Roteiro revive, em sentido inverso, expedição feita por Dom Pedro II em Alagoas, que inclui visita ao local onde Lampião foi morto e termina no encontro entre o rio São Francisco e o mar

Confira a Parte 1 do roteiro.

Texto e fotos: Hugo Falcão

OLHO D’ÁGUA DO CASADO

Após a breve visita a Água Branca, passamos por Delmiro Gouveia e chegamos a Olho D’Água do Casado, onde teríamos uma experiência e tanto em terras alagoanas, pois rodaríamos por estrada de terra em meio à vegetação de caatinga até o Mirante do Velho Chico. Logo no início da estradinha de terra vimos que o acesso não é dos mais fáceis. Mas, com um pouco de habilidade e paciência, qualquer um montado numa trail ou big trail pode passar sem maiores problemas, curtindo cada quilômetro do off-road até o ponto principal, o cânion às margens do riacho Talhado, um dos afluentes do São Francisco.

Rodamos cerca de 10 km até chegarmos a um local mágico em meio àquela vegetação exuberante do sertão alagoano, o Mirante do Velho Chico. Vale salientar que estávamos na companhia de um guia local que conhece bem aqueles caminhos, o Adalberto Inácio, sempre muito atencioso e simpático.

O que dizer do local? Simplesmente fantástico, vale cada quilômetro rodado! Depois fomos até um restaurante às margens daquele riacho, onde deixamos as motos e fizemos um passeio de lancha até a divisa tríplice entre Alagoas, Sergipe e Bahia, já nas águas do rio São Francisco. Num certo momento a lancha nos deixou num pier flutuante no rio São Francisco, de onde partimos de barco a remo para um passeio mais detalhado entre os paredões do cânion. Pudemos apreciar de perto aquela obra de arte da natureza, percebendo o quanto é rica a nossa fauna e flora em pleno sertão. Depois de retornarmos ao pier flutuante, pudemos então desfrutar de um bom banho nas águas do rio São Francisco, antes de voltarmos para o restaurante, onde já havíamos deixado nosso almoço reservado. Tudo perfeito até então, pois além de tomarmos um belo banho nas águas do Velho Chico, lavamos a alma com tanta beleza e esplendor da natureza.

Depois disso tudo era hora de voltarmos para o nosso ponto de apoio, Piranhas. Mas antes atravessamos a ponte que liga Piranhas a Canindé do São Francisco (SE), para darmos uma olhada na hidrelétrica de Xingó e nas esculturas na entrada daquela cidade. Voltamos então para Piranhas, onde visitamos o Mirante Secular, na parte alta da cidade velha, com uma vista deslumbrante da cidade às margens do Velho Chico.

GROTA DE ANGICO

No dia seguinte nossa programação incluía uma visita à Grota de Angico, no município de Poço Redondo, em Sergipe, local exato onde foi emboscado e morto o bando daquele que foi um marco na história do cangaço, Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião. O passeio se inicia em Piranhas, de onde sai uma lancha que nos leva até o local às margens do rio São Francisco, já em Poço Redondo, onde desembarcamos num local belíssimo antes de começarmos a caminhada numa trilha de aproximadamente 1 km em meio à vegetação de caatinga, com piso bem irregular e com algumas subidas íngremes.

A emoção ia tomando conta da gente ao nos aproximarmos da grota onde se escondia o bando de Lampião e Maria Bonita, nos remetendo ao passado e nos fazendo imaginar como foi para os soldados da volante que partiu de Piranhas chegar até ali, preocupados em não dar nenhum sinal que pudesse alertar os cangaceiros escondidos. Ao chegarmos exatamente no local da emboscada ainda pudemos ver algumas marcas de balas que nos foram mostradas pelo guia que nos acompanhou até lá. É simplesmente um passeio espetacular, outro banho de história!

