Edgard-Cotait-viagem-do-Leitor

Um grupo de amigos curte um final de semana realizando um roteiro de aventura. Saindo de Tatuí, percorreram a região Sul do Estado de São Paulo, passando por parques e praias desertas

Venho de uma família de quatro irmãos motociclistas e ficamos felizes em ver que a nossa nova geração está seguindo com esta mesma paixão pelas duas rodas. Assim, foi lógico que em algum momento, compartilhássemos estradas juntos.

Eu, Edgard Cotait, e meu irmão Luiz, juntos com os sobrinhos Vitor e André, formamos um grupo que teve ainda a boa companhia da amiga motociclista, Rose Orlandini. Com larga experiência em viagens nacionais e internacionais, faltava-lhe introduzir roteiros off-road em seus planejamentos. Por sermos do interior de São Paulo, já tínhamos experiência com os mais variados tipos de terreno, o que não era o caso dela.

Essa iniciação é um pouco demorada e delicada, pois requer que se sigam algumas etapas crescentes em termos de dificuldades. A primeira delas – e talvez a mais importante – é tirar os medos adquiridos da terra e neste sentido, o roteiro escolhido foi perfeito para esta adequação.

Planejamos nos encontrar em um posto de estrada, de onde partimos para conhecer o Parque Estadual Carlos Botelho, localizado no município de Sete Barras (SP). Já nas cercanias do Parque, nos deliciamos com umas tradicionais coxinhas de frango, regadas a um atendimento simpático. Poucos quilômetros mais e chegamos ao portal de entrada do Parque. Essa estrada tem o horário de funcionamento limitado apenas entre 6 e 20 horas. Os guardas-parque, sempre atenciosos, nos passaram as regras específicas para podermos transitar pelo local. Com fauna e flora abundante e muito bem preservadas, a velocidade não deve exceder os 40km/h, evitando-se assim, acidentes envolvendo animais selvagens. A estrada é construída com a chamada pavimentação ecológica, que conta com bloquetes intertravados, favorecendo um maior escoamento e absorção de águas de chuva.  As curvas são incontáveis e intermináveis, transformando aquele local numa experiência deliciosa e divertida de se pilotar.

Rumamos então para Cananeia. Cidade histórica, Cananeia é tida por alguns como a cidade mais antiga do Brasil, datando de 5 meses antes da fundação de São Vicente, mas por falta de documentação oficial, não é possível comprovar tal fato. No dia seguinte, pegamos a balsa que atravessa o braço de mar, e desembarcamos em Ilha Comprida. Após uma estradinha de terra e cascalho, chegamos à praia. Todas as motos do grupo eram trails, sendo três Yamaha Ténéré – uma  660 e duas 250 – , uma Honda XRE300, e a BMW R 1200GS.

Por estar calçada com pneus 100% on-road, resolvemos baixar um pouco a pressão dos pneus da GS. Logo de cara, tivemos que atravessar uma faixa de 30 metros de “areião solto e grosso”, como chamamos no interior. Mantendo a calma e a serenidade, fomos dando força para que a Rose ultrapassasse aquele trecho sem a nossa ajuda.

Já na praia, começamos a seguir beirando o mar, onde o terreno é mais compactado e com menor possibilidade de haverem bancos de areia solta. Percorremos um longo trecho à baixa velocidade, curtindo o visual maravilhoso e o barulho do vento e das nossas motos rodando naquele lugar. De tempos em tempos, haviam alguns pequenos riachos para se atravessar, e também paradas para conversar ou tirar fotos. O André e o Vitor, trilheiros, curtiam uma pilotagem com mais adrenalina, aproveitando a grande extensão desabitada da praia. A Rose, já mais adaptada e segura, pilotava com tranquilidade. O Luiz e eu, acompanhando passo a passo, e nos deliciando com aquele “momento familiar” especial.

Com o forte calor que estava fazendo, paramos num barzinho muito simples, de cobertura de sapé e banco de madeira rústico, onde bebemos refrigerantes e água gelada. Tudo isso observando as ondas do mar e as nossas “companheiras” paradas ali ao lado, ansiosas, nos esperando para novos quilômetros. A praia funciona como uma “avenida natural”, aos moradores locais.

Depois de mais um trecho, recebemos a indicação de uma pequena pousada um pouco mais afastada da praia. Pegamos uma estradinha de terra e saibro e andamos por mais dez quilômetros até chegarmos ao local. Infelizmente, não era o que esperávamos para o pernoite. Em frente havia um mercadinho diante de uma árvore frondosa, debaixo da qual paramos as nossas motos e nos acomodamos em um banquinho de madeira e numa mesinha daquelas mais simples, de bar.

Já era o meio da tarde, e aquele local nos foi o suficiente para ficarmos e almoçarmos algo por ali, mesmo. Depois de jogarmos um monte de conversa fora (algumas verdadeiras), me deu um estalo e sugeri que aguardássemos o cair da noite, para que pudéssemos voltar. Afinal, pilotar no escuro, naquela situação de calma e tranquilidade que aquele paraíso nos oferecia, sem dúvida seria um momento muito gostoso e marcante.

A “ex-novata” Rose não demonstrou nenhum medo e sequer alguma objeção por pilotar a noite na areia. Assim, quando o sol se pôs, voltamos para a praia e… que paz! Com a total escuridão, o céu se apresentava bastante estrelado, lindo mesmo, e raros veículos andavam ali, naquela hora. Pilotávamos apenas apoiados nos faróis das nossas motos. Cruzamos um grupo de jipeiros, e todos, adrenalizados, buzinamos incessantemente, celebrando aquele momento de aventura.  

Devido à movimentação das marés, um dos rios que atravessamos durante o dia, agora estava bem cheio, represado pela água do mar. Passamos, com a água encobrindo por completo os pneus de nossas motos. A Rose ficou entusiasmada com esta nova forma de praticar o motociclismo.

Chegamos tarde da noite em Cananeia, e no dia seguinte partimos para a Serra da Cabeça da Anta, em Tapiraí (SP). Esta estrada está em péssimas condições, e ainda conta com pouca estrutura de postos ou serviços.

Chegamos novamente a Tatuí, onde nos despedimos, mas não sem antes já deixarmos certo que logo teremos novas aventuras juntos.