Saindo de Porto Alegre (RS), seis amigos desbravaram as terras geladas da Islândia a bordo de motocicletas BMW

TEXTO: CLAUDIO SPALTER E GUILHERME DERRICO

FOTOS: CLAUDIO SPALTER

Claudio Spalter, leitor de Moto Adventure, decidiu chamar alguns amigos para realizar uma façanha: conhecer a Islândia e, ao mesmo tempo, rodar de moto por aquela região gelada. “Saímos de Porto Alegre e, após várias escalas e horas de voo, chegamos a Reykjavík, capital da Islândia – ‘Iceland’ como se diz por lá, ou seja, terra do gelo. Nosso destino: a própria Reykjavík, após fazer a volta por toda a ilha”, conta o motociclista.

O ponto de encontro dos motociclistas foi o Aeroporto de Porto Alegre, onde se iniciou a longa jornada. “Alugamos as seis motos na Biking Viking Motorcycle Tours (meses antes, pela internet), todas da BMW, sendo duas F800 GS, duas F700 GS e duas G650 Sertão”. Os seis membros da expedição rodam juntos desde 2008 e integram o grupo Guaipeca Bikers (www.guaipecabikers.com.br): Alexandre Moreschi, Artur Cavalcanti, Claudio Spalter, José Ricardo Guimarães, José Roque Guimarães e Mauro Nectoux. A seguir, confira o relato completo da jornada, nas palavras de Claudio Spalter.

ROTEIRO

No primeiro dia, saímos do inverno de Porto Alegre para curtir um verão no Hemisfério Norte, poucos quilômetros abaixo do Círculo Polar Ártico. Chegamos sob um céu cinzento, com chuva fina e cortante e um “frio de rachar o bico”. No segundo dia, rodamos ao redor de Reykjavík. Pegamos as motos sob chuva e frio e fomos para o Sul conhecer os arredores da região.

“Congelamos” ao subir a montanha para conhecer cavernas vulcânicas. Depois, visitamos a bela Blue Lagoon e rumamos para Grindavík, Sandvik e Hafnir, vilarejos que proporcionam ótimas fotos. Na mesma data, estivemos na fenda entre as placas tectônicas norte-americana e euroasiática. Elas deslizam 2 cm por ano e são a origem e o motivo da existência da ilha. Quando se aproximam, provocam terremotos.

No terceiro dia, pilotamos de Reykjavic a Vik. Palavras não são suficientes para descrever o fascínio provocado pelo contraste entre a terra e o céu. Ao longo do caminho, avistamos falhas geológicas, a cachoeira de Gullfoss e o famoso vulcão de Eyjafjallajökull, que entrou em erupção em 2010 e causou uma paralisação generalizada do transporte aéreo europeu, além de gerar uma espécie de “efeito dominó” em todo o mundo.

No quarto dia, rodamos de Vik a Hofn. Acordamos debaixo de chuva e céu baixo. A visibilidade era péssima e não havia previsão de melhora no tempo. Pelas janelas da pousada, vimos o que estávamos perdendo: praia de areia negra e rochedos que pareciam ter sido esculpidos à mão. Decidimos rodar assim mesmo e, antes de deixarmos a cidade, o pneu dianteiro da minha moto murchou. Encontramos um “faz-tudo” local que resolveu o problema e, com o pneu consertado, voltamos à chuva. Uma hora depois, a água começou a diminuir e pudemos visitar uma das maiores geleiras do mundo – e a maior da Europa (ocupa 1/5 do território da Islândia). Durante quase toda a viagem, que percorreu mais de 200 km, visualizamos as facetas desta geleira. Impressionante!

No quinto dia, saímos de Hofn e demos início a um percurso inesquecível. Costeando o mar, por uma estrada feita para o deslumbre dos pilotos, avistamos lindas paisagens naturais. Almoçamos em Djupivogur e encerramos o dia descendo para Seydisfjördur pela estrada que Walter Mitty percorre de skate no filme “A Vida Secreta de Walter Mitty”.

No dia seguinte, subimos de volta para a estrada de Walter Mitty sob neblina pesada, com visibilidade zero, e aceleramos pelas montanhas lunares do norte islandês. Também passamos pelos fiordes, falésias e territórios vulcânicos da Costa Norte da Ilha e vimos o Oceano Ártico. Fizemos, ainda, um belo off-road por estradas de terra vulcânica. Já no sétimo dia, o caminho percorrido foi de Reykjahilo a Akureyri. Encaramos uma forte chuva, mas o sol se afirmou com toda a sua exuberância no final do dia. Subimos um vulcão, passeamos por um rio de lava seco, descemos por cavernas vulcânicas de água cristalinas e rodeamos um lago com pequenos vulcões em seu interior. O ponto alto desta etapa da viagem foi um passeio de moto costeando fiordes e lagos vulcânicos, até Dalvik.  Por fim, nos hospedamos em um excelente hotel em Akureyri, a capital do norte islandês.

No oitavo dia, rodamos 560 km pela região mais despovoada da Islândia, sob neblina fechada e chuva e um frio que variava entre 3 e 5 graus. Aliado a um vento Ártico, de empurrar a moto para fora da estrada, a sensação térmica era de gelar os ossos. Além disso, enfrentamos estradas de rípio sem acostamento, molhadas e à beira de precipícios. O visual ficou em segundo plano, já que precisávamos nos focar na estrada.

No dia seguinte, cruzamos de Isafjordur a Flokalundur. O tempo estava nublado, e o frio, ameno (10 graus). Saindo de Isafjordur, atravessamos passos gelados e tomamos um café em um bistrô parado no tempo, em Kingeyri. Depois circundamos fiordes no rípio e almoçamos em Bíldudalur. Passamos por Patreksfjordur, avistamos uma praia de areia branca e acabamos o dia em uma piscina natural à beira da estrada, com água a mais de 45 graus. Tudo isso ao lado do Hotel Flokalundur. Notamos que o pneu consertado alguns dias antes estava murcho, mas este problema seria resolvido nas próximas horas.

No décimo dia, um guincho veio até nós de Patreksfjordur, distante 60 km, e levou a mim e à moto. Após a troca do pneu, voltei rodando debaixo de chuva para o hotel. Em seguida, viajamos pelos mesmos fiordes e montanhas, mas visualizando coisas muito diferentes. Foi um dia de rípio e lama. Completamos o anel da Islândia no dia seguinte, sob um clima ensolarado. Pena que a jornada estava chegando ao fim…

No décimo segundo (e último) dia, pilotamos de volta a Reykjavíc. Devolvemos as motos alugadas e Zé Roque até beijou a sua, grato pelo saldo da jornada. Aproveitamos a resto do dia para conhecermos alguns cantos desta bela cidade em desenvolvimento e para fazer compras. O Harpa, a cidade antiga, a costa, a catedral, a prefeitura e os bairros com casas antigas. Encerramos o dia em um restaurante que funciona em uma das construções mais antigas da cidade (Cód Físh Fresco) – simplesmente divino!

Além de nos proporcionar belas paisagens e alguns desafios, esta saga serviu para intensificar ainda mais nossa amizade e reafirmar nossa paixão pelo motociclismo. Que venham as próximas aventuras!

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