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Carretera Austral – Chile

Nosso leitor percorreu mais de 12 mil km em 35 dias visitando uma das regiões mais incríveis da América do Sul na companhia da esposa e de um amigo.

Minha paixão pelo motociclismo teve início na adolescência, mas foi a partir de 2010 passei a me interessar por viagens de longa distância.  Buscar vivenciar diferentes emoções, novas aventuras, contato com a natureza e o desejo de conhecer lugares e culturas me levaram a este novo hobby. A partir daí realizei diversas viagens longas e foi assim que ao terminar minha viagem pela Bolívia e Peru em 2019, escolhi meu próximo destino:  A icônica Carretera Austral, a Ruta 7 Chilena.

A ideia era ir em outubro de 2020, porém a pandemia me fez adiar por quase dois anos. Finalmente consegui realizar este sonho nesse começo de 2022. 

Resolvi percorrer a Carretera, do Sul (Vila O´Higgins) para o norte (Puerto Montt), sentido inverso ao que tradicionalmente é feito e foi uma decisão acertada pois assim passamos pela maior parte dos trechos com rípio, lama e terra ainda no começo do nosso roteiro, mais bem-dispostos e descansados.

Foram 35 dias de viagem, 12.170 km percorridos com duas R 1250 GS BMW, em que fui acompanhado de minha esposa na garupa e do Marcos Ramos, um irmão do motoclube Águias de Ouro na outra moto. 

Partimos dia 26/2, sábado, já prevendo escapar do carnaval na Argentina. Fizemos cerca de 2000 km em 3 dias até a fronteira com a Argentina (Paso de Los Libres) encontrando o trecho entre São Borja e Uruguaiana em muito mal estado, com vários buracos grandes, muitos caminhões e também com chuva forte desde Panambi RS. 

Em Paso de Los Libres nos hospedamos no Hotel Cassino Rio Uruguay, que não nos decepcionou.  Boa infraestrutura, bons quartos e excelente alimentação, que para quem viaja de moto durante todo dia, a noite é a refeição mais importante.

01/03

Dia seguinte, abastecemos nossas motos com a gasolina Argentina (Nafta) e optamos por usar a Super 95 (grado 2). É a mais barata que vimos por lá, porém tem mais octanagem que a gasolina aditivada Brasileira (87) e não tem álcool, logo nos atenderia bem. 

De Paso de Los Libres seguimos e pernoitamos, na sequência, em Rosário, Santa Rosa e Neuquén. Cidades centrais na Argentina de tamanho médio para grande, bem estruturadas, com transito organizado e sem os riscos e perigos que vivemos no dia a dia no Rio de Janeiro e São Paulo, que tanto nos preocupa.  Nestas cidades já começamos a trocar Reais por Pesos Argentinos utilizando a Western Union, como sugerido pelo nosso amigo Cado Gomes, e que se mostrou muito útil pois conseguíamos uma taxa média de 39 pesos para cada real (descontadas as taxas), bem mais favorável que a taxa das casas de câmbio e até acima das oferecidas pelos cambistas de Uruguaiana / Paso de Los Libres.

04/03

A partir daí a viagem realmente ganhou novos ares.  De Neuquem seguimos pela Ruta 237 e logo no inicio visitamos o museo palaentologico da Villa El Chocon que possuía um bom acervo de achados arqueológicos da região, com esqueletos de dinossauros e até fosseis de microrganismos.

Em seguida rumamos pela famosa Ruta 40 para Região dos 7 lagos, passando por Junin de Los Andes e ficando em San Martin de Los Andes. Toda esta região, passando por Villa La Angostura até Bariloche possui uma geografia no estilo dos alpes europeus com belíssimos lagos cristalinos. Assim, levamos o dia todo para percorrer cerca de 200 km entre San Martin e Bariloche, passando por Villa Traful, conhecendo todos estes lagos e rios e parando para fotos e vídeos.

Bariloche é um caso à parte.  Além do belíssimo Lago Nahuel Huapi, a cidade possui diversas cervejarias artesanais, além da fábrica da Cervejaria Patagônia, uma das mais bebidas da Argentina. A chuva nesta passagem por Bariloche e o frio em torno de 8 graus não impediram que passeássemos por Bariloche para saborear a cerveja, os chocolates e ainda assistir um show de rock patagônico ao ar livre.

07/03

De Bariloche, descemos a Ruta 40, acompanhando o lado Argentino da Cordilheira dos Andes de natureza lindíssima. Destaques para El Bolson e Esquel, pequenas cidades de arquitetura europeia e moradores muito receptivos. 

