Rodar de moto por caminhos entre Áustria, Croácia e Eslovênia é uma experiencia sem igual. Mesmo que debaixo de chuva

Texto e fotos: Reinaldo Ópice

Sempre imaginei conhecer a Áustria e um pouco da maravilhosa cidade que é Viena onde, além das igrejas, praças e construções históricas, o que mais se destaca é a música. Ali, por todos os lados se veem imagens de Mozart e referências à música clássica. Recentemente pude realizar esse sonho, mas ainda faltava algo: pilotar uma moto. E, para que isso acontecesse, peguei um voo curto que me levou de Viena à cidade de Klagenfurt, onde peguei uma moto e me juntei a um grupo de motociclistas para um giro denominado “Mar e Montanhas do Adriático”. A ansiedade pelo início da viagem me fez acordar bem antes do despertador tocar. O que foi bom, pois me permitiu tirar mais algumas coisas desnecessárias das malas laterais da moto e rearranjá-las melhor. Afinal, seriam seis dias pilotando e transportando a bagagem na moto, já que não teríamos carro de apoio nesse roteiro.

Ao chegar ao salão do café da manhã do hotel, vi que não fora o único a madrugar. Acho que a ansiedade contaminou a todos os participantes. Pouco depois chegou a hora do briefing, com as explicações do trajeto e principais pontos de atenção. Em especial foi-nos recomendado muito cuidado com um trecho onde cruzaríamos Karawanken e a parte dos Alpes conhecida como Julian Alps.

CURVAS E ESTRADAS

Partimos de Klagenfurt e, após rodar poucos quilômetros por uma estrada secundária, começamos a parte sinuosa da subida em direção a Loiblpass. Surgiram então curvas muito fechadas. Incríveis desfiladeiros em um dos lados da pista requeriam toda a nossa atenção, sobrando pouco para poder admirar a deslumbrante paisagem. Logo estávamos cruzando a fronteira com a Eslovênia e, poucos quilômetros à frente, encontramos um minúsculo vilarejo ao lado da estrada, onde paramos para tomar um cappuccino em um café muito charmoso.

Revigorados pelo café e com temperatura muito agradável, seguimos em direção ao sul. A paisagem era deslumbrante, a estrada íngreme e muito sinuosa e, na maior parte do tempo, acompanhava riachos e rios que correm para o mar, levando a água de degelo da neve das altas montanhas. No caminho, cruzamos com muitas motos, uma vez que este roteiro é muito procurado pelos europeus para suas viagens e passeios.

Um pouco mais à frente, em Kropa, um restaurante à beira da estrada foi a parada perfeita para o almoço, onde pudemos comer truta grelhada pescada no riacho que passava ao lado do restaurante. Saciados por uma excelente refeição, seguimos em direção a Postojna para visitar as famosas cavernas da região. Chegamos à bilheteria em cima da hora para pegar o último passeio do dia, que é feito por um pequeno trenzinho elétrico que conduz os visitantes para o interior de uma das cavernas do parque.

As cavernas de Postojna foram abertas ao público em 1819 e, em 1872, foram colocados os trilhos para o pequeno trenzinho que leva os visitantes para o interior do que é considerada a mais extensa formação de cavernas conhecida. O trecho aberto para a visitação tem cerca de 5 quilômetros. Chama a atenção pelo tamanho dos salões, gigantescas estalactites e estalagmites e altura do teto da caverna. Um passeio que, sem dúvida, vale a pena.

CROÁCIA

De Postojna seguimos poucos quilômetros, deixamos a União Europeia e cruzamos a fronteira com a Croácia, onde carimbamos nossos passaportes e trocamos euros por kuna, a moeda local croata. Era o terceiro país que percorríamos no mesmo dia, algo impensável para nós, brasileiros, acostumados às grandes distâncias do nosso território.

