Ligação entre Ouro Preto (MG) e Paraty (RJ), a Estrada Real é oportunidade única para se descobrir mais da história do Brasil e conhecer lugares incríveis

Texto: Egon Jenckel/Trinity Ronzella
Fotos: Trinity Ronzella

A  descoberta de ouro e diamantes em Minas Gerais fez surgirem diversos caminhos para fazer escoar essa riqueza para os portos. Em meados do século XVIII, devido a tantas opções de caminhos, oficiais ou não, a Coroa Portuguesa definiu algumas trilhas que deveriam ser usadas para o transporte de ouro e diamante, dando o nome a estas de Estrada Real.

Inicialmente, a Estrada Real ligava a cidade de Paraty (RJ), de onde saíam e chegavam embarcações, ao interior de Minas Gerais, especificamente à província de onde eram extraídas as riquezas, Villa Rica, como era chamada a atual Ouro Preto (MG). Esse era o Caminho Velho.

Depois, com a necessidade de um trajeto mais seguro e rápido, surgiu o Caminho Novo, que levava as riquezas diretamente ao porto do Rio de Janeiro.

Além desses dois caminhos, surgiram ainda outras trilhas, mais usadas na exploração de diamantes. E um destes caminhos ficou conhecido como Caminho dos Diamantes.

ESTRADA REAL

Com 1.600 quilômetros de extensão e cercada de muita natureza, belas paisagens, cidades com importate valor histórico e cultural, além de um povo muito acolhedor, a Estrada Real teve grande importância no desenvolvimento político, cultural e socioeconômico do país. Do pão de queijo quentinho com café, passando por igrejas históricas, cidades de grande valor histórico e cultural, esse roteiro tornou-se uma das mais importantes rotas turísticas do Brasil. Sua diversidade é tão grande que agrada a todo e qualquer turista, principalmente aos amantes do moto turismo.

Como esse caminho é longo, reserve pelo menos cinco dias para conhecer e contemplar o roteiro, iniciando-o em Ouro Preto e finalizando em  Paraty (RJ). Esse período lhe dará possibilidade de conhecer a parte turística e histórica da região com calma e, durante o deslocamento, seguir com segurança e tranquilidade, apreciando as belas paisagens do caminho. E como esse é um belo e longo passeio, Moto Adventure o publicará em duas partes. A primeira começa abaixo e inclui o trecho entre as cidades mineiras de Ouro Preto a Carrancas. Na próxima edição será a vez do trecho entre Carrancas e Paraty.

CAMINHO VELHO

Essa foi a primeira via oficial da Coroa Portuguesa. Ela tem início  em Ouro Preto, a 1.200 metros de altitude, e segue até o nível do mar. Isso não significa que ela é só descida. Ao contrário,  o trecho todo é repleto de subidas, descidas e belas paisagens.

O roteiro é feito, em sua maior parte, por vias não pavimentadas, estradas com mínimo de movimento e cortando fazendas. É originalmente um roteiro off-road, mas com opções de on-road, logicamente sem os mesmos atrativos naturais.

O percurso é todo sinalizado e praticamente foi feito para ser percorrido de bicicleta e a pé. Por isso, existem lugares pelos quais a moto não passa. Pode acontecer de você estar seguindo as marcações da estrada e, ao chegar no início de uma trilha, sua moto (on/off road) não consegue passar. Isso fará parte da aventura e daí você terá que voltar e seguir pela estrada de terra ou asfalto, até voltar a encontrar as marcações alguns quilômetros à frente. As marcações levam a cidades, bairros, vilas, fazendas e sempre a uma igreja, dentre as dezenas encontradas pelo roteiro. Vale lembrar que, apesar de ser todo demarcado, o caminho exige bastante atenção, pois é fácil se enganar e seguir rotas erradas.

OURO PRETO A CARRANCAS

Ouro Preto conseguiu se manter preservada por mais de 300 anos, graças à mudança da capital mineira para Belo Horizonte, em 1897. Isso ajudou que seus  casarões coloniais de arquitetura barroca, igrejas, ladeiras de paralelepípedo e muita história chegassem preservados até nossos dias. E engana-se quem pensa que só de igrejas é feito o turismo local. Além das belíssimas igrejas, existe o Museu da Inconfidência, lojas de pedras preciosas, antigas minas de ouro, ótima gastronomia, praças, enfim, é uma cidade que deve ser conhecida.

Para encarar a Estrada Real siga até seu ponto de partida, que tem seu marco localizado na Rua Padre Rolim com a travessa Cristo Rei, em frente ao posto de informações turísticas. Mais três quilômetros à frente já se iniciará o caminho de terra, em uma saída à direita, subindo. Mais 1.500 metros à frente, surgirá uma entrada com porteira à esquerda. Siga em frente por mais 13 quilômetros e chegará ao Povoado de São Bartolomeu, conhecido por suas cachoeiras e doces caseiros. Mais à frente, 14 quilômetros aproximadamente, surgirá o distrito de Glaura.

