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Embora sejam a solução ideal para os deslocamentos urbanos, os scooters têm pontos fracos que precisam ser levados em consideração durante o processo de decisão de compra.

O Brasil sempre teve uma péssima reputação quanto à sua capacidade de oferecer transporte público de qualidade, principalmente aos cidadãos que moram nos grandes centros, mas por incrível que pareça, foi somente na última década que os scooters passaram a ser vistos como uma opção aos nossos deslocamentos cotidianos.

Durante muitos anos, a própria indústria desconsiderou o potencial dos scooters para desempenharem este papel alternativo, entretanto, nos últimos dez anos estes veículos passaram a ser adotados por mais e mais pessoas em busca de mais qualidade de vida e com isso, as marcas instaladas por aqui passaram gradativamente a ampliar a oferta de modelos disponíveis.

Somente em 2019 foram comercializados quase 100 mil novos scooters (96.577, segundo dados da Abraciclo), o maior crescimento de vendas em relação a 2018 entre todos os segmentos de duas rodas, representando um incremento de 43,8%; hoje existem 5 marcas diferentes brigando pelo mercado, que oferecem 14 modelos, de pequenas 125 a versões equipadas com potentes motores de 750 cm3 e muita eletrônica embarcada.

Born tobeurban

Os primeiros scooterssurgiram na Europa para serem veículos voltados a pequenos deslocamentos urbanos. Sua concepção ciclística foi desenvolvida para rodarem em vias pavimentadas, oferecendo o máximo de comodidade ao seu condutor (os primeiros tinham até estepe!)

Com o passar do tempo e com o consequente avanço da tecnologia, os scooters foram se tornando cada vez mais sofisticados, oferecendo elementos alinhados com o estilo de vida de seu público-alvo, formado em boa parte por gente que buscava uma alternativa aos carros e também, por quem já tinha uma moto maior e queria deslocar-se de forma mais racional, porém, sem recorrer às motos de baixa cilindrada e acabar sendo confundido por motoboy.

Assim, elementos como conjunto óptico em LED, tomada 12V, freios ABS, sistema Start-Stop, computador de bordo e até mesmo controle de tração passaram a equipar estes veículos, oferecendo não somente ampliação à segurança de seus condutores, como também, um reforço no apelo estético e tecnológico, já que tais itens em muitos casos são decisivos no momento da compra.

Mas além da tecnologia, outro atrativo tão relevante quanto isso são seus elementos de comodidade e conforto. Bagageiro sob o assento, porta-luvas, câmbio automático CVT (que dispensa a necessidade de trocar marchas), leveza e pequenas dimensões que resultam em facilidade de condução, assoalho que protege os pés e os mantém longe da água e detritos e em alguns casos, alça para transportar bolsas e sacolas, são elementos que têm feito não somente com que o scooter consolide-se como o modal mais adequado para quem vive e precisa deslocar-se em uma cidade grande, mas também, por conquistar um público que sempre esteve distante do mundo das duas rodas: as mulheres.

Nem tudo é perfeito

Durante toda minha vida de motociclista – e lá se vão muitos anos – eu confesso que nutri durante vários anos um certo preconceito contra os scooters, pois em minha imaturidade, achava este veículo muito feminino, não combinando com a minha “macheza”. Mas eu não poderia estar mais enganado!

Após avaliar um para uma reportagem em 2012, encantei-me com todos os seus predicados e naquele momento, fui picado pelo bichinho: ao devolvê-lo, tinha a mais absoluta certeza de que não queria mais continuar andando de moto. Pouco tempo depois, coloquei à venda minha Honda XR 250 Tornado, adquirindo na sequência, um scooter.

E não me arrependo em nenhum momento de ter trocado uma moto de 250cm3 por outra de 160 cm3, afinal, graças a meu scooter eu abandonei a mochila. Hoje, além da capa de chuva que fica constantemente sob o assento, consigo transportar com facilidade e segurança compras de supermercado, feira ou sacolão (meu scooter tem ainda um baú de 35 litros na traseira), não preciso mais ficar trocando marchas no trânsito caótico de São Paulo, meus pés não se molham mais quando passo em poças ou mesmo em situações de chuva leve e ainda consigo recarregar o meu celular enquanto o utilizo como navegador. Sem contar que, de scooter eu ando muito menos preocupado com os malas.

Entretanto, nem tudo é perfeito! Como falamos anteriormente, scooters surgiram para o ambiente urbano e sua geometria e ciclística (suspensões e rodas), não foram pensadas para encarar a buraqueira de uma cidade como São Paulo. Por ser pilotado sentado e não montado, nossos joelhos não exercem um trabalho auxiliar de amortecimento e isso, associado ao fato de os amortecedores traseiros muitas vezes serem projetados na direção da lombar, acaba judiando das costas dos seus ocupantes.

Um grande amigo meu, o Renan Bernardes, não ficou um mês com o PCX 150 2014 que comprou. O problema é que ele sempre andou de big trail e estava acostumado a engolir buracos e a desprezar lombadas e quando percebeu que não dava para imprimir a mesma tocada no PCX, o colocou à venda. “Não gostei”, argumentou curto e grosso.

Rodas de dimensões menores que das motos também sofrem mais no enfrentamento dos buracos e o câmbio automático não oferece retomadas como nas motos de câmbio convencional, o que exige mais atenção no momento de calcular uma ultrapassagem, principalmente se você vai pegar a estrada, como tenho feito desde que comprei o meu.

Por fim, a manutenção de um scooter, quando comparada a de uma moto é bem mais cara. Recentemente tive de trocar a relação do meu. Quando fazia a troca deste item na Tornado (corrente, coroa e pinhão) gastava algo em torno de R$ 350 e 400, colocando peças originais (naquela época, inclusa a mão-de-obra) e imaginava que passaria a gastar algo em torno do que se gasta em uma moto pequena (em torno de R$ 300), mas a conta foi muito além e passou dos R$ 600, incluindo mão-de-obra.

Retífica de um motor de scooter também é muito cara quando comparada com a de uma moto de 160cm3 por ser refrigerado a líquido, mas essa ainda não é a grande diferença. Um rolinha besta com uma moto pequena quebra, no máximo, um manete, um pisca e um espelho retrovisor e pode ser sanado com R$ 200. Num scooter, esta mesma situação pode arrancar pelo menos mil reais do teu bolso, uma vez que neste caso, o que vai para o espaço são as carenagens, podendo danificar até mesmo o farol – além do espelho e do manete – e estamos falando aqui de um scooter de baixa cilindrada, ok?

Apesar de não restarem dúvidas quanto à sua capacidade de oferecer a melhor resposta ao trânsito urbano, antes de adquirir um scooter é bom ter consciência de que ele é bom, mas não perfeito.