Desenvolvida às pressas, motocicleta que era lançada por aviões e desembarcada em praias, foi peça-chave para conferir agilidade e capacidade de locomoção aos soldados no campo de batalha.

No início da II Guerra Mundial, em 1939, a Inglaterra não tinha um esquadrão de paraquedistas e impressionado pelo regimento alemão Fallschirmjäger,Winston Churchill ordenou imediatamente que o Exército de seu país começasse a formar um regimento paraquedista.

Em 1940, 5 mil soldados já estavam aptos a desempenharem suas funções, mas isso ainda não era o suficiente, uma vez que havia a necessidade de agilizar o deslocamento das tropas quando estas chegassem em terra.

A primeira ideia que surgiu no comando foi equipar os soldados com bicicletas dobráveis. Acontece que eles não curtiram nem um pouco a ideia de saltarem de uma aeronave carregando uma bicicleta em seu peito, o que ampliaria seu peso, comprometendo o momento da saída do avião e principalmente, sua aterrissagem, pois poderiam se machucar. Outro inconveniente é que os soldados carregavam muito equipamento e armamento, e transportar tudo isso em uma bicicleta mostrou-se inviável.

Na época, as motos utilizadas pelos soldados que atuavam como mensageiros eram muito pesadas e foi então que começou-se uma campanha para conseguir encontrar uma moto que fosse leve, mas resistente e potente o suficiente para dar conta da missão.

Modelo RE

Esta tarefa foi capitaneada por Arthur Bourne, então editor da revista Motor Cycle e que desde os Anos 30, observando o crescimento do nazismo na Alemanha, já vinha buzinando no ouvido dos militares britânicos sobre a importância de terem uma moto tática que fosse leve e pequena. Ele até chegou a cogitar ao Exército que comprasse um lote de DKW RT100, equipada com um motor de 97,5 cm3, mas os militares não deram bola para seu argumento.

Mas agora, em meio ao conflito e diante do problema com o deslocamento das tropas, Bourne foi atrás de seu amigo, o Major Frank Smith, que à época era quem mandava na Royal Enfield. Algum tempo antes, a marca já tinha feito um estudo de engenharia reversa em cima da RT100 e desenvolvera uma moto com algumas melhorias, ente elas, uma crucial: a adoção de um motor de 126 cm3, a qual foi batizada de modelo RE.

Arthur Bournecolocou a moto debaixo do braço e foi mostrá-la aos militares, que quando a viram, deram risada da proposta do jornalista, mas foi aí que aconteceu algo que virou totalmente o jogo. Bourne, um exímio piloto de trial, entrou em cena pilotando a RE, passando sobre troncos e entrando e saindo de crateras de bombas.

A alta patente ficou impressionada e o general Frederick Browning, responsável por fornecer equipamentos à nova divisão de paraquedistas e um entusiasta da motocicleta, disse: “nós precisamos disso!”.

4 mil RE foram encomendadas, mas assim que as motos começaram a chegar, já ganharam um apelido: “FlyingFlea” (Pulga Voadora), devido às suas pequenas dimensões e a seu peso diminuto: 56 kg.

Pelo ar e pelo mar

Seu motor monocilíndrico dois tempos e câmbio de apenas três marchas não só era capaz de oferecer locomoção a um soldado e à sua carga, como devido a seu baixo peso, também podia ser facilmente passada sobre um muro, carregada através de um rio ou mesmo superar terrenos difíceis sem desgastar seu condutor.

Devido à sua baixa taxa de compressão, seu motorzinho funcionava com gasolinas de baixa octanagem, e com um tanque com capacidade para até 5,6 litros, tinha autonomia de até 240 km, rodando a velocidades de entre 56 e 64 km/h.

Para proteger a motocicleta no momento das aterrissagens, foi desenvolvida uma gaiola tubular que a envolvia; para que coubesse nela, o guidão passou a ser dobrável, assim como o pedal de partida e as pedaleiras; para melhorar a ergonomia, o assento foi elevado, enquanto que uma câmara de expansão foi adicionada ao escape para deixá-la mais silenciosa e não chamar a atenção do inimigo.

As primeiras FlyingFleas começaram a ser lançadas de aviões norte-americanos Douglas C-47 Dakotas durante as operações do “Dia D” e também, durante a Operação Market Garden, a maior operação aérea da história e que culminou na Bataha de Arnhem. Elas também foram desembarcadas nas praias a partir de lanchas de ataque Horsa, especialmente durante a Batalha do Dia D.

“A FlyingFlea foi um equipamento incrível, desenvolvido em um espaço de tempo muito curto e adaptado para ser lançada de um avião”, afirmou Jon Baker, curador do Museu da Aviação de Londres. “Ela é um bom exemplo de como a indústria consegue se superar em tempos de guerra”.

Esta foi a história da FlyingFlea, uma pequena motocicleta, mas que desempenhou um enorme papel na história da II Guerra Mundial e que contribuiu para que o mundo conseguisse se livrar do pesadelo nazista.

(*) Esta reportagem baseou-se em um texto publicado no site Top Gear (www.topgear.com), de 11 de maio de 2020