A bordo de um scooter, o aventureiro Evaristo Gouvêa, de 49 anos, projetista mecânico, viajou por 90 dias, percorrendo uma distância de 10.750 km, passando pelas cidades de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. Acompanhe o relato!

Texto e Fotos: Evaristo Gouvêa

Um eterno aprendizado

Viajar de Yamaha Crypton, ano 2013, foi uma das mais belas experiências que já tive. Planejei e executei, mesmo diante de algumas opiniões contrárias. É um relato sobre uma viagem de moto, sonhada por anos, por Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, visitando cachoeiras, grutas, cavernas, praias, lagos, montanhas, picos, trilhas, igrejas, e muitas estradas, passando por rodovias e trechos de terra, vivendo acontecimentos e situações do cotidiano como a educação, a honestidade, o respeito, a ajuda, as condições das vias, etc.

Uma vez li um livro chamado “Fernão Capelo Gaivota”, de Richard Bach. Uma obra que fala da liberdade, da criatividade e da evolução, de sair da inércia e de se colocar livre para a vida, de tentar algo diferente. E saindo dessa inércia, indo um pouco mais longe, viajando de scooter, encontrei com muitas pessoas se aventurando pelas estradas desse nosso país. Gente se aventurando pela primeira vez e outros mais experientes, que conhecem estradas de terra, as escaladas, as trilhas, as cavalgadas, os passeios de barco, os veleiros, cidadão que já cruzaram o litoral, diversas as rodovias, se superando e se surpreendendo com esse nosso planeta azul, descobrindo caminhos e oportunidades inimagináveis.

Encontrei várias situações que me fortaleceram e outras tantas que me comprovaram que ainda há muito que se aprender na vida, sobre a educação, sobre o respeito, sobre a necessidade de ajudar ao próximo, sobre a liberdade nos diferentes caminhos escolhidos e também sobre a fé. Sobre recomeçar e não desanimar, coisas que só acontecem com amigos à sua volta.

A vida por um fio

Vi muitas vidas em diferentes situações diante dos meus olhos. Vi pessoas dispostas a ajudar e sequer pensar em receber ao menos centavo em troca pelo que fizeram. Eu vi pessoas se vangloriando por terem recebido por algo que não fizeram. Andei sobre o sol e a chuva, no amanhecer e entardecer, subi serras e desci montanhas, visitei praias e picos, mares e lagos, cavernas e grutas, cânions e trilhas, cachoeiras cinematográficas, de águas cristalinas. Andei só e andei na companhia de muitas pessoas, nos ajudando nas trilhas, nas escaladas, nas orientações por caminhos diferentes e desconhecidos, nas conversas e trocas de pensamentos. Tive recepções e amizades inesquecíveis. Vi horizontes cheios de plantações, cortados por longas retas que me faziam sentir como um pequenino grão em movimento. Vi pássaros e borboletas mil. Avistei flores e árvores compondo matas e montanhas que se impunham grandiosas e imponentes, mas convidativas e pacificadoras. Um verdadeiro encontro com Deus!

Me atrevi a tentar descrever as riquezas e belezas de uma pequena parte deste nosso país no meu livro “Viajando de Crypton”, que em muitos lugares e estradas são indescritíveis. Foram cerca de 10.750 km rodados, passando por Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, visitando mais de 40 cidades em 90 dias. Lugares fantásticos, que eu não fazia ideia que encontraria quando comecei a minha jornada. Conheci montanhas e locais como o Pico dos Marins e o Pico das Agulhas Negras, além de ficar sabendo da existência de travessias como a Petrópolis-Teresópolis, a Marins-Itaguaré, a travessia Ruy Braga e a famosa Serra Fina.

A moto

A minha pequena Yamaha Crypton aguentou firme nas subidas, enfrentou as estradas de terra, cheias de pedra, o barro, o asfalto quente, o trânsito pesado da rodovia Rio-Santos, da Regis Bittencourt, da Washington Luiz, da Presidente Dutra, da Fernão Dias e de tantas outras. Encarou as chuvas e o sol quente, os ventos e as brisas, os cachorros correndo ao lado, querendo, talvez, impedi-la de seguir ou invadir seus territórios. Fui e voltei por muitos caminhos.

Problemas aconteceram, mas, com fé e ajuda, foram todos superados. Faria tudo novamente, arriscaria de novo, viveria, sonharia toda a fantasia e magia dessa jornada que se iniciou em 29 de novembro de 2015, com um intervalo de 30 dias por motivos de falha humana e técnica, e retornou em 18 de janeiro de 2016, para se encerrar em 27 de março de 2016.

Quando se sai com um bom planejamento, deixando o imprevisto e o não planejado atuar, sem medo, se consegue chegar longe, e as descobertas são incríveis. Espero realizar outras viagens dessa magnitude. Entretanto, pelo menos uma vez na vida, mesmo tendo de largar o emprego que eu tinha na época, com um ótimo salário, me dei o direito de sair por aí, sem uma rota definida, no embalo das curvas e das retas, curtindo o inesperado.

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