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Quatro amigos encaram 26 dias de estrada e mais de 10 mil km, percorrendo as principais estradas da Argentina e do Chile, enfrentando frio, chuva, neblina e o tradicional rípio em busca das belezas que estes países reservam.

Nossa viagem começou no dia 17/04/2019, uma quarta-feira nublada com aquela garoa típica de São Paulo. O grupo formado por Gilberto Azambuja (Honda X-ADV 750), Fernandes “Patrão” (Suzuki V-Strom 650), Uyrailson “Piru” (BMW GS 800) e Marcos “Piu” (Triumph Tiger 800) saiu da Zona Oeste da capital paulista às 6h da manhã com destino à Erechim (RS), a 880 km de SP. Primeiro dia como de praxe de puro deslocamento.

Começamos o segundo dia também bem cedo, pois nosso objetivo era alcançar a fronteira com a Argentina, por São Borja, e após mais 840 km de deslocamento, dormimos em Termas de Chajarí. Como nosso “desayuno” só sairia às 9h, resolvemos tomar o café na estrada e neste terceiro dia, nosso almoço foi em um lugar, no mínimo, estranho: só tinha um casal lá e um senhor atendendo. Parecia um local fantasma. Chegamos numa cidade de nome estranho (Pehujaó) após 770 km, com um lindo por do sol descendo sobre nossas motos.

Deixamos Pehujaó em direção a Santa Rosa tendo 251 km pela frente e como a distância era curta neste dia, chegamos cedo ao nosso destino (por volta das 13h), então, aproveitamos para dar um trato nas motocas e descansar curtindo esta cidade bacana, de bons restaurantes e lojas bem equipadas para peças e assessórios para motos.

Já em território patagônico, rumamos em direção a Neuquén, a pouco mais de 560 km. Em dia de viagem tranquila, o frio começava a dar suas caras, impulsionado por um vento moderado – geralmente aqui as motos andam inclinadas por causa dele. No sexto dia, saímos de Neuquén tendo San Martin de Los Andes em nosso norte. Após 300 km paramos para abastecer e encontramos um grupo de motociclistas de Minas Gerais que já estava voltando do mesmo trajeto que ainda teríamos pela frente, reclamando bastante do frio e da chuva.

Rípio, frio, chuva…

E eles estavam certos! Nosso sétimo dia de viagem amanheceu com os termômetros marcando 4°C e foi sob esta temperatura que saímos em direção a Bariloche. Já na famosa Ruta 40, fizemos o trecho conhecido como Ruta dos 7 Lagos, um roteiro incrivelmente lindo, mas sob o frio da primavera patagônica, que registrava – 4°C em nossos termômetros. Era tanto frio que tive que parar por duas vezes para aquecer as mãos no escapamento, mas as belezas ao longo de 200 km nos proporcionaram lindas imagens e lembranças.

Nosso destino no oitavo dia de jornada foi Gobernador Costa, na mais pura essência da Ruta 40: deserto patagônico, plano com retas sem fim… Demais!

Em nosso nono dia de viagem iniciaríamos nossa despedida da Argentina e começaríamos a segunda etapa da viagem. Até agora, só havíamos pegado tempo bom mas… Seguimos até Perito Moreno, rodando neste dia 365 km de uma vagem tranquila, porém, com muita atenção devido aos animais silvestres cruzando a pista.

No décimo dia de viagem entramos nos Chile e apesar do trajeto curto  (apenas 260 km) pilotamos boa parte do trajeto pelo rípio. Cruzamos a Cordilheira pelo Passo de Chile-Chico, às margens do lago Gal. Carrera. Simplesmente fantástico. Em Puerto Rio Tranquilo ingressamos na tão emblemática Ruta 7, a famosa Carretera Austral!

Nossa sorte com o tempo bom encerrou-se no 11o dia de viagem. Acordamos com o tempo bem ruim, chovendo bastante e como isso iria complicar nossa visita às Capilas de Marmon, decidimos tirar o nosso dia de descanso merecido.