A partir de Esquel, onde pernoitamos, seguimos até Perito Moreno.  Neste trecho já encontramos a Ruta 40 mais árida, com seus conhecidos ventos fortes laterais e alguns trechos de rípio e lama (parte em obras). Foram 530 km intensos exigindo mais atenção, inclusive no trecho de cerca de 230km sem estações de combustível entre Gobernador Costa e Rio Mayo.

Em Perito Moreno fizemos um teste de Covid PCR. Com Resultado negativo e as demais exigências já providenciadas ainda no Brasil, 11/3 passamos por Los Antiquos, última cidade Argentina e entramos tranquilos no Chile através do Paso Rio Jeinimeni.  A partir de Chile Chico, primeira cidade Chilena, foram cerca de 150 km por estradas belíssimas as margens do lago General Carrera, segundo maior lago da América do Sul, seguindo até Cochrane.

Em Chile Chico, passamos a abastecer nossas motocas com a gasolina Chilena, (benzina) e optamos pela de 93 octanas.  Engraçado que embora tenha mais octanas que a Brasileira, sentimos uma queda de rendimento nas nossas motocas.  Talvez instintivamente comparando com a performance anterior obtida utilizando a nafta Argentina Super 95.

Importante comentar que não tivemos problemas mecânicos durante toda a viagem e até a diminuição de pressão dos pneus que ocorreu gradativamente desde a saída do Brasil até Chile Chico, onde começa o piso de rípio, foi positiva pois a pilotagem ficou mais estável. Só viemos a calibrar já em Chaiten. Usamos o Michelin Anakee Adventure.

12/03

No dia seguinte ainda em Cochrane fomos visitar a Confluência dos Rios Nef e Rio Baker. Famoso encontro das águas da Patagônia entre um rio azul cristalino e outro leitoso, uma das belezas mais recomendadas da Carretera Austral.

De Cochrane seguimos para Villa O´Higgins, povoado mais ao sul da Carretera Austral, sonho de muitos motociclistas. Foram 221km de rípio e ainda tivemos um trecho por barca, única forma de seguir até o fim. O trecho de rípio não é dos piores e mesmo com garupa, um piloto com certa pratica de off road consegue ir bem. O frio começou a apertar novamente e chegamos a pegar 4 graus a noite em Villa O´Higgins.

Chegamos a Villa O´Higgins! Obviamente fomos registrar nossa chegada com fotos na famosa placa que indica o final da Carretera Austral.  Um registro que gerou muitas emoções nos três.

14/03

Dia seguinte passamos a nos dirigir para o norte da Carretera e seguimos de Villa O´Higgins para a peculiar Caleta Tortel, uma pequena cidade de cerca de 500 habitantes que não possui ruas e suas casas e estabelecimentos são interligados por passarelas, onde os carros e motos ficam na entrada do povoado. Possui uma geografia composta de várias de ilhas, fiordes e estuários.

A Carretera é formada por uma sequência de aventuras, surpresas e lugares belíssimos. Saindo de Caleta Tortel, seguimos rumo a Puerto Rio Tranquilo, outro povoado localizado as margens da Ruta 7 e um dos lugares mais surpreendentes do Sul do Chile, onde se encontram as Capelas e a Catedral de Mármore. Formações curvas em rochas que nos deixaram maravilhados com a natureza que as moldaram durante milhares de anos nas águas do Lago General Carrera.  Assim que chegamos, deixamos as motos na pousada e fomos contratar o passeio para fazer no dia seguinte.

17/3

De Rio Tranquilo, pernoitamos em Coihiaque, maior das cidades da Carretera Austral e na sequencia rumamos para Puyuhuapy.

Puyuhuapy, outra joia da Carretera, onde no Parque Queulat visitaríamos um glaciar suspenso enorme, chamado Vetisquero Colgante. O parque exige que se faça reserva antecipadamente devido a pandemia.

Ainda neste trecho entre Coihiaque e Puyuhuapi passamos pela Villa Cerro Castilho que tem um trecho de estrada com uma belíssima formação em caracol (Cuesta del Diablo) onde tiramos belas fotos. Cerro Castilho marca o fim do piso de rípio da Carretera.  A partir daí prevalece até Chaiten o asfalto novo e em perfeito estado e passamos a encontrar rípio novamente muito esporadicamente.

