Yamalube-bLU-cRu-R3-Cup-South-America

Celeiro de Talentos

Estivemos em Goiânia (GO) para acompanhar a etapa de abertura da temporada 2022 e aproveitamos para conhecer um pouco sobre a vida e a carreira de dois brasileiros que são frutos do trabalho feito na competição e que já estão brilhando lá fora.

Texto: André Ramos

Fotos: Lz Photos Media

A Yamalube bLU cRU R3 Cup surgiu em 2017 como uma iniciativa da Yamaha Brasil para contribuir não somente com a formação dos pilotos brasileiros, mas também, para ser um ponto de suporte à motovelocidade nacional. Sua formatação baseada no que há de mais moderno no mundo, privilegia a competitividade, o equilíbrio e a lisura, além de oferecer ao piloto amplo suporte e uma condição financeira bastante acessível, quando pensamos em um esporte a motor.

Além de ser válida pelo Campeonato Brasileiro de Motovelocidade, a competição este ano passou a receber também pilotos de outros países da América Latina, como México, Peru, Argentina e Colômbia, o que agregou as palavras “South America” a seu nome. Participam da competição competidores de 12 a 63 anos, divididos nas categorias R3 Cup e R3 Cup Talent – a primeira dedicada a pilotos acima de 23 anos e a segunda, de 12 a 22, sendo que aqueles que se destacam nesta última, são encaminhados para competir na Europa.

Este ano a Yamalube bLU cRU R3 Cup tornou-se válida como uma competição sul-americana homologada pela FIM e conta com nada menos que 48 pilotos

Os primeiros a se beneficiarem disso foram os irmãos Tom e Meikon Kawakami, que foram para lá em 2018 e até hoje estão representando o Brasil no exterior e com grande destaque: Tom foi o primeiro brasileiro a conquistar uma pole position no Mundial de Superbike (categoria Supersport 300) e Meikon venceu a primeira prova da terceira etapa do Espanhol de Superbike, na categoria Supersport 600NG. Mas eles não foram os únicos e hoje o Brasil é o país com mais pilotos competindo na Yamaha R3 bLU cRU European Cup, subsidiados pela Yamaha Brasil: Eduardo Burr, Enzo Valentim, Fábio Florian, Gustavo Manso e Kevin Fontainha, além de Humberto “Turkinho” Maier e os irmãos Kawakami, no Mundial de Supersport 300.

Seu modelo de gestão, organização e disputa foi e continua sendo idealizado por Alan Douglas, ex-piloto de motovelocidade com quatro títulos nas 500 Milhas Brasil, que continuamente viaja à Europa para absorver experiências e modular as melhores práticas internacionais. Com isso, a competição é um exemplo de profissionalismo: dos boxes que recebem padronagem visual semelhante à do Mundial de Supersport, às motocicletas absolutamente iguais, tudo recebe atenção e nada passa despercebido – nem mesmo o carpete que forra os boxes, que sempre é limpo assim que as motos saem para um treino ou corrida.

As motos não ficam com os pilotos, mas com o time da AD78. Elas são sorteadas entre os pilotos a cada nova etapa e passam por dinamômetro para aferir sua potência. tudo para garantir a igualdade e lisura das disputas

Ao fazer a inscrição, o participante garante sua YZF-R3 preparada, capacete, macacão, pneus – inclusive de chuva –, telemetria, suporte mecânico e serviços de race coach e race service, este oferecido pela Tutto Moto e LS2. Tudo incluso no valor de R$ 20 mil (categoria Talent e R$ 23 mil para a Cup) pela temporada completa. Ao adquirir sua participação, o piloto não compra a moto, mas sim, o acesso à competição. As motos ficam todas sob gestão do time AD78, que se encarrega de sua manutenção e transporte: todas passam por dinamômetro para aferir sua potência e igualdade e, nas etapas, são sorteadas entre os pilotos, tudo para garantir o equilíbrio e evitar que alguém leve vantagem indevida.

Goiânia 2022

Depois de termos acompanhado a última etapa da temporada 2020, realizada em Curvelo (MG), desta vez a reportagem da Revista Moto Adventure foi convidada para cobrir a etapa de abertura da temporada 2022, que aconteceu no Autódromo Internacional de Goiânia Ayrton Senna, entre 13 e 15 de maio.

