Doze motociclistas foram ver o melhor do Mato Grosso do Sul, do melhor jeito: sobre duas rodas. Confira a aventura que durou sete dias e percorreu 3.500 km

Texto e Fotos: Trinity Ronzella

Mato Grosso do Sul

O trajeto dessa viagem foi criteriosamente traçado para mesclar trechos de on e off-road todos os dias. O nível do desafio era fácil e o roteiro de off priorizou estradas de terra com pouco movimento e de grande valor cênico. Foram sete dias de estradas, aproximadamente 3.500 km rodados, sendo 500 km de estradas de terra, 13 motos, 15 pessoas e um carro de apoio.

O roteiro foi feito para que motos trail de qualquer cilindrada pudessem participar, sem distinção de tamanho ou potência. O mais importante da viagem, e por isso foram escolhidos “a dedo”, foram os pilotos.

A reunião entre os participantes aconteceu no ponto de encontro, no dia 19 de agosto, em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, e da melhor maneira: em um rodízio de costela! Todos se conheceram e, na sequência, já foi feito o briefing do primeiro dia de viagem.

Primeiro dia

Saímos da capital do Mato Grosso do Sul às 7h30, pois teríamos muitos lugares para conhecer. A primeira grande atração foi uma surpresa: um tamanduá-bandeira resolveu cruzar nosso caminho! Como foi surpresa e nada havia sido combinado com ele, não tivemos muita chance de fazer belas fotos, apenas registramos o momento às pressas. Logo em seguida, iniciamos o percurso na APA (Área de Preservação Ambiental) Estrada Parque de Piraputanga, que, além da paisagem, vegetação e relevo, é palco de histórias bem interessantes da Guerra do Paraguai.

Em seguida, como sempre fazemos em nossas viagens, nos dedicamos a uma ação social. Todos os participantes dividiram as despesas de uma compra de vários brinquedos educativos para ser doados à ONG Associação Cristã de Resgate Social, no distrito de Camisão. O Projeto Resgate atende a crianças com atividades educativas, para evitar que elas sigam caminhos errados durante seu tempo livre. Parabéns a Marlene Wallner pela iniciativa e empenho no futuro dos pequenos.

Seguimos então para o “ponto alto” do dia, o Mirante do Paxixi, (leia reportagem na edição 186 de Moto Adventure), que estava bem movimentado. Grupos de pessoas costumam seguir para lá com a intenção de subir caminhando, uma boa “pernada”! Depois de várias fotos e uma pequena andança, começamos a descida com destino a Aquidauana e Anastácio. Com as motos abastecidas, seguimos para nosso segundo trecho de estradas de terra, que nos levaria até Bonito.

Depois de aproximadamente 100 km de estrada de terra em boas condições e um pneu furado de um dos participantes, chegamos à famosa cidade de Bonito. Era hora de nos hospedarmos, tomar um banho e sair para jantar e conversar sobre o que aconteceu durante o percurso todo e sobre o dia seguinte.

Onde dormir e comer em Campo Grande

Bristol Exceler Plaza Hotel: http://www.bristolhoteis.com.br

Costelaria do Gaúcho Gastão. Rua Dr. Zerbini, 38, Chácara Cachoeira, Campo Grande (MS)

Bonito (MS)

Em Bonito, o dia foi dedicado ao “descanso” das motos e, para nós, um tempo para passar o dia todo na água! Nossa aventura foi pelo Rio Formoso, suas cachoeiras e corredeiras. Entramos no rio em duplas nos caiaques, que iam se revezando. Muitas risadas, belas paisagens e situações inusitadas deram o tempero do dia. Dois integrantes do grupo tiveram a sorte de encontrar uma sucuri (e das grandes) descansando às margens do rio.

Ao final do passeio, estávamos todos exaustos e pensando como seria o dia seguinte, pois teríamos que pilotar nossas motos por mais 150 km de estrada de terra, com o que sobrou de nossos braços. Mas nada como um belo jantar a base de peixe para repor nossas energias e uma bela noite de sono.

Onde dormir e comer em Bonito

Pousada Céu de Estrelas: https://www.pousadaceudeestrelas.com.br

Restaurante Tapera. Rua Cel. Pilad Rebuá, 1.961, Centro, Bonito (MS).

