Serra da Paulista, entre os estados de SP e MG, é um roteiro pouco conhecido, mas que oferece opções de pilotagem agradável, por estradas totalmente asfaltadas, em meio a paisagens bucólicas e boas opções de gastronomia

Texto e fotos: Trinity Ronzella

 

Serra do Deus Me Livre

Existem inúmeros lugares espalhados por esse país que merecem ser visitados, mas que são pouco conhecidos e divulgados. Um deles é a Serra da Paulista, situada na divisa dos estados de São Paulo e Minas Gerais. Moto Adventure, sempre em busca de pontos exóticos para rodar e informar a seus leitores, fez um roteiro pela região.

Diz a lenda que são muitos os mistérios associados a essa serra. Uma delas diz que, em determinado trecho em descida, qualquer veículo, ao ser desligado e desengatado, sobem de ré! Cada versão explica do jeito que entende….uns dizem que é coisa de um velho índio morador do Morro do Deus Me Livre que, quando vinha a uma antiga venda, se cansava muito, então ele fez uma pajelança e inverteu a subida para descida!Outros dizem que “Não é de Deus”. E os mais céticos que não passa de magnetismo devido à grande quantidade de minério nessa terra….Outro folclore da região é sobre o “Corpo Seco”. Dizem que um homem que morreu por aqueles lados, não morreu e continua vagando por lá. Quando os carroceiros buscavam batatas e chovia forte, tinham que dormir por lá em algum sítio e, a noite, tinha de tudo, lobisomem, assombração, mula sem cabeça, saci-pererê e, adivinhe, o Corpo Seco.

Esse passeio foi especialmente preparado para quem busca estradas com pouco movimento, belas paisagens, muitas curvas e boa comida. Um ponto estratégico para seu início pode ser a cidade de Mogi Mirim (SP). O percurso completo a partir dessa cidade será de aproximadamente 180 quilômetros, ida e volta, por estradas diferentes. Essa sugestão vai tornar o passeio mais tranquilo e menos cansativo.

A sugestão de Moto Adventure é conciliar o passeio com o almoço no meio da Serra, comendo um joelho de porco especial! Esse roteiro é 100% asfaltado, ideal para levar garupa sem problemas, além de uma ótima oportunidade para um passeio em família.

Giro pelas “Mogis”

Se você chegou com tempo ao hotel, vale a pena dar um “giro” pelas cidades de Mogi Mirim e Mogi Guaçu. Informe-se por lá para percorrer a Estrada da Cachoeira, uma estrada curta que liga uma cidade à outra e tem bons restaurantes, especializados em peixe. Vale também conhecer a ponte de ferro em Mogi Guaçu, construída inicialmente para servir a Companhia Mogiana de Estrada de Ferro, em 1875, e que hoje está incorporada ao sistema viário urbano da cidade. No mais, é relaxar para começar o dia seguinte inteiro.

O roteiro

Saindo após o café da manhã, com calma, e curtindo a estrada, o horário vai dar certo para o almoço. Primeiramente, siga pela SP-340 em direção a Casa Branca. Em Mogi Guaçu, você já irá deixar essa rodovia e, em seguida, siga para Espírito Santo do Pinhal e Andradas, pela SP-342. Cuidado com os radares, pois a velocidade muda nesse trecho. Uma estrada dupla, muito bem conservada e com belas paisagens.

Em Espírito Santo do Pinhal, fundada em 1849, vale dar uma entrada para conhecer um pouco da cidade, que foi muito importante graças ao café, introduzido em 1849 na região. Devido a isso, criou-se um roteiro turístico batizado como “Nos Passos do Café”, que conta a história da cultura cafeeira na cidade vista por meio de seu patrimônio histórico. O roteiro conta com 26 pontos de visitação, incluindo o “Theatro Avenida”, cujo interior surpreende o visitante.

Saindo de Pinhal para Andradas, é só rodar por pista dupla até Santo Antonio do Jardim, 13 km à frente. Na rotatória, siga a placa para São João da Boa Vista, que apresenta apenas pistas simples por mais 23 km, até chegar à cidade. Uma estrada tranquila, que convida a pilotar devagar, apreciando o entorno. Chegando à civilização, se informe para seguir no sentido Águas da Prata (as placas não ajudam muito nesse trecho).