Neste ano a competição conta com 48 pilotos (!), divididos nas duas categorias e na ocasião, tivemos a oportunidade de conhecer um pouco sobre a história de sucesso de dois pilotos: Kevin Fontainha e Enzo Valentim, que neste ano também correm na Europa.

Enzo Valentim e Kevin Fontainha caminham pelos boxes de Aragon (Espanha). Amizade fora das pistas, rivalidade saudável dentro delas

Enzo Valentim começou no esporte em 2015 e é um exemplo de como o suporte correto pode provocar profundas transformações. “Na verdade, quando ele começou, o Enzo era um dos piores”, revela o pai, Marcelo Garcia, 52. “Ele se sentia bem, gostava de fazer, mas não tinha a menor habilidade e sentia muita dificuldade. Mas como ele queria ser piloto, abri mão de minha carreira como executivo e fui cuidar do Enzo. Eu não tinha nenhuma experiência, mas muita vontade de realizar o sonho dele e diferente de outros pilotos que nascem com o talento, o Enzo foi lapidado”, explica.

Após uma incursão frustrada na Europa em 2020, em 2021, Enzo Valentim passou a ser um dos destaques da competição no Brasil, o que lhe valeu o convite para correr no exterior em 2022 e hoje, aos 17 anos, é o atual líder da R3 Cup europeia, à frente do compatriota Fontainha.

Enzo Valentim levou a bandeira brasileira ao topo em Assen (Holanda) e agora, é o atual líder da R3 Cup europeia

“Na Espanha eu não me encontrei nas pistas naquele ano e também não tinha uma moto competitiva e quando voltei, corri uma etapa no Brasil como convidado e venci a prova e isso me reanimou para 2021 mas uma fratura no pé me fez perder muitos pontos e acabou com meu favoritismo ao título, mas mesmo assim, consegui a vaga para competir na Europa este ano e estou muito feliz, principalmente por me sentir mais à vontade lá fora, pois o grande número de brasileiros nos deixa mais à vontade e nos dá mais forças”, revela o piloto, que venceu as duas corridas da etapa de abertura da R3 Europeuan Cup, realizada em Assen (Holanda).

Questionado como lida com o fato de encarar pilotos europeus, vindos de países com muita tradição no motociclismo, Enzo dá uma resposta que revela o nível do trabalho realizado na Yamalube bLU cRU R3 Cup South America.

A alegria de quem tem um futuro brilhante pela frente

“O trabalho que está sendo feito aqui no Brasil está nos preparando muito bem ; quando fui pela primeira vez eu não estava na R3 e não fui 100% preparado, mas depois de ter andado aqui em 2021, fui para lá bem diferente, pois andando com motos totalmente iguais isso nos obriga a encontrar jeitos diferentes de guiar e acredito que esta preparação está nos preparando ainda mais. Na primeira experiência eu temia os estrangeiros e as pistas, mas agora, andando com motos superiores às que corremos por aqui, me adaptei muito bem e agora estamos no mesmo nível que eles e agora a diferença vai estar no nível mental”, finaliza.

Na vida, existem algumas situações que costumam receber o rótulo da improbabilidade e os caminhos que conduziram Kevin Fontainha à motovelocidade pode recebê-lo em função de sua história. 

Kevin Fontainha comemora seu segundo lugar em Assen, que lhe garantiu a mesma posição na classificação da R3 Cup europeia. Dobradinha brasileira

Em 2013, seu pai, Danilo Goulart Fontainha, participou durante quatro dias de uma seletiva no Salão Duas Rodas realizada por uma publicação especializada e ao final desta, foi eleito “O Melhor Motociclista do Brasil” e como prêmio, ganhou uma motocicleta e como seu filho estava presente com sua mini-moto, recebeu um convite para que ele fizesse um teste no Superbike Brasil. “Chegando lá, meu filho não tinha equipamento e nada servia nele e, quando percebi, ele já estava saindo dos boxes rumo à pista”, recorda-se. “’Você não sabe o talento que teu filho tem’, comentou o Vail Paschoalin a respeito do meu filho”, afirma Danilo, referindo-se ao pai do piloto Rafael Paschoalin.

Ao final do teste, Danilo foi chamado para uma reunião para convidar seu filho para participar da competição. diante de sua condição financeira desfavorável (ele estava sem trabalhar devido a um acidente de moto), decidiram fazer uma vaquinha virtual para arrecadar dinheiro para que Kevin pudesse começar a competir.

