O turismólogo Leandro Bazotti percorreu toda a América do Sul a bordo de uma Yamaha Ténéré 250. Confira os melhores momentos de uma aventura pelas regiões mais inóspitas e desconhecidas do mundo

TEXTO E FOTOS: LEANDRO BAZOTTI

Quem já não pensou em largar tudo e aventurar-se pelo mundo afora, desbravando novos horizontes, conhecendo outras culturas, sabores e cores, subindo cordilheiras nevadas e vulcões ativos, caminhando por lagunas e glaciares e banhando-se nas mais altas cachoeiras?

Sou um aventureiro nato e me dedico a desbravar as belezas da natureza de forma intensa há mais de duas décadas. Realizei, ao longo de 2018, outro de meus audaciosos projetos – desta vez, terminando de percorrer, de moto, a América do Sul, de ponta a ponta, pela parte norte do continente. Durante dez meses, percorri 32 mil km através de seis países, superando muitas dificuldades ao longo do caminho, e cheguei a mais de 5 mil metros de altitude (na maior parte do tempo, por estradas alternativas, não pavimentadas, longe de qualquer suporte externo e sozinho).

Gostaria de compartilhar, aqui, um pouco do que foi essa incrível viagem de motocicleta a bordo de uma Yamaha SuperTénéré 250, ano 2011. Dos 32 mil km rodados, 16 mil foram por todos os tipos de terreno, percorrendo lugares remotos e sem nenhum tipo de recurso por perto. Em média, desembolsei cerca de US$ 15,00 por dia de gasto total (para mim e para a moto).

A VIAGEM

Saí de Porto Alegre, peguei a Ruta de Las Altas Cumbres, em Córdoba, e cheguei a Mendoza. Então, segui para Uspallata, Pampa do Leãozito, Cuesta de Zapata, Tolar Grande, Salar do Hombre Muerto, Passo Sico, Deserto do Atacama e Passo Hito Cajon pelas Lagunas da Reserva Eduardo Alvaroa, até o Salar de Uyuni. A partir deste ponto, subi a Bolívia de norte a sul, fazendo zigue e zague durante dois meses.

Enfrentei a falta de combustível e água, mas encarei os caminhos mais alucinantes, perigosos e isolados que já percorri, cruzando por todo tipo de paisagens, ambientes e culturas possíveis e imagináveis, sempre priorizando os Parques Nacionais e Reservas Ecológicas, até a Tríplice Fronteira entre Bolívia, Brasil e Peru, onde segui por quase três meses na batida do puro off-road, passando por locais exuberantes, como: Laraos, Cañon Cañete, Yantac, Oyon, Cordilheira Branca, Cañon Del Pato, Chachapoyas e, também, por outros locais pouco frequentados ou conhecidos, sempre pela crista da Cordilheira dos Andes, por lugares a mais de 5 mil metros de altitude e um pouco de floresta amazônica, com nuvens de insetos e atoleiros, até entrar no Equador, onde fiz toda Rota dos Vulcões e Amazônia. Isto me permitiu conhecer suas principais cidades, sempre que possível, por caminhos não pavimentados, para, então, chegar a Colômbia, a “cereja do bolo”.

Por quase dois meses, fiz um circuito em forma de “8”, passando por todo tipo de estradas, regiões, climas, ambientes e, claro, lindas paisagens. Uma riqueza de cultura e costumes! Por exemplo: Punta Gallinas, Tayrona, Islã Baru no Caribe, Pedra de Guatape, Santuário de Las Lajas, El Eje Cafeteiro, Salento, Vulcão Totumo, Deserto da Tatacoa, San Gil, Hacienda Napole e Tranpolin de La Muerte, entre muitos outros locais e cidades, sendo que o retorno foi todo feito pela Costa do Pacífico, passando pelo Oásis de Ica e pelas linhas de Nazca, até o Chile, terminando com a mão do deserto e voltando pelo Passo de Jama.

CURIOSIDADES E DESAFIOS

Ao longo do caminho, escalei montanhas e vulcões nos Andes, andei de barco no meio da Amazônia, de jet ski no Caribe, de 4×4 nas Dunas, voei de drone sobre diversos tipos de paisagens, mergulhei em rios multicoloridos, me banhei em cachoeiras gigantescas pendurado por cordas, caminhei acampando por dias no meio de vales, florestas e montanhas, até chegar às Ruinas Incas, escondidas de tudo e de todos. Também explorei cavernas, passando horas no subterrâneo, conheci parques jurássicos e finquei a bandeira em todos os países pelos quais passei. E, além disso, conheci pessoas incríveis e tomei contato com suas respectivas culturas: provei pratos e bebidas típicas, compartilhei muitos aprendizados e recebi ensinamentos ancestrais da Pacha Mama, com suas distintas tribos.

Perdi a conta das vezes nas quais caí com a moto em todo tipo de terreno, geralmente em baixa velocidade e por desatenção, enquanto admirava as belezas naturais à minha volta – nunca por imprudência ou imperícia. Na reserva Eduardo Alvaroa, por exemplo, não houve nenhum tombo. Os acidentes foram sempre sem gravidade, mas poderia ter me arrebentado várias vezes, pois este tipo de estrada não é brincadeira. Ainda mais quando se está sozinho no meio do nada, perdido nas montanhas, desertos ou salares. Porém, quando optei por este estilo de viagem, já sabia dos riscos envolvidos. Tive poucos problemas mecânicos com a moto.

Quase sempre cozinhei tudo o que comi, seja no café da manhã, almoço ou janta, e acampei, na maioria das vezes (seja na barraca, na rede ou apenas com o saco de dormir, mesmo a 5 mil metros de altura, com temperaturas abaixo de zero, que congelavam o motor logo cedo; ou então, em alguma casa ou teto abandonado na beira dos caminhos que utilizava como refúgio, pois, na motocicleta, eu levava o necessário para estar autossuficiente em qualquer tipo de situação).

FIM DA JORNADA

Com esta viagem pelo norte do continente, chegando ao seu ponto mais setentrional (Punta Gallinas, na Colômbia), terminei o projeto de percorrer toda a América do Sul em cima de uma moto. Para ter sucesso na vida, é preciso realizar escolhas e abdicar de muitas coisas, como conforto e segurança, ou a presença da família e dos amigos. Afinal, tudo tem seu preço e as coisas mais incríveis não podem ser adquiridas apenas com dinheiro, e sim, com muito sacrifício. Mas, no fim, tudo compensa, pois são muitos os ensinamentos que a estrada nos oferece, assim como as oportunidades de compartilhar as experiências adquiridas. Saia de sua zona de conforto e realize os seus sonhos!

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