A bordo da nova Honda Africa Twin, saímos de São Paulo com destino ao Pantanal (MS)

TEXTO: TRINITY RONZELLA

FOTOS: TRINITY RONZELLA / BRUNO GASPAR / CAIO MATTOS

De São Paulo ao Pantanal são aproximadamente 1.000 km, com três alternativas possíveis. A primeira é Via Castelo Branco: Sorocaba, Assis, Presidente Prudente, Presidente Epitácio, Bataguassu, Nova Alvorada do Sul e Campo Grande (1.020 km). A segunda sugestão engloba as regiões de Sorocaba, Bauru, Araçatuba, Três Lagoas, Água Clara e Campo Grande (996 km). E a terceira possibilidade é sair de São Paulo e seguir por Campinas, São Carlos, São José do Rio Preto, Pereira Barreto, Três Lagoas, Água Clara e Campo Grande (1.059 km).  

Destes três roteiros, o terceiro tem uma vantagem: apesar de ser mais longo, não paga pedágios – digo isso porque há muitos pedágios nos outros dois e a função de parar, pegar o dinheiro, pagar e guardar o troco pode ser um pouco incômoda. O trajeto é de pista dupla até a divisa e de pista simples dentro do Mato Grosso do Sul. Após Campo Grande, seguimos para conhecer a Estrada Parque de Piraputanga, que nos leva (também por trechos de terra) ao centro de Aquidauana, uma cidade importante do Estado.

DE SÃO PAULO A AQUIDAUANA

Este roteiro é basicamente um “deslocamento”. Já que nossa meta era conhecer parte do Pantanal, fomos objetivos e seguimos sem muitas paradas. Pilotamos até São José do Rio Preto, onde um amigo se juntaria a nós, e de lá, tocamos até Aquidauana. Fizemos o percurso em dois dias. Motociclista que se preza sempre tem um amigo com espírito aventureiro!

AQUIDAUANA

Pode-se dizer que, a partir daqui, já dá para sentir o “cheiro” do Pantanal, que está muito perto. A cidade tem alguns atrativos interessantes e a culinária é um destaque. Impossível resistir a um peixe no jantar, mesmo que seja um aperitivo às margens do Rio Aquidauana. Outro ponto interessante é a Estrada Parque de Piraputanga, que guarda paisagens e histórias locais surpreendentes. Lá, é possível realizar atividades como passeio de bicicleta, observação de pássaros e trekking. Fica a dica! Partindo daqui, há algumas opções de roteiros com diferentes tipos de caminhos (areia, terra, asfalto) para avançar pelo Pantanal. Seguimos a alternativa clássica: por asfalto, por mais algum tempo, e depois, adentrando a famosa Estrada Parque.

Antes de deixar Aquidauana, reserve metade do dia e siga para o distrito de Camisão para conhecer o Mirante do Paxixi, um roteiro de estrada de terra que passa por uma cachoeira e, ao final, oferece uma visão privilegiada do Pantanal. Só para ter uma ideia – afinal, quando sair de Aquidauana, você irá rodar por quase 300 km às margens desse lugar mágico. Vale a pena conferir!

MIRANDA

A próxima cidade por onde você irá passar será Miranda, rodando aproximados 75 km de pista simples. Localizado às margens do Rio Miranda, o lugar se destaca pelo turismo de pesca e conta com boas opções de hotéis. Considerada o Portal do Pantanal, é um ponto de parada quase obrigatório para quem viaja até lá, seja para comprar combustível ou alimentos ou se estruturar para uma aventura, pois a próxima cidade está a 220 km de asfalto. Uma vez que nosso roteiro já estava na metade, a 100 km existe um lugar conhecido como Buraco das Piranhas – recomendamos que você saia de Miranda devidamente abastecidos, tanto a moto quanto o piloto.  

No trevo de Miranda existem postos de combustíveis, lanchonetes e pousadas, mas também é interessante conhecer o Centro de Cultura Terena e entender um pouco da história local e apreciar seus artesanatos. Como pitada histórica, vale salientar que lá você irá encontrar potes e panelas de barro, esculturas de animais do Pantanal feitas de argila e madeira, cestaria com palha de taboa, milho e banana. As peças são produzidas por índios da etnia Terena, assentados na região, daí o nome dado ao espaço. Continue pela rodovia no sentido de Corumbá, em velocidade baixa – afinal, quando você menos esperar, poderá ter uma surpresa: uma sucuri, capivara ou tamanduá poderão cruzar a rodovia. Se estiver devagar, será possível diminuir e até parar para tirar fotos. Siga com cuidado!

ESTRADA PARQUE

Em frente ao posto da Polícia Ambiental está o início da famosa Estrada Parque de Corumbá, uma Área de Especial Interesse Turístico (AEIT) criada pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul em março de 1.993, onde percorremos aproximadamente 125 km de estrada de terra e passamos por dezenas de pontes de madeira. Cada ponte é uma surpresa! Além de contar com diversas opções de hospedagem, variando desde o camping até hotéis de luxo, ainda existem enormes fazendas que vivem da pecuária, as quais a estrada atravessa por retas intermináveis. Este é um trecho para ser feito com calma, aproveitando-se as paisagens. Para o caso de haver animais cruzando a estrada, pilote devagar…

Aproximadamente 45 km de Estrada Parque, uma curva à esquerda (sentido Corumbá), uma estrada e um bar à direita irão chamar sua atenção. É a famosa Curva do Leque e o Bar do Quéqué. Ótimo lugar para esticar as pernas e tomar um refrigerante (não há opção de lanche, salgados e refeição). A estrada à direita segue pelo Pantanal adentro – não é por ali! Seguindo a estrada da esquerda por mais 20 km, você chegará ao Porto da Manga. Espere a balsa (R$ 20,00/moto) e atravesse o Rio Paraguay. Do outro lado, há toda uma estrutura montada para o turismo de pesca, incluindo hotéis, venda de iscas e aluguel de voadeiras (como são chamados os barcos de alumínio que levam os pescadores).

