Um dos maiores ícones do motociclismo mundial, a famosa Sete-Galo encantou gerações e foi a responsável por transformar a visão que o mundo tinha da indústria japonesa.
No dia 26 de outubro de 1968, a Honda apresentou no Tokyo Motor Show aquela que mais tarde seria eleita como “A Moto do Século”, pela revista Motorcyclist Online: a CB 750.
Como a publicação citaria, motores quadricilíndricos, quatro saídas de escape, freios a disco, partida elétrica, tudo isso já havia sido utilizado em outras motos, mas foi na “Sete-Galo” (apelido que receberia no Brasil) que todos estes elementos foram conjugados de maneira harmoniosa, gerando um conjunto capaz de oferecer alta performance e ainda por cima, a um preço que na época, era mais acessível que das europeias.

Em 1973, mais de 60 mil motos por ano já haviam sido. Isso teve um papel que transcendeu o mundo das duas rodas, pois colocou um fim na fama que o Japão tinha até então: de um simples copiador sem crédito, para uma nação que havia atingido um elevado padrão de pesquisa, desenvolvimento e capacidade produtiva. O Japão mostrava, com a CB 750, que havia se tornado uma ilha de excelência em engenharia, design e tecnologia.
Um ex-funcionário do departamento de P&D da marca conta um fato curioso que aconteceu durante os testes da moto, nos Estados Unidos.
“Estávamos nos últimos testes quando, de repente, o Sr. Honda apareceu e falou: ‘deixe-me andar nessa coisa’, e rapidamente montou na moto e arrancou deserto adentro. Passada meia hora, ele ainda não havia voltado. Todos estávamos quietos e nervosos, quando ele apareceu e disse: ‘que terrível, que máquina terrível!’. Então, ele saiu andando e soltou uma gargalhada. Foi a primeira vez que escutei dele algum elogio”.
Linha K
Esta primeira CB 750 foi batizada de K0 e tinha motor de 736cm3, refrigerado a ar, dotado de comando único no cabeçote (SOHC), que entregava 67 cv a 8.000 rpm e 6,1 kgf.m de torque a 7.000 giros, o que fazia com que a moto alcançasse velocidade final de 218 km/h e fosse de 0 a 100 km/h em 6 segundos! Era um foguete para a época, mas um foguete dócil e fácil de ser tocado e quando as quatro saídas de escape eram direcionadas para apenas uma, o ronco que produzia era uma verdadeira sinfonia, tão linda e emblemática que ainda hoje, passados 51 anos, é reverenciado.
Em seguida vieram as K1 (1970, com novos tanque, tampas laterais, e filtro de ar redesenhado), K2 (1972, com novas lanterna e piscas), K3 (1973), K4 (1974) e K5 (1975), esta com novos retrovisores, piscas e melhorias mecânicas. Neste ano surgiria uma nova família, a F (Four), o que fez com que a linha K fosse cedendo espaço à novidade: as últimas da linha K foram a K6 e K7, esta última, em 1979.

Fim de uma era
Em 1983, a Honda decretou o fim da produção da CB 750, substituindo-a pela renovada CBX 750, que também seria montada no Brasil a partir de 1986, o que fez com que, antes disso, algumas unidades fossem importadas para cá e se tornassem verdadeiras raridades, caçadas a preço de ouro pelos entusiastas.
A nova Galo foi a primeira motocicleta de quatro cilindros a ser fabricada na história da Honda no Brasil, então, imagina o frisson que ela moto causou à época! As primeiras que saíram da linha de Manaus (AM), montadas com peças japonesas, foram as pretas, com faixas vermelha e cinza, farol duplo e rodas de alumínio Comstar aro 16 na dianteira. Contando também com suspensões com regulagens e para-brisas que se harmonizava com o tanque, foi considerada à época a Galo mais cara do mundo devido à grande procura – os concessionários chegavam a colocar ágio de três a quatro vezes o valor de tabela. Em 87, já totalmente nacionalizada, perdeu as suspensões com ajustes e a roda dianteira mudou para 18”, enquanto que o farol recebeu lente única.

Seu motor de 747 cm3, trazia duplo comando de válvulas no cabeçote (DOHC), 16V, arrefecimento a ar e óleo e entregava 82 (lá fora eram 91 cv) cv a 9.500 rpm e torque de 6,5 kgf.m a 8.000 rpm. Neste ano, a vermelha, azul e branca tornou-se a cor mais cobiçada, ficando conhecida como “Hollywood”; no ano seguinte, a branca, com azul e dourado foi apelidada de “Rothman’s”. Estes nomes surgiram dada a fama dos cigarros que patrocinavam competições e equipes de corrida.
Em 1991 a carenagem tornou-se integral e a moto passou a se chamar CBX 750F Indy. Esta mudança estética o que desagradou os puristas e fez com que as vendas da moto começassem a cair. Era o início do ocaso da lenda, que perdurou até 1994, quando a Honda iniciou as importações das CBR 600F e da 1000F.
Esta foi a história da Sete-Galo, uma moto que eternizou seu nome na história da indústria da moto e que foi e tem sido responsável por proporcionar muitas alegrias a quem teve ou tem uma “Moto do Século”.