“Logo em sua primeira corrida, ele caiu e, na enfermaria, o encontrei chorando e o choro não era de dor, mas de tristeza pelo fato de o fiscal de prova não ter levantado a moto dele para que continuasse correndo”, relembra-se Danilo.

De degrau em degrau, com a ajuda vindo de diversas mãos, Danilo passou a trocar serviços de motorista por alguma forma de ajuda para que seu filho pudesse competir.

Kevin Fontainha (26) é um talento nato que vem brilhando nas pistas, mas não sem muito esforço da família e ajuda dos amigos

“Foi dessa maneira que ele chegou onde chegou e olhando para trás eu choro muito, porque não foi fácil, não está sendo fácil e a gente sabe que nunca vai ser; sair de onde a gente saiu e chegar onde estamos, com ele está representando o Brasil é inimaginável”, emociona-se Danilo.

Mas além de lutar para que seu filho consiga realizar o sonho de ser piloto, Danilo preza muito pela educação que ele deve demonstrar e levar ao longo de sua vida.

“O Kevin é um menino bom, humilde, amigo; a única coisa que sempre pedi a ele foi educação e humildade, porque isso é melhor do que você ser um bom piloto; reconhecer todo mundo que te ajudou e que te ajuda, você vai entrar e sair de onde estiver de cabeça erguida e sempre vai encontrar pessoas te apoiando e ajudando e assim você irá muito longe”, explica Danilo, que afirma que irá apoiar o filho enquanto ele sentir-se feliz em cima da moto. “O dia que ele disser ‘não quero mais’, vou apoiá-lo do mesmo jeito”.

Para acompanhar o filho em sua primeira incursão internacional, na Espanha (Aragon), Danilo vendeu seu único carro, entretanto, ciente de que não poderá estar ao lado dele em todas as etapas internacionais, pediu a Allan Douglas, o cappo da competição, para que o tutelasse.

“Tenho de agradecer a todo mundo que está com ele: a AD78, o Edinho, o Kiko Louco, a Sleep Solution, que foi o primeiro patrocinador do Kevin e para quem eu trocava serviços também para o Kevin correr, assim como às diversas pessoas que nos ajudaram”, conclui.

Aos 15 anos de idade, Kevin é atual vice-campeão da competição e já mostra sinais de toda a orientação recebida em casa e dos reflexos da responsabilidade que assumiu ao escolher tornar-se um piloto de motovelocidade.

“Eu tenho de abrir mão de muitas coisas em favor deste sonho; abdico de ficar com a família, com os amigos, com a namorada, mas é um sonho, estar correndo na Europa já faz parte deste sonho, e eu sei que lá na frente, vai valer a pena”, analisa.

Dentro da Yamaha a competição vem ganhando cada vez mais apoio e gerando cada vez mais entusiasmo, diante do sucesso da competição e do reconhecimento que vem conquistando aqui e lá fora.

“A Yamaha vê com muito bons olhos a Yamalube bLU cRU R3 Cup South America”, garante Laner Azevedo, assessor de imprensa da marca. “Uma empresa grande como a Yamaha, quando traça metas, traças metas de conquistas e no caso da R3 Cup, ela acabou superando as nossas expectativas, porque cinco anos é um tempo relativamente curto para que a competição se tornasse uma referência mundial”, acrescenta.

Segundo ele, o fato de a competição estar formando pilotos que estão se destacando  no exterior e de o Brasil não ser um país de tradição na motovelocidade, é fruto de um trabalho preciso e eficiente, que tem gerado à empresa uma sensação de recompensa aos esforços empregados e de entusiasmo para seguir buscando sempre melhorar a competição.

“Se havia no passado uma discrepância tão grande em relaçào aos pilotos estrangeiros e hoje não há a gente se sento motivado a fazer cada vez mais para que, quem sabe um dia o jogo virar e nós nos tornarmos uma referência mundial. Quem sabe?”.

Diante da rápida evolução dos pilotos brasileiros, que hoje estão mostrando, por meio de seus resultados, que não éramos nós que não tínhamos talento para a motovelocidade, mas sim, que faltava apoio, organização e profissionalismo, quem sabe a profecia feita por Celso Miranda, locutor da BandSports e que acompanha a competição, não se realize? Segundo ele, o próximo campeão mundial nos esportes a motor nao virá dos carros, mas sim, das motos.

Se tudo continuar como está, isso não tem nada de improvável.