Depois da balsa, serão mais 60 km até Corumbá, mas esse trecho é diferente. A estrada tem mais curvas, o tipo de solo muda e surgem muitas pedras na estrada. Por fim, chega-se ao Maciço do Urucum, a maior e mais culminante formação rochosa do Estado. Depois de tantas planícies, iremos transpor uma montanha, o que nos dá uma vista privilegiada. A estrada continua com visuais incríveis, até se encontrar com o asfalto, que, seguindo pela direita, leva à cidade de Corumbá.

CORUMBÁ

Programe-se para ficar pelo menos dois dias nessa cidade e conhecer tudo o que ela tem a oferecer. Um passeio no final de tarde pela região do porto para ver o casario e o exuberante pôr do sol já vale a visita, mas Corumbá vai além: o Museu de História do Pantanal e a Estação Natureza do Pantanal (espaço cultural que possui uma exposição permanente sobre o Estado) são boas fontes de informações a respeito da região.  

A culinária é um atrativo a parte! As receitas de peixes dão água na boca – não deixe de experimentar um Caldo de Piranha! Dar um passeio pela Bolívia também é uma opção, ainda mais, se for para almoçar um peixe por lá, no restaurante Vista ao Pantanal. Saia de Corumbá por volta das 10h, vá até os “moles” (um deck com visual privilegiado), faça algumas fotos e siga para o restaurante. Outro ponto legal é o Mirante Cristo Rei do Pantanal, onde é possível chegar de moto (a vista é linda!). O lugar fica perto da saída para o caminho de volta. Programe-se e não se esqueça de sair com o tanque cheio para iniciar a volta.

ÉPOCAS DO ANO

Dependendo da época do ano em que você vai à região, é possível encontrar situações completamente diferentes. Em junho e julho, normalmente, o Pantanal está cheio e pode ser difícil percorrer alguns trechos. Já de agosto em diante, é mais garantido percorrer toda a Estrada Parque. Essas diferenças influem no passeio. Na cheia, muita água, verde e estradas submersas. Na época da “vazante”, formam-se lagoas e surgem os peixes. Estes se multiplicam, o que atrai uma variedade incrível de aves e jacarés, além de capivaras, antas, ariranhas e muito mais.

DICAS

95 km após Miranda, no sentido de Corumbá, não deixe de parar na Maria do Jacaré, que já apareceu em diversos programas de TV. Além de ser possível tirar foros ao lado dos jacarés, é uma oportunidade de saborear uma costeleta de Pacu fresquinha! É comum, na época da cheia, avistar um “mar de bois” na estrada. São as “comitivas”. Os peões estão conduzindo a boiada de uma fazenda para outra, ou levando o gado para áreas mais altas no período da cheia. Se encontrar com eles, reduza a velocidade e pare em uma margem da estrada, para não assustar a boiada. Depois, siga devagar, se os peões assim o orientarem. É emocionante!

Informe-se sobre a época em que pretende ir, para não correr o risco de chegar e estar tudo inundado pela cheia do Pantanal. Muitos hotéis só são acessados por avião, nessa época. Faça um planejamento para percorrer a Estrada Parque durante todo o dia – saia cedo para aproveitar ao máximo e evite passar a noite por lá. Saindo de Corumbá, há um pedágio, no qual motos pagam R$ 6,40 (valor cobrado quando foi feita essa reportagem, em outubro de 2019).

ONDE DORMIR

Em Aquidauana, nos hospedamos no Hotel Beira Rio. Simples e de fácil localização, atendeu às nossas expectativas perfeitamente, oferecendo banho, área de descanso e café da manhã. Em frente ao hotel estão a praça da cidade e uma lanchonete, o que facilitou nossas vidas. Em Corumbá, ficamos no Hostel Road Riders, um albergue para motociclistas muito bem localizado e estruturado. A vista da piscina e o Caldo de Piranha são imperdíveis!

DEPOIMENTO DO PILOTO

Rodei 3.500 km com a nova Honda AfricaTwin. O que gostei muito foi que a autonomia aumentou em relação à versão anterior, e isto ajuda em viagens de longa duração. Em percursos nos quais, antes, eu fazia três abastecimentos, agora faço apenas dois. O para-brisa frontal é muito legal e nos protege nas estradas. Também contribui para o nosso preparo físico, pois somos menos exigidos pela máquina.

O banco tem duas regulagens de altura, facilitando a condução para diversos tipos de pilotos e estaturas. A proteção do motor é muito bem feita. Uma vez que rodei bastante por estradas de terra, esses itens fizeram com que eu sequer me preocupasse com o motor. A suspensão e a posição de pilotagem são fantásticas, principalmente em relação aos terrenos off-road. Em pé ou sentado, a segurança é muito grande.

Os freios são bem eficientes. O controle de tração tem regulagem, que é feito por um toque apenas. O sistema de ABS pode ser desligado, porém, apenas da roda traseira. A iluminação é muito boa e conta com bastante amplitude. Isto me ajudou na condução noturna, principalmente no Pantanal, uma região que sempre tem muitos bichos transitando de um lado para o outro. O painel é claro, intuitivo e os modos de pilotagem são reguláveis. Resumindo: gostei muito da moto. É uma máquina com um grande apelo aventureiro.

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