No dia seguinte, fomos fazer a visita de barco às Capilas (vale muito o passeio) e assim que retornamos seguimos para Coyhaique, a 220 km. Começava neste momento nosso maior desafio para os próximos dias: ripio, chuva, neve e frio. 

O 13o dia amanheceu bom mas logo o tempo virou e começou a chover e foi assim que chegamos ao Parque Quelat para visitar o Ventisqueiro Colgante, um glacial suspenso com uma grande e imponente cachoeira, algo inusitado e único. Ao final de 240 km, chegamos a Puyuhuapi, uma linda cidadezinha às margens dos fiordes do Pacífico.

No dia seguinte, saímos às 4h30 de nossas cabanas, pois tínhamos duas travessias de balsa neste dia: a primeira de 40 minutos e outra de 6 horas, no sentido a Hornopirén e este foi, com certeza, nosso maior desafio: pilotar ainda no escuro e no rípio sob frio intenso, neblina e chuva.

Em nosso 15o dia o destino inicial seria Pucón, a 495 km, porém, as condições do clima interromperam uma nova travessia de balsa a somente 48 km da cidade. Tivemos que achar uma hospedaria onde aproveitamos o dia para secar nossas roupas encharcadas. Para nossa sorte, o dia seguinte amanheceu sem chuva. Arrumamos nossas coisas e partimos em direção à balsa na esperança dela estar funcionando. E estava!

Queríamos escalar o vulcão Villa Rica, em Pucón, a 455km, porém com tempo ruim as agencias cancelaram todas as expedições.

Ainda com tempo oscilando entre sol e chuva, em nosso 17o dia seguimos em direção a Los Angeles, a 280km, já ingressando na Ruta 5 ou Ruta Panamericana!

Depois destas aventuras, seguimos para a capital, Santiago. Saímos do hostel tarde, às 11h, esperando a chuva parar. Já sem chuva, conseguimos fazer uma média boa e rodamos 530 km em quase 6 horas, chegando a Santiago para uma noite de turismo e boa comida no Costanera.

Em nosso 19o e último dia no Chile, acordamos cedo e nos preparamos para sair. O tempo estava estável, nada de chuva e nem tão frio. Seguimos viagem até Mendoza, a 365 km, onde curtimos “Los Caracoles”, este maravilhoso trecho conhecido pelas lindas e perigosas curvas do seu trajeto. A estrada é considerada por muitos como uma das mais lindas do planeta!

A partir deste momento, iniciou-se nosso deslocamento de retorno. Rio Cuarto, Santa Fé, San Salvador, Gobernador Virasoro em trechos bons, trechos ruins, mais um pouco de chuva, mas isso faz parte de uma viagem como esta.

Saímos de Gobernador Virasoro cedo em direção à Foz do Iguaçu. Trajeto de média distancia, 380km, afinal queríamos chegar cedo em Foz para dar uma passadinha no Paraguai. E assim fizemos, chegamos meio dia, nos trocamos e fomos.

Após 26 dias de estrada e 10.485 km, concluímos a nossa viagem. Foi uma aventura recheada de emoções, onde passamos por lugares inóspitos e enfrentamos condições hostis, mas vivemos dias inesquecíveis. Com certeza foi a nossa viagem mais difícil.

A Carretera Austral não permite vacilos e com tempo ruim, se torna mais complicada ainda. Acredito que em torno de 5 anos ela esteja completamente asfaltada, facilitando muito sua jornada e nos deixando mais livres para apreciar sua beleza, mas roubando muito do brilho que a torna uma conquista.

A chuva nos acompanhou por grande parte desta viagem, momentos de muito frio e breves rompantes de ventos, típicos da Patagônia. Perdemos alguns pontos principais da nossa aventura por causa disso, infelizmente, então, o jeito será programar uma outra!