Aproveite este roteiro repleto de belezas naturais e forte apelo cultural pela região de Joinville (SC), que evoca época do império brasileiro

TEXTO E FOTOS: TRINITY RONZELLA

O ano é 1843. As terras onde se encontra hoje a cidade catarinense de Joinville foram incluídas como dote de casamento entre o príncipe de Joinville e almirante francês Francisco Fernando Filipe Luís Maria d’ Orleães, e a princesa Francisca Carolina, irmã de D. Pedro II. Ambos moravam na Europa e, com a Revolução Francesa de 1848, e as dificuldades financeiras que dela advieram, eles venderam as terras recebidas como dote para a Sociedade Colonizadora de Hamburgo, ao Senador Christian Mathias Schoroeder (guarde esse sobrenome).

Com o projeto de colonização em andamento, a região que recebia os imigrantes inicialmente se chamou “Colônia D. Francisca”, em homenagem à princesa brasileira. Posteriormente seu nome foi mudado para Joinville,denominação de uma cidade francesa onde nasceu François Ferdinand, o príncipe de Joinville. O local, mesmo não tendo clima, solo e relevo ideais, prosperou e deu origem, em 1870,à colônia de São Bento do Sul. A predominância alemã é nítida na região,que também recebeu influência de italianos, suíços, húngaros, tchecos, ucranianos, noruegueses, poloneses e japoneses, o que proporciona uma variedade cultural e de costumes que fazem um dos diferenciais do passeio.

Por onde começar

Pois é exatamente nessa região que está o Roteiro dos Príncipes, nossa sugestão do mês. Esse passeio deve ser feito de maneira que permita ao visitante conhecer um pouco a região. O ideal é percorrer, entre quatro e sete dias, a partir de Garuva, sem pressa, para aproveitar bem o que está por vir. Todo o percurso tem riquíssimo conteúdo paisagístico, histórico e cultural, com particularidades em cada cidade pela qual se passa. Tomamos como ponto de partida a cidade de Garuva, já em Santa Catarina, a aproximadamente 90 km ao sul de Curitiba (PR), na direção de Joinville. Lá, o ponto que mais nos chamou a atenção foi a “Ponte Invertida”,uma construção sob as águas cristalinas do Rio São João que permite a passagem para carros e motos de uma margem a outra. Além de muito divertido e render belas imagens, é uma situação ímpar!Detalhe: acesso por estrada de terra.

A próxima parada, com muitas atividades de esportes como trekking, canoagem, kit e surf, rapel, entre outros, está a aproximadamente 46 km: Itapoá. A rodovia SC-415 leva diretamente à beira-mar, já na cidade. É só seguir para a direita e passar por dentro da cidade até chegar ao Farol de Itapoá, para, depois, chegar à balsa que cruza a Baía de Babitonga (+21 km), com destino a São Francisco do Sul. Esse trecho garante boas fotos e uma particularidade: a balsa tem horário fixo para ir e voltar, a cada duas horas. A travessia é uma atração à parte!Programe-se para o final do dia, pois como leva uma hora para cruzar, a paisagem é incrível! Feita a travessia, é só seguir para o centro de São Francisco do Sul, rodando mais 9 km.

Em São Francisco existem vários lugares que merecem uma visita, dentre eles o centro histórico e, também, o Forte Marechal Luz. Para seguir para Araquari com mais emoção, pode-se seguir para o Parque Estadual Acaraí, na Avenida das Dunas (trecho pela costa de 20 km sem asfalto e mais 40 km asfaltado) que a paisagem vale a pena, ou, voltar pelo asfalto até Araquari (30 km).

Encontro do rio com o mar

Araquari será breve, apenas para passar no centro da cidade e dar uma olhada na Maria Fumaça ali exposta. Depois, siga para a rodovia novamente, para o Balneário Barra do Sul (17 km), onde o encontro do Canal do Linguado com o Oceano Atlântico é um dos atrativos.Para seguir em frente, para São João do Itaperiú, existem duas opções: voltar para Araquari e só pegar asfalto (60 km) ou encarar 20 km de estrada não pavimentada nível “leve”, com mais 16 km de asfalto, para chegar à cidade que, uma vez ao ano, faz uma fogueira muito famosa de 30 metros de altura na festa junina.

