POR ISABELLE SIQUEIRA

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Atualmente, a frota nacional de motocicletas no país é de 27,9 milhões – 90,5% maior que há 10 anos atrás -, tornando o Brasil o oitavo maior produtor do segmento no mundo. Seguindo o ritmo acelerado de busca pelo veículo de duas rodas, o índice de acidentes e mortes no trânsito também aumenta. O último balanço do Ministério da Saúde, realizado em 2017, indica que mais de 12,1 mil motociclistas morreram em um ano. Entre os fatores contribuintes para essa estatística estão a imprudência, desatenção, condições climáticas e das vias, vulnerabilidade e falta de segurança. Não bastassem esses motivos, nos últimos anos nos deparamos com a ascensão dos aplicativos de entregas e delivery, que passaram a “reforçar” este cenário negativo.

Acontece que algumas empresas passaram a estimular seus motoboys a serem mais ágeis nas entregas, passando a oferecer bonificação por metas atingidas. O problema é que quanto mais desenvolvido for o município, mais serviços de entregas estarão disponíveis ao consumidor e, com eles, mais tragédias de trânsito, principalmente em decorrência do excesso de velocidade e distrações. No ano passado, o seguro DPVAT pagou mais de 167 mil indenizações às vítimas com acidentes de moto, sendo que as regiões Nordeste e Sudeste foram as com o maior número de indenizados.

Na cidade de São Paulo, por exemplo, o volume de incidentes teve salto tão considerável, que a Prefeitura fechou, neste ano, parceria com empresas de entrega para aumentar a segurança de motoboys vinculados a plataformas e evitar acidentes no trânsito. Entre os termos firmados, as empresas se comprometeram a fazer convênios para oferecer cursos de direção defensiva a todos os seus entregadores, além de realizar campanhas de conscientização e, por último, não pagarem premiações em dinheiro a quem fizer mais entregas em menos tempo – este último fator passou a ser visto como incentivador a condutas imprudentes no trânsito.

Esta medida tem tudo para trazer impactos positivos e se mostrar um acerto, porém com ressalvas. Uma das preocupações é que da mesma maneira que o condutor de carro realiza cursos em CFCs somente com a finalidade de passar na prova final e obter sua CNH, os motociclistas também sigam a lógica de “fazer por obrigação” só para cumprir protocolo. Deste modo, vale o questionamento: como realizar treinamentos adequados para condutores de motos? Unir recursos tecnológicos é o caminho a ser seguido, pois além da capacitação adequada para que os motociclistas entendam as leis de trânsito, é possível conscientizá-los de que o mais importante são as vidas.

A partir de tecnologias imersivas com simuladores de realidade virtual e conteúdos interativos de aprendizagem, os motociclistas teriam modernidade e eficácia pedagógica na hora da capacitação. A simulação virtual, por exemplo, seria capaz de reproduzir e incorporar com realismo a condução de uma motocicleta e as situações cotidianas de trânsito como trafegar em cenários urbanos, rodovias e serras, além de possibilitar um melhor preparo para condução de motos em condições climáticas adversas como chuva, neblina, geada e neve e, também, testar e aprimorar o reflexo defensivo com intervenções de pedestres, ciclistas e obstáculos nas pisas. Junto a isso, o ideal seria estimular o aprendizado do código de trânsito a partir da parte teórica, levando também para a parte prática no simulador, em ambiente controlado.

Tão importante quanto a capacitação correta para que os motociclistas compreendam as leis de trânsito é conscientizá-los de que o principal é a preservação de vidas, sejam as deles ou de todos os outros envolvidos no trânsito. Neste sentido, a simulação virtual, antes vista como algo distante e impalpável, torna-se uma prática e sua aplicabilidade é possível e necessária para a construção de uma sociedade mais humana.