De volta à ativa, nosso colunista percorre 3.000 km desta porção do continente africano a bordo de uma CRF 1000L AfricaTwin, revelando a beleza de sua aridez e a poesia de suas paisagens
Estamos retomando a coluna Mundo Afora e estou contente porque no passado tivemos muita interação com os leitores através de perguntas, comentários e sugestões de temas para abordarmos aqui no Mundo Afora. Participe você também! Ao final deste texto tem nosso e-mail, mas você pode também nos acionar pelo Facebook e Instagram da Revista MotoAdventure.
Este ano vamos falar sobre algumas viagens pela África e Ásia, mas também vamos abordar assuntos práticos com foco em grandes viagens. Então fique ligado!
No início deste ano eu fiz uma rápida, mas intensa viagem pela Namíbia e África do Sul.Esta foi uma viagem tanto de lazer como de trabalho. Eu explico:ao final deste ano vou levar um grupo de motociclistas para uma experiência bem especial nessa região. Como parte das atividades de preparação e planejamento, eu precisava definir em detalhes cada trecho para montar um roteiro cheio de atrativos, mas com um cuidado especial com segurança e bem equilibrado em termos de desafios. Essa não é uma tarefa trivial, mas que me dá muito prazer em fazer. Além disso, é sempre uma oportunidade para aproveitar e curtir cada momento.
O começo e o fim
Nosso ponto de partida foi Cape Town, cidade famosa pela sua beleza e por ser o ponto mais extremo ao sul do continente africano. Todo ´´African Overlander´´ (termo em inglês usado para definir aqueles que atravessam a África por terra) começa ou termina sua travessia emCape Town. Apesar de eu já ter passado duas vezes em minhas expedições passadas, sempre me surpreendo com a beleza e o alto padrão da cidade. Infraestrutura muito acima da nossa, uma orla linda e bem cuidada e claro, as montanhas que cercam a cidade toda.
Meu parceiro de jornada conhece cada canto da região além de ser um ótimo fotógrafo. Um privilégio!Rodaríamos sozinhos em alguns trechos e em outros nos juntaríamos com um grupo que estaria fazendo uma rota com vários trechos em comum com a nossa.
Pegamos as motos, e que motos: duas Honda CRF 1000LAfricaTwin novinhas!
Saindo de Cape Town,seguimos por estradinhas de montanha e logo saímos por pistas sem asfaltoextremamente prazerosas. Paisagens de vegetação seca, visual de vales imensos e chão batido para uma pilotagem rápida. Essa é a região de Karoo que esconde uma infinidade de cenários diferentes, a poucas horas de Cape Town.
Entramos na reserva de Inverdoorn e nos hospedamos em um lodgemaravilhoso: alto padrão e bom gosto em cada detalhe. Essa é uma das melhores reservas da África do Sul. Passamos a tarde toda observando os animais. Leões, elefantes, leopardos, rinocerontes e até os búfalos africanos estavam por lá. Um safari inesquecível.
Na manhã seguinte rodamos pelas montanhas de Cederberg com suas formações rochosas incríveis. Intercalamos estradinhas secundárias bem asfaltadas com pistaspra lá de gostosas.
Logo nesses primeiros dias ficou claro que o prazer de pilotar seria com certeza um dos pontos altos de nossa viagem. Pistas rápidas, sem grandes dificuldades, sem ninguém, com uma moto que nos obedece o tempo todo e tudo isso com um visual de cinema. É aquela sensação de puro prazer, difícil de explicar – e era só o começo…
Mesmo nessa região mais afastada, sempre encontrávamos pequenas cidades, postos de gasolina e tudo o que precisávamos.
Laranja e ocre
Atravessar a fronteira da Namíbia foi bem tranquilo. Um mundo diferente começava. Muito mais deserto, menos pontos de parada e o predomínio do laranja nas paisagens.
Só pelas estradinhas que estávamos rodando eu já estava achando que esse seria um dia maravilhoso até chegarmos ao Fish River Canyon. É de babar. É o maior cânion do continente. Tudo é gigante, a extensão, a profundidade e as rochas que formam o entorno. O ocre é a cor dominante. É fácil entender porque ele é tido como um dos cânions mais lindos do mundo. Coisa de cartão postal. Um pouco mais adiante há um complexo de rochas onde foi construído um lodge com chalés de alto padrão incrustados nas pedras. Uma enorme piscina bem no meio disso tudo deixa claro que o objetivo é superar qualquer expectativa.
A dureza do deserto, suas belezas, a coloração alaranjada e as pistas deliciosas formam um conjunto difícil de não se apaixonar. E não faltam surpresas: lagoas em pleno deserto, um rio viabilizando uma vinícola, carros abandonados na areia, pequenas vilas perdidas…
Paramos na vila fantasma de Kolmannskop. Colonizadores alemães em busca de diamantes montaram a vila e quando a mineração se esgotou, abandonaram tudo e o deserto retomou aos poucos o que era seu.
Não longe dali fica a charmosa Luderitz. Cidadezinha fundada por alemães à beira-mar. Para quem não se lembra, foi deste ponto que o Amyr Klink saiu para sua incrível travessia do Atlânticoem seu barco a remo.
A Namíbia é realmente espetacular. Beleza cinematográfica e experiências surpreendentes todo dia. A África do Sul nos proporciona muitas coisas gostosas, mas eu diria que é um pecado não fazer a Namíbia. É outro patamar.
Para voltar para a África do Sul, descemos pela Costa Oeste, entre o mar, vilas de pescadores, deserto e paisagens incríveis até Cape Town.
Em todo contato com a população local sempre encontramos gente brincalhona e bem humorada, como costuma ser em todo o continente. Eu adoro isso.
De alma lavada chegamos até nossa base. Foram perto de 3.000 km de puro prazer. Fizemos em torno de 40% fora do asfalto, mas na medida certa em termos de dificuldade.
Nós, os pilotos e suas garupas, todos com aquela sensação de realização inesquecível, nos divertimos demais e fomos juntos devolver as motos.
Com certeza as AfricaTwin foram decisivas no imenso prazer que tivemos em toda essa jornada. Não tivemos nenhum problema com elas, apenas aquela dorzinha da separação após esses dias juntos.
Na próxima edição vamos contar como foi nossa viagem pelo Tibet até o campo base do Everest. Até lá!