Mesmo quando estamos munidos da perícia, da cautela e da responsabilidade, pilotando estamos sujeitos a todo tipo de intercorrência – e é sobre isso que falaremos nesta em na próxima edição.
Texto e fotos: Marcio Silveira
Ao colocarmos nossas motocicletas em movimento, seja para cruzar fronteiras ou para tomar um café no bairro ao lado, nos sujeitamos ao imprevisível. Contabilizando a quantidade de fatores que podem influenciar no nosso passeio ou viagem, chegamos a números surpreendentes, pois podemos brevemente citar as condições do tempo, do piso onde vamos rodar, das condições técnicas da moto, das inesperadas reações de pedestres, motoristas, e também as nossas, ou até mesmo animais que, sendo pequenos dificultam sua visibilidade e os grandes que podem nos derrubar.
Estou sendo catastrofista? Vamos abandonar nosso esporte, lazer ou meio de transporte preferido em razão dos riscos que ele nos apresenta? Não! Todos os fatores inesperados nos estimulam a justamente acelerar nossas motocicletas. Unir o vento, o cheiro, a temperatura em mutação, a variante das paisagens com a aceleração, e todas as outras forças físicas que atuam sobre nosso corpo durante a pilotagem, entorpece nossa mente de forma saudável.
Esse assunto atinge a todos que pelo menos uma vez na vida pilotaram uma motocicleta ou até mesmo quem já rodou na garupa de uma. Exponencialmente ampliado fica o debate quando nos reunimos com amigos de alta vivência sobre duas rodas. Evidencia-se a ansiedade em relatar os casos experimentados.
Exemplos são altamente instrutivos. Inesquecível o dia chuvoso em que saí da pista e entrei num posto para abastecimento, até aí, tudo bem, era a intenção, mas a diferença no coeficiente de atrito do asfalto para o piso de cimento do posto é imensa e fui parar do lado da bomba, mas sentado no chão, moto para um lado e eu para outro. Noutro momento, chegando num encontro de motociclistas, todo equipado, cheio de malas, parei a moto ligada e primeiro tirei o capacete e depois as luvas. Fui colocando tudo sobre a já enorme bolsa de tanque e num pequeno desequilíbrio, tentei segurar o capacete. Moto pesada, caímos eu, moto e toda a traquitana, parados mesmo.
Aparelhos de celular que caíram do bolso, luvas que deixei sobre a moto e saí acelerando, documentos que voaram, não sei a conta de quantos foram. A solução para amenizar os prejuízos nesses casos é extirpar a pressa. Essencial também que procedimentos seguros sejam adotados. Por exemplo, sempre afivelo primeiro o capacete e depois calço as luvas. Outro exemplo: primeiro paro a moto de forma bem firme, depois retiro as luvas e em seguida o capacete. Pilotando, desligo o celular e coloco num bolso interno, evitando senti-lo vibrar, o que poderia causar uma distração.
Os exemplos anteriores não causaram grandes danos, foram mais engraçados do que trágicos. Em uma viagem de scooter durante o inverno chileno, estava rodando numa estradinha alternativa a 120 quilômetros por hora. Como se numa cena de filme estivesse pela estrada de pista simples com muitas árvores, sombras, subidas e descidas, folhas secas voando com o vento da moto, quando depois de uma subida leve o asfalto sumiu e transformou-se em cascalhos de pedras: a estrada estava em obras!
Dessa vez o final foi feliz, nada aconteceu, além de sentir os batimentos cardíacos dispararem. Doses extras de sangue frio fizeram com que eu não pressionasse nenhum dos freios, que segurasse com suavidade o guidão deixando que ele oscilasse lateralmente conforme a irregularidade do piso imprimia. Mas então, como fazer para adquirir este “sangue frio”? Na próxima edição sigo neste assunto levantando sugestões de como passar ileso por imprevistos durante a pilotagem.