20/3

De Puyuhuapi seguimos para Chaiten, com o frio ainda nos acompanhando. Saímos em torno das 7:40 com um forte frio nas estradas, em torno de 6 graus, que foi aumentando com o passar do dia.  A Patagônia tem uma peculiaridade do dia clarear mais tarde, em torno das 8h e escurecer em torno das 20 a 21h.

Ainda no trecho entre Puyuhuapi e Chaiten, passamos pela Villa Santa Lucia. Localizada na comuna de Chaiten, província de Palema, foi alvo em 2017 de uma enorme enxurrada, fruto da quebra de um glaciar suspenso, soterrando grande parte da comunidade e matando 21 pessoas. A Villa foi parcialmente reconstruída ao lado, mantendo ainda hoje o cenário de destruição. Demos uma parada para ver este cenário de ação da natureza e suas consequências.

No dia seguinte, seguimos de Chaiten Para Puerto Montt, cidade que marcaria para nós o fim da Carretera Austral. Neste dia pegamos 3 trechos de barcas e mais alguns de rípio e lama (estradas em obras).

Importante que um dos trechos de barca (Caleta Gonçalo a Hornopiren) necessita que o ingresso seja comprado por antecedência pela internet sob risco de não ter vaga, principalmente no período de alta temporada que vai até fim de março.

21/03

Chegamos em Puerto Montt a noite, com uma chuva fina. Sorte que no dia seguinte o tempo estava bom e assim conseguimos visitar o Vulcão Osorno, a 75 km de Puerto Montt. De moto, subimos por uma estrada sinuosa até a estação de ski que lá existe e ainda fomos um pouco mais acima, subindo de teleférico até bem próximo do cume. Muitas fotos e muito frio lá em cima, principalmente do lindíssimo Lago Nahuel Huapi.  De lá, descemos para visitar Puerto Varas, pequena cidade próxima, de colonização alemã. Neste dia anda fomos ao marco zero da Carretera Austral em Puerto Montt onde fizemos mais alguns registros.

Cumprido assim o objetivo principal de percorrer os 1240 km da famosa Carretera Austral na Patagônia Chilena, iniciamos nosso caminho de volta para casa. 

23/03

Percorremos então quase 1200 km em dois dias através da excelente Ruta 5 Chilena, pernoitando em Chillan e na sequencia em Los Andes, última cidade Chilena, onde nos hospedamos no Hotel Santa Teresa, muito confortável e com ótima infraestrutura. E a cidade de Los Andes é tranquila e bem mais próxima do Paso Los Libertadores.  Recomendo.

De Los Andes, cruzamos o Paso Los Libertadores, percorrendo o famoso trecho sinuoso dos Caracoles, onde paramos para algumas fotos e cruzamos o túnel Cristo Redentor que passa por dentro das cordilheiras dos Andes a uma altitude de 2800 mts.

25/03

Saindo do Chile e já de volta a Argentina, seguimos então para Mendoza, cidade famosa pelos Vinhos e suas belezas arquitetônicas e nos hospedamos no Hotel Nutibara. Muito bem localizado, o Nutibara é bem confortável, com ótimo atendimento e o preço estava muito bom, recomendo.

Ficamos dois dias por lá e visitamos duas vinícolas e uma olivícola.  De Mendoza seguimos 800 km até Rosário onde havíamos programado uma revisão na BMW Motorrad Roshaus.  Na sequência pernoitamos novamente em Paso de Los Libres, última cidade Argentina.  Dessa vez percorremos a excelente Ruta 14 e saímos pelo Paso San Tomé / São Borja.

Importante ressaltar que não tivemos durante todo o percurso na Argentina ou Chile qualquer situação de roubo, assalto, pedido de propina ou qualquer hostilidade.  Sempre fomos tratados respeitosamente e até com muita simpatia.

E foi só entrar no Brasil que a chuva veio.  Fizemos o trecho até Passo Fundo RS e no dia seguinte até Registro – SP sob muita agua, mas que lavou nossa alma e nos ajudou a agradecer a Deus pela excelente viagem.  De Registro fomos para Niterói passando por dentro da cidade de São Paulo e ainda conseguimos aproveitar a Presidente Dutra com pedágio isento para motos completando assim nossa grande aventura em 01/04.

E seguindo a tradição, qual o próximo sonho?  Equador e Colômbia. Se Deus Quiser! “O nosso destino nunca é um lugar, mas uma nova maneira de ver as coisas” (Henry Miller).