Terminada a visita à Grota de Angico, voltamos ainda impressionados com os fatos que se passaram ali. Vale lembrar que grande parte do bando foi morta e teve suas cabeças decepadas e levadas até a cidade de Piranhas, onde foram expostas como troféus na escadaria da igreja daquela cidade. Com isso em mente embarcamos novamente na lancha e seguimos rio acima, até o porto de Piranhas, no mesmo lugar onde aportou o barco a vapor que levou o Imperador Dom Pedro II àquela cidade.

Agora sim, estávamos prontos para seguirmos nosso caminho rumo à foz do rio São Francisco, deixando para trás muitas saudades daquelas cidades visitadas, pois foi um banho de cultura muito intenso e valioso!

RUMO À FOZ DO VELHO CHICO

Deixamos Piranhas com o coração partido, pois a vontade era de permanecer mais alguns dias na cidade, aproveitando toda aquela bagagem histórica e belezas naturais. Mas ainda tínhamos um objetivo: chegar até a foz do Velho Chico. Seguimos nosso roteiro visitando as demais cidades e chegando a Penedo (AL) já no meio da tarde, onde iríamos pernoitar. Lá existe o Paço Imperial, edificação onde Dom Pedro II ficou hospedado por ocasião de sua expedição, em 1859, e do outro lado da rua fica a belíssima igreja de Nossa Senhora das Correntes.

Na manhã seguinte partimos felizes da vida, pois iríamos rodar até a foz do rio São Francisco. Mas, antes, passaríamos no porto de Piaçabuçu, para mais uma etapa da homenagem ao nosso amigo e mestre Roberto Atobá. Roberto Santoro queria refazer uma foto que ele havia feito com o Atobá e Orlando, quando, anos atrás, ao viajarem juntos chegaram a Piaçabuçu e brindaram ali o sucesso da viagem deles. Como ainda iríamos rodar de moto, dessa vez brindamos com refrigerante. Após esse brinde cheio de lembranças seguimos até o ponto culminante da nossa aventura, a foz do rio São Francisco. O acesso se dá através do povoado do Pontal do Peba, rodando pela areia da praia cerca de 22 km até o encontro das águas do mar com o Velho Chico. E, para a nossa surpresa, ao chegarmos ao Pontal do Peba, tivemos o prazer de encontrar com os amigos Marco Zappa (de Maceió) e os paulistas Francisco Cilião e Luiz Otílio, que seguiram conosco até a foz do rio.

Enfim surgiu a foz do Velho Chico, com suas dunas e uma paz que nos faz ter vontade de ficar por lá o dia inteiro, curtindo aquele maravilhoso cenário. Mas, infelizmente, nossa estadia na foz seria breve, pois ainda iríamos rodar até Maceió, ponto final da primeira etapa da nossa aventura. Isso mesmo, porque essa primeira etapa foi a dos Caminhos do Imperador. A segunda parte ocorreria nos estados de Pernambuco e Paraíba.

Fechamos a nossa aventura com uma breve parada nas falésias da praia do Gunga, localizada no município de Roteiro, litoral sul de Alagoas. Uma pequena estrada de terra nos leva até a beira da falésia, com um visual deslumbrante, a mais ou menos 50 m de altura, permitindo uma visão geral da praia.

DICAS AOS INTERESSADOS

Para aqueles que gostaram dessa aventura e pretendem fazer esse roteiro, a dica é reservar de quatro a cinco dias. O deslocamento entre as cidades é tranquilo, mesmo quando feito por estradas de terra. Todos os locais apresentam boa infraestrutura e o viajante precisa se preocupar apenas em curtir os Caminhos do Imperador. Nós fizemos esse roteiro em quatro dias, o que foi suficiente para fazermos o que estava previsto no planejamento. Ficamos muito felizes, principalmente em prestar essa singela homenagem ao nosso saudoso amigo Roberto Atobá, que tanto nos ensinou sobre a vida em duas rodas, sempre nos levando a viajar em busca de aventuras, liberdade, acompanhados de amigos verdadeiros, correndo atrás de um país que poucos conhecem de perto.

Para saber mais acesse: www.flickr.com/hugofalcaomcz | www.instagram.com/hugofalcao.mcz

*Matéria publicada na edição #190 da revista Moto Adventure.