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Glaciar Perito Moreno

Em tour pela Patagônia, motociclista paulista enfrenta diversos perrengues, mas a grande beleza da região fez valer cada segundo da viagem

Texto e Fotos: Fabrizio Passari

Confira a Parte 1 do roteiro.

NATAL

Em Piedrabuena conheci um chaveiro chamado Fernando, um sujeito com um coração enorme e que me acudiu em todos os problemas: fez uma chave nova, achou um mecânico, rebocou a moto até lá, e ajudou no diagnóstico final: a bateria nova comprada em Azul foi instalada erroneamente e estava seca! Cheguei a El Calafate por volta das 19h00, a tempo da ceia de Natal.

No dia seguinte conheci o famoso glaciar Perito Moreno: impressionante. Também fiz muitas compras e comi muito bem nos restaurantes extremamente charmosos. A cidade me lembrou Campos do Jordão.

RUMO A TORRES DEL PAINE

Descansado, no 13º dia de viagem tomei a Ruta 40 em direção a Puerto Natales – cidade chilena e base para se chegar ao Parque Nacional Torres Del Paine.  Acontece que, apesar de ser o caminho mais curto, ninguém o utiliza por estar em péssimas condições. Pena que só descobri isso in loco!

Na Patagônia, boa parte das estradas é de terra, cobertas com pedregulhos – o chamado rípio. Muita gente reclama ou tem medo do rípio. Mas a verdade é que ele não oferece tanto perigo. Você terá certeza disso ao ver uma estrada patagônica sem rípio: é praticamente intransitável! E foi exatamente isso o que enfrentei: 250 km de barro e lama. Nevava bastante e não passava absolutamente nenhum veículo.

Acabei chegando tarde ao Chile, e o parque fecha às 20h00. Por isso tive que pernoitar em Puerto Natales. No dia seguinte, além de ir ao Parque e fazer check-in no hotel, corri para a primeira trilha. Foram (só) nove horas de caminhada morro acima. Na trilha, você não sabe se está sem fôlego por causa da subida, do frio ou por conta das paisagens inacreditáveis.

O parque em si é imenso. Se quiser transitar de moto lá dentro – o que eu recomendo fortemente – precisará levar galão de gasolina ou comprar nos hotéis – pois não há postos dentro do parque. Para se ter uma ideia do tamanho do parque, são quatro diferentes ecossistemas: Mato Pre Andino, Bosques Magallanicos, Estepe Patagônica e Deserto Andino. Prepare-se para ficar pasmo várias vezes por dia: as fotos não traduzem o que se vê lá; é preciso ir ao vivo.

BELEZAS DO LITORAL E DA CAPITAL ARGENTINA

Depois de cinco dias e muitas trilhas e geleiras, me despedi de Torres Del Paine, voltando para Puerto Natales. No dia seguinte, buscando compensar o tempo perdido na ida, resolvi encarar uma viagem direto para Puerto San Julian, na Argentina. Descobri então que a Ruta 3 fica um tanto mais assustadora à noite. A sensação de estar sozinho no meio do nada é mais forte – assim como o frio. Em compensação, o céu é de outro mundo – tem mais estrelas do que você jamais viu na vida.

Passei então por Comodoro Rivadavia – num trecho sem muito atrativo. No terceiro dia de volta, cheguei a Puerto Pyramides, uma península que é uma reserva protegida – bem bonita e diferente por sinal. Lá o passeio mais comum é o avistamento de baleias.

No dia seguinte, voltei à querida Viedma, para finalmente chegar a Buenos Aires. Passei apenas dois dias passeando na capital portenha – uma pena, pois a vida ali é sempre bem animada.

PUNTA DEL ESTE

Após passear por Bueno Aires cruzei para o Uruguai via ferryboat – uma viagem muito bacana. No mesmo dia, cheguei ao meu destino: a paradisíaca Puna del Este. Ali vi que a nata da sociedade do Uruguai se reúne em pouco mais de 50 km de belíssimas praias, todas muito limpas e organizadas. Primeiríssimo mundo – que se sente no bolso, naturalmente.

No Uruguai, todos foram extremamente simpáticos. Depois de três dias passeando pelas praias e curtindo a noite de Punta, me despedi com dor no coração. Passei a fronteira via Chuí. Ou Chuy, como queiram. É uma cidade com dupla nacionalidade. Metade dela está no Brasil, metade no Uruguai, separados por uma avenida – chamada Avenida Brasil. Sem pontes nem guardas na fronteira. O mais engraçado é olhar os cartazes das lojas ao longo da avenida: de um lado, em português e de outro em espanhol. De lá, passaria ainda em Criciúma (SC) e Curitiba (PR), antes de voltar para casa.

*Matéria publicada na edição #171 da revista Moto Adventure.