Miranda

A alvorada é sempre cedo e, às 7h30, já estávamos em nossas motos para um dos trechos mais bonitos da viagem. Nosso destino era Morraria do Sul, uma estrada de terra muito utilizada por caminhões e fazendeiros. Ela passa pela entrada de alguns atrativos de Bonito e segue para cada vez mais longe do movimento, a ponto de sermos apenas nós na estrada.

Na estrada estreita, trânsito zero, belas paisagens, pedras e algumas bifurcações até chegar ao ponto que tem um visual incrível. Estamos no topo da Serra da Bodoquena! Cortando fazendas, passando dentro de currais, em meio ao gado, por pontes de madeira e casinhas simples às margens da estrada, tudo isso torna esse roteiro incrível, transmite a paz que todos buscavam. O espírito aventureiro fica evidente após passar por um lugar onde poucos estiveram com suas motos e longe de tudo. E a união da equipe fica mais forte por sabermos que dependemos uns dos outros.

Paramos em um botequim para tomar um refrigerante e seguimos para o nosso destino: Miranda.

Depois dos últimos 50 km de asfalto, únicos do dia, já no final de tarde e começo da noite, chegamos à pousada. O espírito de equipe estava forte, prova disso foi uma pedra que acertou o filtro de óleo de uma das motos do grupo, fazendo com que ela seguisse na carroceria do carro de apoio. Isso desencadeou uma busca frenética por um filtro para reposição. Tentamos de tudo, até fazer uma adaptação, mas não deu certo, decidimos que ela seguiria até a próxima cidade para tentarmos novamente. Foi bem legal ver os amigos trocando mensagens, vendo como enviar a peça de São Paulo. Criou-se uma rede de pessoas em busca de uma solução, mas não deu certo. A pousada foi outro lugar que foge do padrão. Fomos muito bem recebidos pelo Isac, que nos preparou um jantar típico pantaneiro: um arroz carreteiro incrível!

Onde dormir e comer em Miranda

Pousada Nativos – http://pousadanativosms.com.br

Corumbá

Depois do café, já estávamos todos prontos e em cima de nossas motos, que foram abastecidas no dia anterior. Daí, foi só cair na estrada. O primeiro trecho foi de asfalto, pista simples, com muita vegetação por todos os lados: estávamos entrando no Pantanal Sul Matogrossense. A primeira parada foi depois de 93 km, na Dona Maria “do Jacaré”. Trata-se de uma barraquinha à beira da estrada onde a Dona Maria cuida dos jacarés. Ela os chama pelo nome e eles saem da água para serem alimentados. Vale experimentar o peixe frito do local.

Saindo de lá, já entramos na Estrada Parque, um aterro que corta parte do Pantanal, passando por dezenas de pontes de madeira. Dependendo da época do ano, parte dessa estrada fica submersa devido à cheia do Pantanal. Muita natureza, bichos e calor, muito calor! Tomamos um susto nesse trecho com um amigo que sofreu um acidente ao passar uma das mais de 60 pontes do trecho. A moto escorregou e ele caiu no rio. Por sorte e por usar todo equipamento de segurança, não aconteceu nada mais grave. Seguimos até a Curva do Leque e paramos no bar para repor as energias.

Em seguida, saímos para pegar a balsa que atravessa o Rio Paraguai, no local conhecido como Porto da Manga. Feita a travessia, mais um pneu furado que, em cinco minutos, foi arrumado. Viva os pneus sem câmara! Seguimos viagem e cruzamos o Maçico do Urucum, uma serra que quebra o visual plano do Pantanal, e continuamos até a cidade de Corumbá, nosso destino do dia. Em Corumbá, por segurança, levamos nosso amigo para o hospital e lá ele permaneceu em observação. Nos hospedamos em um hostel bem arrumado, com estacionamento seguro para nossas motos. Saímos para jantar e, em seguida, um merecido descanso.

