A bordo da Triumph Tiger Sport, a piloto Suzane Carvalho fez um tour de 12 dias ao redor da Itália
Texto e Fotos: Suzane Carvalho
Bellissima giornata (parte1)
O propósito deste roteiro é, acima de tudo, curtir a essência do motociclismo: viajar sobre uma motocicleta, por estradas e caminhos de diferentes estilos, curtindo as mais diversas paisagens, estradas e climas. Descobrir o novo, andar pelo desconhecido.
Longe de ser uma viagem de turismo tradicional, não fui aos lugares mais famosos. Meu objetivo foi fazer a “Volta à Itália em 12 Dias”: todo o desenho da bota, com uma Tiger Sport da Triumph.
Nesse período, passei cada noite em uma cidade e hotel diferentes. Tive que me conter para não me perder no tempo, fotografando todos os lugares belíssimos pelos quais passei. Bem ao estilo aventureiro, não defini o roteiro exato. Somente que faria a volta inteira na Itália. Isto foi possível porque a viagem era em um país de primeiro mundo, onde eu sabia que não teria problemas para abastecer a moto ou encontrar uma oficina especializada, caso precisasse, o que traz certa segurança e conforto.
ROTEIRO
Comecei esse roteiro em Milão, rumo ao oeste. Subi para os Alpes, cruzei para o leste, passei por Veneza e desci toda a costa do Mar Adriático até a ponta do salto da “bota”, Santa Maria de Leuca. Cruzei para o oeste em direção a Sicília e subi pela costa oeste, fechando a volta em Gênova, e voltei a Milão.
A moto escolhida para esta viagem foi uma Triumph Tiger Sport, que tem motor tri-cilíndrico de 1.050 cc com 125 cv de potência e 10,61 kgf.m de torque, posição de guiar ereta e pneus próprios para asfalto, aceitando também trechos de terra leve.
O período deste tour aconteceu entre o final de outubro, do outono e da temporada, época em que hotéis fecham e as cidades de veraneio se esvaziam.
CHEGANDO A MILÃO
(Dia 1: Milano – Genova – Sanremo)
Pousei no aeroporto de Malpenza e me hospedei em um hotel próximo ao escritório da Triumph, onde eu iria pegar a moto: La Torretta, em Arese, bem próximo à Fiera Milano, onde acontece o Salão Internacional de Motocicleta, EICMA.
Quando peguei a Tiger Sport, ela estava com 2.066 quilômetros rodados. Saí direto em direção a Gênova, já às 10:55 da manhã.
Ainda no estacionamento e com as malas amarradas, percebi que a moto é muito fácil de guiar e fazer curvas de baixa, mesmo com toda aquela bagagem.
Deixei os acertos da moto todos originais, como ela sai de fábrica: suspensões dianteira e traseira e calibragem.
Setenta quilômetros após ter saído de Milão, minhas mãos já começaram a gelar. Vale lembrar que a Tiger Sport tem como acessórios os protetores de mão e também aquecedores de manopla, mas o modelo que peguei era standard. Para compensar o frio, surgiu a qualidade da autoestrada nos arredores de Milão, que é excelente. A moto estava com meio tanque quando a peguei. E meu primeiro abastecimento foi quando já chegava a Gênova. Coloquei 20 euros (R$ 70,00), que deu 11,9 litros a 1,68 (R$ 5,88). O computador de bordo me mostrou que a média do consumo foi de 5,7 litros a cada 100 km, ou seja, 17,54 km/litro.
GÊNOVA
Já em Gênova, passei por um viaduto perimetral paralelo ao imenso porto. Depois rodei um pouco pela cidade. A quantidade de scooters que via por ali era imensa. Em qualquer sombra de árvore vê-se, no mínimo, uma dúzia delas estacionadas.
Gênova é uma cidade grande no Mar da Ligúria e é lá que fica o mais importante porto da Itália. São incontáveis os atrativos arquitetônicos e culturais e até um dos maiores aquários da Europa está lá. Mas se você estiver fazendo uma viagem como esta, do tipo “express”, não deixe de passar pela Porta Soprana, perto da casa de Cristóvão Colombo.
Entre Gênova e Sanremo fui pelo litoral até a metade do caminho, e sempre entre 30 e 40 km/hora. A temperatura estava agradável, 24° C, e um belo dia de sol. Depois segui para a autoestrada, também belíssima!
Chegando a Sanremo, fui logo até a Marina para fotografar o pôr-do-sol. A cidade é uma graça. Sanremo está na Riviera Italiana, no estado da Ligúria.
É a capital internacional dos festivais de música desde a época em que Tchaikovsky se hospedava próximo ao famoso e elegante Cassino, construído há 110 anos que, aliás, é uma boa opção de lazer. Saí para caminhar e jantei em um restaurante bem típico. Outro belo passeio é subir até San Romolo pela SP 61. São apenas 11 quilômetros, mas que sobrem 786 metros e de onde se pode admirar Sanremo do alto.
EM DIREÇÃO AO NORTE
(Dia 2: Sanremo – Turim – Aosta)
Após ter fotografado Sanremo e o mar ao amanhecer, preparei minha bagagem e saí rumo ao norte.