Seguindo viagem em direção ao mar, logo estávamos chegando a Opatija, no litoral da Croácia, também conhecida como a Montecarlo do Adriático, pela semelhança das suas construções com a deste balneário. Em volta da orla, palacetes construídos no final dos anos 1800 lembravam a importância e a riqueza do Império Austro-húngaro. Chegamos ao nosso hotel em Opatija já no início da noite, em tempo de jantar e descansar depois de um longo e gratificante dia.

No dia seguinte, saí para uma caminhada pela orla, onde tive a oportunidade de ver melhor os palacetes e jardins que enfeitam Opatija, além da praia que foi construída em pedra e concreto, uma vez que não há praia de areia nesta parte do Adriático. De volta ao hotel, reuni-me ao grupo e saímos para um passeio que nos levaria ao outro lado da península de Istrian, por estradas secundárias sinuosas ideais para dar uma pequena esticada e praticar nas curvas. Paramos para tomar um café ao chegar do outro lado, em Vrsar, onde a vista do mar era de encher os olhos. De Vrsar seguimos rumo ao sul e fizemos uma parada para almoço na pequena vila de pescadores chamada Zimnj Gimino, na costa, e de lá seguimos para Limski Fjord, onde há o maior e mais bonito fiorde do país, preenchido pelas águas verde-esmeralda do Mar Adriático. Ao lado do fiorde, barracas vendem produtos típicos da região, que incluem trufas brancas, vinhos e lavanda.

Nosso retorno à Opatija foi por uma estrada que cruzava pequenos vilarejos medievais, de construções em pedra e chegamos a tempo de passear um pouco mais por esse elegante balneário que era frequentado pela alta sociedade de Viena na época da monarquia. No período entre as Guerras Mundiais e sob o domínio iugoslavo, Opatija perdeu o seu glamour, que agora está sendo recuperado com a ascensão do turismo na região.

UM LUGAR MAIS BONITO QUE O OUTRO

No nosso terceiro dia, deixamo Opatija para trás para ir em direção a Rijeka, onde cruzamos uma ponte para chegarmos a Krk, a maior ilha da Croácia. Rodamos por uma estrada com pavimento recentemente refeito e com a visão do Mar Adriático ao nosso lado até chegarmos ao outro extremo da ilha, Plavnik, de onde um ferry-boat nos levou para outra ilha. Lá chegando, nos dirigimos para a cidade de Rab, uma vila medieval considerada a segunda cidade mais bonita da Croácia. Rab tem como característica única suas quatro torres construídas em uma única linha, ao contrário de estar nos cantos, como ocorre em outras construções medievais. Nesta parte da cidade, fechada ao tráfego, encontramos nosso restaurante, que além de contar com uma vista espetacular do pequeno cais e do verde intenso do mar, os pratos à base de frutos do mar eram dignos de reconhecimento.

Saímos de Rab e tomamos outro ferry-boat que nos levou de volta ao continente. Após pequeno trecho em uma estrada principal ladeando a costa, tomamos uma estrada secundária subindo uma serra. Antes de começar a percorrê-la, dividimos o grupo entre os mais experientes e os que queriam seguir num ritmo mais relaxado. O primeiro grupo aproveitou esta estrada totalmente deserta, com um asfalto em perfeitas condições e com uma sequência de curvas de tirar o folego, para explorar toda sua habilidade e capacidade das nossas máquinas. Com certeza uma experiência que ficará registrada na nossa memória por muito tempo. No final deste trecho, e já nos aproximando do parque Plitvicka Jezerce, avistamos os sinais da guerra ocorrida vinte anos atrás entre sérvios e croatas, com algumas construções destruídas e marcas de tiros em paredes.

Fomos para o hotel Bellevue, que fica dentro do Parque Nacional Plitvicka Jezerce e, da recepção até a portaria do parque são apenas alguns metros. Não há nenhuma vila, nenhuma cidade próxima, apenas os três hotéis e uma área de camping, que fazem parte do parque.

Confira a Parte 2 do roteiro.

*Matéria publicada na edição #169 da Moto Adventure.