo das competições?

Luciano Peixoto – Eu queria muito ter sido piloto profissional, mas naquela época as coisas eram difíceis e infelizmente, tive de abdicar de cultivar este sonho, mas nunca afastei-me das competições, estando nelas de maneira indireta, treinando pilotos. Isso sempre foi o meu grande barato e é muito importante na minha história de vida.

entrevista-luciano-peixoto-moto-adventure

Moto Adventure – Você foi um dos primeiros ou então o pioneiro a criar uma empresa voltada a oferecer pacotes de moto turismo de aventura. Fale-nos sobre esta experiência.

Luciano Peixoto – Eu tenho uma certeza de que sim, mas, não podemos afirmar se fomos ou não a primeira empresa especializada. Foi muito importante para minha carreira dentro do segmento de duas rodas desenvolver um produto com foco em mototurismo, logo no início que o mercado estava despertando para esta direção. O mais incrível é que a ideia de ter uma empresa com foco em mototurismo de aventura no Brasil veio de um gringo, o presidente da fábrica de motos Espanhola GasGas. Isso foi em 2006 quando eu estive lá, pois nessa época eu era o responsável pela área comercial no Brasil sob a gestão do Icônico Fred Tejada, acumulando a função de chefe de equipe, onde tínhamos como piloto protagonista o Felipe Zanol. Ele me falou “pôxa, você com toda a sua experiência dentro do mundo das duas rodas, conhecendo o Brasil e tudo mais, por que não monta uma empresa de mototurismo com roteiros na Serra da Canastra? Eu vou ser o primeiro a participar!”. Pois é, já tínhamos a Base55 que oferecia ao mercado atividades de aventura em geral, inclusive passeios off-road para moto e carro 4X4. Então criamos a Expedição Canastra com um roteiro de 550 Km entre Socorro (SP) e o Rancho Goiabeira, localizado em Furnas (Turvo-MG) por um roteiro predominantemente off, passando por 17 cidades com direito a uma “hospedagem 1.000.000 de estrelas” no alto do Rolador próximo a São Jose do Barreiro (MG). Nessa viagem eu tive o prazer de conhecer o Jornalista André Ramos em nossa expedição inaugural.

Moto Adventure – Depois, você trabalhou como o cara que organizava as experiências da Polaris, foi instrutor da BMW… como foram estas experiências?

Luciano Peixoto – André na Polaris a experiência foi fantástica, participar da startup de uma empresa conceituada com a Polaris no Brasil, cuidando de toda a parte de experiências deles foi muito bom. Mas apesar de grandes realizações pessoais e profissionais nessa fase, foi impossível não aceitar o desafio de assumir a coordenação geral da área de experiências de um fábrica de moto premium mais do que icônica, a BMW Motorrad do Brasil, na época em parceria com a TSO Brasil, onde o Cacá Clauset é sócio fundador. Essa oportunidade foi fundamental para alguns passos que vieram logo a seguir.

entrevista-luciano-peixoto-moto-adventure

Moto Adventure – Como foi que surgiu o Motorrad Experience?

Luciano Peixoto – O projeto Motorrad Experience surgiu na época que eu coordenava o programa de experiências Oficial da BMW, um projeto que foi muito bem aceito pela então gerente de Marketing da BMW, Luciana Francisco, porém não conseguimos colocar em prática. Então quando terminou o meu contrato com eles, entendi que como autor do projeto e responsável por todo o seu desenvolvimento, comentei com ela sobre a minha intenção de seguir com o projeto mesmo fora e com total isenção de marcas… Prontamente ela não se opôs. Com isso seguimos em frente.

Moto Adventure – Como você avalia este projeto, que hoje já passou dos 125 programas.

Luciano Peixoto –André eu acredito que nós estamos num caminho muito positivo, estamos crescendo organicamente. Penso que o projeto é audacioso quando se analisa o potencial do segmento de mototurismo, mas sabemos que ainda conta com público entre praticantes e possíveis futuros praticantes muito pequeno com aproximadamente 180 mil pessoas, contando todos os tipos de modelos de moto, porém, com o potencial de crescimento exponencial. Em sua grande maioria é um público muito carente de informações e graças à nossa experiência, acreditamos muito que podemos oferecer conhecimentos, dicas relevantes e muitas informações que possam auxiliar a muitos de uma forma ampla, sendo nossa prioridade criar uma cultura forte de procedimentos de segurança geral para todos os motociclistas independente de qualquer segmento ou tipo de motocicleta e cilindrada. Então se depender da Plataforma Motorrad Experience, todos serão beneficiados: pilotos, fabricantes de EPI e de acessórios, fabricantes de motocicletas e pneus, oficinas mecânicas… meios de hospedagens, restaurantes, enfim tudo que gira em torno deste grande mercado, até mesmo as empreiteiras de asfalto.

entrevista-luciano-peixoto-moto-adventure

Moto Adventure – Você também é um dos responsáveis pelo projeto Socorro Destino Duas Rodas. Fale-nos sobre este projeto.