Onde dormir e comer em Corumbá

Hostel Road Riders – http://www.hostelroadriders.com.br

Kitute’s da Cirlene. Rua América, 725-829 – Centro

Guia Lopes da Laguna

Sem pressa dessa vez, devido ao nosso amigo estar hospitalizado, tivemos que abortar o trecho de off-road do dia, pois não daria tempo de completá-lo e enfrentaríamos a noite em um lugar completamente isolado de tudo. Mudamos nossos planos e começamos nosso retorno com destino a Guia Lopes da Laguna. Dessa vez, atravessamos o Pantanal pelo asfalto. Tivemos a oportunidade de flagrar um tuiuiú, ave símbolo do Pantanal, em seu ninho, feito em uma árvore chamada piúva ou ipê roxo, tombada e protegida por lei, às margens da rodovia. Aliás, nessa época, os ipês amarelos estão todos floridos, com visual incrível. Seguimos pela BR-262 e passamos por Miranda e Bodoquena, para depois chegar a Bonito, já no cair da noite. Seguimos mais alguns quilômetros para um merecido jantar em uma churrascaria local e depois para o hotel, os dois localizados na rodovia e bem próximos, o que facilitou bastante.

Onde dormir e comer em Guia Lopes da Laguna

Hotel Florida Pantanal – Av. Santa Teresinha, 3318 – Às margens da rodovia

Restaurante e Lanchonete JC – Auto Posto Tio João, rotatória que vai para Bonito

Teodoro Sampaio

Acordamos cedo, como de costume, e o grupo já começou a diminuir. Alguns voltaram para Bonito para assistir à chegada do Rally dos Sertões, outros iriam passar o final de semana na casa de parentes que moram na região, e a maioria seguiu viagem para Maracaju, Dourados e Teodoro Sampaio, onde dormiríamos. Aproveitamos para fazer um caminho menos monótono, passando por dentro de Dourados e seguindo para Fátima do Sul, Ivinhema, Batayporã e, em seguida, cruzar a barragem de Porto Primavera e, na sequência, seguir para tentar pegar o pôr do sol em Rosana, uma cidadezinha muito simpática, às margens do Rio Paraná. Por cinco minutos não conseguimos… mas, valeu passar pela cidade. Em seguida, já de noite, rodamos mais 95 km até Teodoro Sampaio pela SP-613, que corta o Parque Estadual do Morro do Diabo. Em Teodoro foi a mesma rotina: fomos comer e depois nos instalamos no hotel. Foi um jantar de “até a próxima”, pois o grupo se dividiu e seguiu caminhos diferentes, cada um para sua cidade.

Onde dormir e comer em Teodoro Sampaio

Hotel Onix Inn: http://www.onixinnhoteis.com.br

Gaúchos Grill – em frente ao hotel (prático)

Quem foi?

Homens e mulheres, de faixas etárias diferentes, cidades diferentes, alguns amigos, outros conhecidos, e uns desconhecidos. Eles deram show! Foram animados, parceiros, amigos e cúmplices. A viagem toda foi com um astral bem animado, bastante conversa, todos se conhecendo e, mesmo na hora do perrengue, unidos. Deixo meu agradecimento a todos eles, primeiros às damas: Rosa, Karla, e os “meninos” André, Fernando, Claudio, Renato, Cássio, Ariel, Ricardo, José Maria, André Luiz e Luís Felipe.

Um agradecimento especial a Cleuci e Célio, do carro de apoio, pelo bom humor de sempre, disposição, paciência, ajuda, surpresas com quitutes no caminho e segurança. Vocês foram fundamentais!

A moto da viagem

Nesse roteiro, usamos a Honda NC 750X toda original, e a surpresa foi grande. Apesar de achar que ela tenha características mais de uso urbano, a moto surpreendeu em todos os sentidos. Como não faço uso da condução agressiva, o motor mais “manso” não foi nenhum problema para essa viagem. A motocicleta anda bem, apesar de não ser tão rápida. Tem freios eficientes, bons faróis, não é desconfortável (tenho 1,80 m e rodei no primeiro dia 1.000 km, parando três vezes para abastecer na estrada e uma em Campo Grande).

O moto oferece um espaço sensacional para bagagens. O ponto que a marca poderia pensar em melhorar nas próximas edições da máquina é o local da entrada do tanque de combustível. Ele está sob o banco do garupa, o que ocasionou tirar e amarrar três vezes a bolsa que levamos com bagagem. Mas, com uma autonomia entre 250 e 300 km, foi até bom para movimentar o corpo um pouco mais.

Na terra, mesmo um pouco baixa para minha estatura quando ficava em pé, não tive nenhuma dificuldade na condução, mesmo com a variedade de terrenos que enfrentamos (terra, cascalho e areia). E quem experimentou a moto na viagem só elogiou!

Agradecemos à Honda pelo empréstimo da motocicleta.

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