Em seguida virá a Cachoeira do Campo. Depois surgirá um trecho de asfalto que seguirá até pouco antes de Santo Antonio do Leite, onde você deverá entrar à direita pela estrada de terra rumo a Santo Antonio do Leite. Rode então mais 10 quilômetros por terra e surgirá Engenheiro Correia. Depois, com mais 14 quilômetros rodados, chegará Miguel Burnier, um pequeno povoado. Seguindo adiante, novamente o asfalto surgirá e você passará sob um grande pontilhão de trem e, mais à frente, chegará a Lobo Leite. Estará então de volta a terra e logo adiante surgirão Congonhas, Alto Maranhão, Capão, São Brás do Suaçuí, Entre Rios de Minas, Povoado do Catauá, Lagoa Dourada, Prados, o Povoado de Bichinho e Tiradentes.

Entre o Povoado de Bichinho e Tiradentes existe o Museu do Automóvel da Estrada Real, uma parada bem interessante!

TIRADENTES E REGIÃO

Em Tiradentes, cidade rica em eventos como a Mostra de Cinema, o Festival Internacional de Cultura e Gastronomia e o Tiradentes Bike Fest, a dica é fazer uma pausa maior e conhecer os pontos turísticos e um pouco sobre a história local.

Seguindo viagem surgirá São João Del Rei, em uma região predominantemente montanhosa, que traz em suas centenárias igrejas, o melhor do rico barroco mineiro, que pode ser testemunhado nos altares dourados de suas igrejas, tudo caprichosamente abastado e delineado.

Ao sair de São João Del Rei, os marcos da Estrada Real indicam uma trilha estreita, ao qual motos grandes não são aconselhadas. Portanto, siga pela estrada asfaltada até pouco depois da Comunidade Rio das Mortes, onde a Estrada Real continua à direita, passando pela Comunidade de Goiabeiras, São Sebastião da Vitória e Caquende, onde será necessário fazer uma travessia de balsa para Capela do Saco. Por incrível que pareça, em mais  29 quilômetros surgirá Carrancas. Mas antes você irá cruzar a linda Serra de Carrancas. Mas atenção, não se iluda com o belo visual. pois você terá que encarar uma subida que exigirá cuidado e atenção. Desfrute do visual do alto da serra pois, ao final da descida, você já estará praticamente dentro da cidade.

CARRANCAS

Carrancas é sinônimo de belas cachoeiras e muitos atrativos naturais próximos à cidade. Para quem gosta de cachoeiras, grutas e banho de rio, a dica é reservar mais tempo para poder desfrutar disso tudo. Além disso, Carrancas está bem estruturada, com restaurantes, pousadas, hotéis-fazenda e camping.

ONDE FICAR

Ouro Preto: Hotel Solar do Rosário (31) 3551-4200 –

www.hotelsolardorosario.com

São João Del Rei: Pousada Solar Chiaini (32) 3371-4104 – www.pousadachiaini.com.br

Carrancas: Pousada Luz do Sol (35) 3327-1165 –

www.carrancasluzdosol.com.br

ONDE COMER

Ouro Preto: Restaurante e Pizzaria Caldos de Minas

(31) 3552-2868

Praça Tiradentes, 68 – Centro

São João Del Rei: Restaurante Villeiros (32) 3372-1034

Rua Padre José Maria Xavier, 132 – Centro

Carrancas: Restaurante Adobe (35) 3327-1486

Especializado em truta – Praça Manuel Moreira, 22 – Centro

DICAS

– Pesquise bastante a respeito dos caminhos e converse com quem já foi, quanto mais informações, menos se erra.

Para tal acesse:

http://www.estradarealguiavirtual.com.br

http://www.institutoestradareal.com.br

– Aproveite a passagem pelas cidades do roteiro para conhecer seus atrativos.

– Não faça esse roteiro sozinho, pois as estradas de terra passam por lugares bem isolados.

– Evite rodar durante a noite, principalmente nos trechos de terra.

– Não se engane com a quilometragem, a média de velocidade nas estradas de terra é baixa.

– As distâncias entre as cidades não são longas e sempre existem opções de lugares para pernoite. Por ser um roteiro longo e também bastante procurado, pode acontecer de não haver vagas para pernoitar, por isso, programe-se antes de fazer esse roteiro.

O QUE LEVAR

Ferramentas para sua moto

Kit para troca de pneu

Algo para comer/beber durante o deslocamento

Telefone celular

O máximo de informações sobre o roteiro

Informações sobre o que visitar em cada cidade

Câmera fotográfica

Pouca bagagem

Confira a Parte 2 do roteiro.

*Matéria publicada na edição #168 da revista Moto Adventure.