Luciano Peixoto – Esse projeto é um projeto que eu considero um presente do universo. 40 anos de motociclismo, apaixonado por pela cidade de Socorro (SP)… O que poderia ser melhor do que isso, convidado para coordenar a implantação de um projeto que pode tornar a nossa cidade uma referência no segmento das duas rodas? Ainda há muito para se fazer, mas sabemos do potencial natural da cidade e também do grande trabalho que o trade turístico focado no comércio tem desenvolvido. Alem disso, Socorro está próxima São Paulo, Capital, em média de 130 km. Com isso é um projeto muito interessante e extremamente motivador para o “Luciano Peixoto”, mas muito mais para o contexto geral do município ou mesmo para o Circuito das Águas Paulista do qual Socorro faz parte. Temos que trabalhar muito na quantidade das ofertas dos hotéis e pousadas que a cidade oferece, mas sabemos que temos capacidade suficiente para atender o público. Talvez ela não esteja ainda qualificada na sua grande maioria para atender todo esse público, então um trabalho passo a passo é necessário; o comércio, os restaurantes as vias de acesso, tudo isso merece a nossa atenção, mas reafirmo que o projeto é interessante e estratégico e o prefeito André Bozolla, que está no seu segundo mandato, tem uma visão de estado e não apenas de governo e como eu, é outro apaixonado pela cidade. Sem falar que o envolvimento é público/privado, pessoas de alto nível estão envolvidas com todo o projeto com entidades também (ACE, ASTUR e Prefeitura), então, não tem como não acreditar no sucesso deste projeto. Começamos o primeiro ano com a Exposição chamada Duas Rodas uma Nação, que contou com a curadoria de Carlãozinho Coachman, do Motostory Brasil, com aproximadamente um pouco mais de 8.000 visitantes, ou seja sucesso total. A partir daí, em função da pandemia, demos uma parada, mas já estamos retornando a realização da largada do histórico e icônico Enduro da Independência na sua 38ª edição. Então o que eu posso dizer é que temos muito por fazer, mas temos a certeza que o projeto vai dar certo, uma vez que já nos seus primeiros passos já mostrou isso.

Moto Adventure – Como você analisa o atual momento do mercado duas rodas brasileiro, que passa por mais uma crise?

Luciano Peixoto – André eu não vejo essa crise que está sendo dita, muito pelo contrário, eu ouço dos bastidores tanto de fabricantes quanto dos praticantes, que  não há motocicletas premium para entregar, e mesmo na pandemia, com cidades com restrições, as pessoas estão viajando dentro do Brasil. Penso que esse momento foi muito favorável ao mototurismo interno, mesmo deixando a desejar em relação às infraestruturas, valores, serviços, enfim nas coisa correlacionadas e necessárias. Ou seja, a percepção vai contra o que estamos ouvindo de determinadas fontes.  Em Socorro e região aumentou muito o fluxo e nas minhas viagens estou vendo o mesmo, onde a todo momento passo por muitas motocicletas, porém, os lugares que estão abertos para esse público estão sendo preteridos e prestigiados por eles.

entrevista-luciano-peixoto-moto-adventure

Moto Adventure – E quanto ao moto turismo? Como encara este segmento diante de um cenário de pandemia e incertezas sobre quando poderemos voltar a viajar com segurança e tranquilidade?

Luciano Peixoto – Vamos pontuar então. Tem duas formas de se praticar o mototurismo: em grupo ou só, sem depender de nenhuma operadora. Desta maneira tem muitas pessoas viajando. Escolhem a melhor opção de destinos que estejam abertos, como disse na resposta à pergunta anterior. Agora a segunda forma é utilizando operadoras de mototurismo, principalmente operadoras que operam na Europa, Estados Unidos e América do Sul. Essas sofreram pesadamente e eu penso que só vai permanecer no mercado quem conseguiu obter uma boa reserva financeira e principalmente quem já conseguiu realizar vendas para o ano que vem.