Na sequência estarão Massaranduba e Guaramirim (32 + 19 km). Passe pelo centro dessas cidades, para conhecê-las, e siga para Schroeder, por mais 31 km de asfalto.Com o nome em homenagem ao senador que comprou as terras da Princesa Francisca Carolina, Schroeder é uma cidade aconchegante. Reserva um alambique que vale a visita e o papo com os proprietários, Evanilda Mansche e Siegfried Voigt. Super receptivos, eles mostram todo o processo de produção (da moenda da cana até fechar a garrafa) com muito entusiasmo, a ponto de se perder no tempo.Vale a parada antes de seguir o caminho para Jaraguá do Sul, mais 25 km por outro caminho, diferente da chegada.

Comida alemã

Jaraguá do Sul é uma cidade maior, mais estruturada e com alguns atrativos, o que pode exigir mais tempo. O Parque Malwee merece atenção. Trata-se de um lugar completo, que merece ser conhecido. Conta com museu, restaurantes e outros atrativos, como um labirinto de plantas, por exemplo, e vários lagos. O craque do futsal Falcão morou um tempo na cidade e ajudou a promover algumas mudanças, como o estádio local.

Seguindo o caminho por 20 km, o próximo destino é Corupá, onde o Seminário Sagrado Coração de Jesus, independentemente da religião, vale ser conhecido e fotografado. E continuamos na estrada para encarar mais 45 km e chegar à simpática Rio Negrinho, com sua famosa Maria Fumaça e o avião em frente à biblioteca.

Em seguida, somando 20 km, está São Bento do Sul, com seus casarios e restaurantes típicos alemães, além do museu histórico e a igreja da cidade, cuja escadaria, vista de frente é uma obra de arte. Campo Alegre, a “capital catarinense da ovelha”, está 23 km após São Bento e dispõe de atrativos bastante interessantes, como a Cascata Paraíso (uma caminhada curta que vale o visual) e o Calçadão da Cascatinha, além da arquitetura típica alemã, doceria e produtos artesanais. Uma cachoeira no meio da cidade? É aqui!

Após Campo Alegre vem a Serra D. Francisca, que, famosa por suas curvas e paisagens, é destino de muitos motociclistas da região nos finais de semana.Vá com calma, aproveite o visual e as curvas, pois o trecho é curto até chegar à BR 101 novamente, e siga para a última cidade do roteiro, Joinville, após aproximadamente 60 km.

Teatro Bolshoi

Joinville tem um grande número de atrativos e curiosidades, além da foto tradicional no portal da cidade, tem também o museu do Ferro de Passar, criado por um colecionador de antiguidades, uma maneira diferente de contar a história da humanidade pela óptica do desenvolvimento da indústria e tecnologia. Outro atrativo que funciona desde março de 2000, é a escola do Teatro Bolshoi, que oferece 100% de bolsas de estudo aos alunos vindos de todo o Brasil, que passam pela seleção anual.

Para agradar o Príncipe Francisco, foi criada a rua das Palmeiras, junto com a construção da “Maison Joinville”, que chegou a ser irrigada com água do mar, trazida diariamente pelo vapor Babitonga, na década de 1880! Enfim, Joinville é uma cidade muito agradável que deve ser conhecida com mais tempo, pois a riqueza de detalhes e história, é muito interessante!

Esse roteiro é muito agradável e pede para ser feito com calma, aproveitando o astral das cidades e da população. Mantenha a atenção na estrada, experimente as comidas típicas, conheça a cultura, aprecie a paisagem, interaja com as pessoas e tire fotos. Quando voltar, perceberá que foi uma viagem riquíssima e bem aproveitada, perfeita para ser realizada com garupa.

Dicas:

– Entre no site: http://turismo.sc.gov.br/destinos/caminhos-dos-principes/. Lá estão todas as informações necessárias do roteiro.

– Sempre preste muita atenção nas estradas, os animais perambulam livremente.

– Se optar em fazer os trechos de estrada não pavimentada, vá devagar, pois podem surgir “manchas” de areia pelo percurso, mas o visual compensa!

– No roteiro todo, entre idas e vindas, rodamos aproximadamente 600 km a partir de Garuva e terminando em Joinville.Não divida sua viagem por quilometragem, e sim, por luz. Quando estiver chegando o final de tarde, é hora de procurar onde se hospedar para aproveitar, com tempo, um pouco da cidade escolhida.

– Em Schroeder, a Pousada Garcia é um oásis!

– Em todo o roteiro você terá a opção de conhecer o artesanato variado e os pratos típicos da região, portanto, aproveite!

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