Planejava subir para Turin, capital de Piemonte, cortando pela França, pela E-74 até Borgo San Dalmazzo e Cuneo, um caminho muito bonito. Mas já passava de meio-dia quando saí de Sanremo e como esse caminho é mais sinuoso e a passagem pela alfândega poderia ser demorada, resolvi então pegar a autoestrada A-6. Passar por este trecho e também pela autoestrada A1 me deu muita emoção, pois trata-se de uma construção incrível, toda por cima de viadutos, por cima das montanhas e ainda com inúmeros túneis seguidos. Deu para dar uma esticada no motor da Triumph Tiger Sport.
Estava “una bellissima giornata” e de Turim já era possível avistar os Alpes e o Monte Bianco, na fronteira com a França. Turim tem mais motos grandes, diferentemente de Gênova e Sanremo.
Conhecido por ser um centro de design automobilístico, Turim (Torino, ou, “Torinho”) é também um grande centro cultural e econômico. É a cidade sede do time de futebol Juventus e da fábrica da FIAT (Fábrica Italiana de Automóveis de Turim). Já foi capital da Itália e são muitas as opções de museus onde também é possível admirar a arquitetura. O Mole Antonelliana e o Palazzo Reale são símbolos da cidade. E, para quem gosta de carros, o MAUTO – Museo dell’Automobile di Torino – é imperdível. O Museo Egizio é um dos mais importantes do mundo. Próximo dali, um lindo lugar para ser visitado é o Lago d’Orta.
Saí de Turim já às 16:00 hs e o GPS me apontava 120 km até Aosta. Eu não sabia exatamente como seria a estrada até lá nem quantas vezes pararia para fotografar, mas sabia que o frio iria aumentar, já que estava me aproximando dos Alpes. Como eu já havia andado com aquele tanque de combustível por 409 km e estava com autonomia de outros 47, abasteci antes de sair. Foram 13,35 litros de gasolina Shell V-Power e o custo total foi de 28 euros. A média de consumo foi de 16,39 km/litro (reparem como o preço do combustível foi baixando, conforme fui me distanciando de Milão).
No caminho, para meu deleite, começaram a aparecer os castelos e tive que me conter para não parar, pois já estava anoitecendo. Reservei a manhã do dia seguinte para conhecer tão belos lugares.
De Turim a Aosta rodei 120 km e a média de consumo nesse trecho foi de 16,10 km/litro.
Por lá fiquei no charmoso Hotel Le Rêve Charmant. Com requinte de 5 estrelas, é familiar e fabuloso. A estadia custou 145 euros. Se para o sul a temporada de verão terminava, no norte, a temporada de inverno estava apenas começando.
EM BUSCA DE CASTELOS
(Dia 3: Aosta – Mergex – Ivrea)
Aosta está no Vale d’Aosta, aos pés das montanhas chamadas de Alpes Italianos, e praticamente na divisa da Itália com a França e a Suíça. Foi conquistada dos gauleses pelos romanos, no ano 25 a.C. e algumas ruínas ainda estão lá, como os Arcos do Teatro Romano e a Porta Praetoria.
É uma região de esqui, mas se você não for esquiar, ao menos reserve um dia para ir ao Parco Nazionale del Gran Paradiso, o mais importante da Itália, e que ainda preserva sua natureza intocada.
Depois de Aosta segui em direção ao leste. Mapeei os castelos (são mais de 70) e o plano era andar pelas estradas pequenas, que são rústicas, arborizadas, com muitos rios e por onde podemos ver e sentir o modo de vida do povo. Coloquei no GPS as estradas SS e SP (são várias), mas quando vi, estava na entrada da autoestrada e não tinha como voltar atrás. Tive que pagar pedágio e andar 46 km até o próximo retorno. Acabei parando em Morgex, nos Alpes, já na divida com a Suíça e a França. A cor das árvores estava linda e as pedras nos rios, ainda com pouca água, devido ao fim do verão, renderam fotos incríveis.
Andando pela autoestrada A5, eu continuava me impressionando com a pista e a quantidade de túneis. E os desta região, com extensão entre 2 e 5 km, surgiam em intervalos de 80 a 100 metros. Vale lembrar que dentro dos túneis é preciso diminuir a velocidade, já que a visibilidade não é a mesma e pode ter terra, óleo, água e devemos então ser mais cautelosos.
Eu sentia cada vez mais frio e dentro dos túneis era mais frio que fora. Para compensar, em pouco tempo surgiram muitos castelos e altos visuais. Abasteci então em Albanina (14,84 litros em um total de 25,00 euros).
Para minha surpresa, às 18:00 horas os sinos da igreja ao lado do meu hotel em Ivrea tocavam a música mais bacana que já escutei em sinos, toda por quiálteras.
Nessa cidade fiquei no Hotel Eden, um 3 estrelas não muito novo, mas próximo ao centro, ao custo de 50 euros com café da manhã. Meu jantar foi na Trattoria Monferatto, um restaurante bem típico que faz as próprias massas. Pedi uma massa recheada com uma pasta de cenoura por 13 euros.
Até o fim deste terceiro dia eu havia rodado quase 900 quilômetros, mas havia muito mais pela frente, pois meu próximo destino eram as partes leste, sul e oeste dessa “Volta na Itália em 12 Dias”.
Confira a Parte 2 do roteiro.
*Matéria publicada na edição #171 da revista Moto Adventure.