A partir da estrada, serão 22 km passando por Águas da Prata (cuidado para não atrapalhar o almoço com os bolos de milho, curau e pamonha!) e subindo a Serra da Mantiqueira até a rotatória, onde indicará, antes da divisa de estado, São Roque à esquerda. Nesse local dá para ver o portal (abandonado) da cidade de Poços de Caldas, mas resista! Entre à esquerda com cuidado.

A estrada ficou simples de novo e cheia de curvas, sem nenhum trecho plano. Mas ainda tem uma entrada que não pode passar despercebida! Fique atento: na chegada a São Roque, ainda na rodovia, após a primeira lombada, entre à esquerda com cuidado, passe em frente à igreja, vire a terceira à esquerda e siga. Agora é só curtir a estrada e o visual! Bem-vindo, você está na Serra da Paulista! Nesse trecho, bem sinuoso por sinal, as paisagens são incríveis! A ideia é ir tranquilo, passeando e apreciando cada metro.

A origem do nome

Dizem os historiadores que esta é uma das estradas mais antigas da cidade, que serviu inclusive para contrabando de ouro vindo das Minas Gerais com destino ao litoral, séculos atrás. O nome, Serra da Paulista, vem do fato de, há muito tempo, morar uma paulista muito bonita que virou referência, e os mineiros ao chegarem próximo costumavam dizer: “Estamos na Serra da Paulista”.

Atrativos

A estrada é toda sinuosa e nada plana. Por isso, vá tranquilo, aproveitando o visual que surge após cada curva! Não é difícil de encontrar um pessoal, digamos assim, mais “adrenado” descendo a serra em carrinhos de rolimã. Chega a dar vontade! Se tiver tempo e quiser tomar um banho de cachoeira, a Cachoeira do Mirante é aberta à visitação. Não está bem estruturada, mas um banho de cachoeira antes do almoço é muito bom. Tem uma pequena trilha até os pontos de banho. Leve roupa apropriada e divirta-se!

A próxima parada é para o almoço, saindo da cachoeira à direita, mais alguns metros à frente estará, à esquerda, o Bar e Restaurante Serra da Paulista. O prato típico do local é o joelho de porco, mas há outras opções. O local está ficando famoso na região e sempre tem movimento nos finais de semana. É hora de sentar, saborear uma ótima refeição e relaxar, para depois seguir de volta para casa.

O retorno, a partir do restaurante, não é difícil. Continue descendo a serra, que o levará até a Rua David de Carvalho, já em São João da Boa Vista. Ao final dela, entre à direita e, na rotatória, siga à esquerda do posto, indicações para Casa Branca. O final dela é na Rodovia SP-344 que, à direita vai para Vargem Grande do Sul e Casa Branca, e à esquerda, sentido Aguaí, Campinas e São Paulo.

Fique ligado!

Durante todo o roteiro existem radares, porém, na subida da serra de Águas da Prata, a velocidade é reduzida e, ao mesmo tempo, as curvas, convidativas. Controle-se! Em Espírito Santo do Pinhal, vale a pena entrar e dar uma volta pelo centro, mesmo que rapidamente, pois parte da história do café no Brasil foi escrita nessa cidade.

Águas da Prata é uma tentação. A Fonte Vilela, na entrada/saída da cidade, merece uma visita. Os macacos-prego fazem a festa do local e dá para levar umas delícias de milho para casa. Se pensar em tomar um banho de cachoeira, leve uma roupa mais “leve” para a caminhada até a cachoeira, assim ajuda a abrir o apetite.

A moto

Fizemos esse roteiro com a divertidíssima Ducati Hyperstrada. Essa motocicleta manteve a esportividade da Hypermotard, porém, com alguns detalhes voltados para o Touring. A combinação ficou ótima! A bolha mais alta e bolsas laterais fazem muita diferença. Rodamos aproximadamente 600 km com essa moto por estradas variadas e, além de respostas rápidas, passa muita segurança nas curvas. Realmente, uma opção bem interessante para quem quer uma moto versátil, que funciona tanto na cidade quanto na estrada.

Onde dormir:

Mogi Mirim: Portal Hotel. Rua Antonio Rossi nº 380. http://portalhotelmogimirim.com.br

Está às margens da rodovia, logo após a entrada da cidade.

Onde comer:

Mogi Guaçu: Restaurante do Amadeu, especializado em peixe. Fica às margens do Rio Mogi Guaçu e antes da ponte, na Rodovia SP-340.

Mogi Mirim: Restaurante Beira Rio. Rodovia Deputado Miguel Martini nº 271 – Cachoeira de Cima – Mogi Mirim.

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