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Conheça esta fotógrafa e documentarista canadense que trouxe com as suas viagens e vídeos, um lado não revelado de países tidos como perigosos para mulheres.

Rosie Gabrielle viveu boa parte de sua história, lutando por sua vida. Quando criança, depois de muitos problemas, foi diagnosticada com uma doença rara que a levou dez vezes para a mesa de cirurgia. Perdeu um rim, recebeu várias pontes de safena e um pouco mais velha, passou a sentir dores 24 horas por dia, sendo diagnosticada com Doença de Lymes.

Mas nenhum sofrimento foi maior que o seu amor pela vida; nenhum sofrimento foi maior que seu desejo de explorar o mundo e, neste processo, se conhecer e buscar um significado maior para tudo que estava passando.

Em um mochilão pelo Sudeste Asiático, descobriu aos 19 anos, a motocicleta e com ela, sua viagem ganhou muito mais dinamismo e o mundo, uma motociclista muito especial.

Foi graças à motocicleta que Rosie Gabrielle tem podido desempenhar o que ela classifica como uma missão: mostrar ao mundo uma versão diferente da propalada pela grande mídia a respeito de países do Oriente Médio.

No momento em que publicávamos esta entrevista, Rosie passava a enfrentar outra forma de preconceito, esta, contra ela mesma, por ter se convertido ao islã.

Acompanhe a primeira parte de sua entrevista.

Moto Adventure – Rosie, é uma honra para nós contar com a sua entrevista em nossas páginas. Em uma entrevista concedida à Riderswest você comentou que começou a viajar para aproveitar a curta vida que temos. Tem conseguido isso?

Rosie Gabrielle –Estar na estrada em uma aventura em duas rodas e vivendo cada dia como ele é, é como me sinto feliz. Minha liberdade é o meu santuário, pilotar é minha terapia e as aventuras são a minha sanidade. Claro que amo cada momento de minhas aventuras, mas a obrigação de filmar e documentar acaba me afastando um pouco disso. Frequentemente, exausta e cansada, eu tirava minha câmera e me forçava a fazer alguns takes em vez de “viver o momento”. Agora sinto que depois de 4 anos fazendo isso, posso relaxar um pouco e me preocupar menos em documentar minhas viagens. Estou escolhendo projetos mais curtos e curtindo mais minhas viagens.

Moto Adventure – Você comentou que a sua paixão por viagens de moto começou quando você fez uma viagem pelo Sudeste Asiático. Como foi isso?

Rosie Gabrielle – Eu queria fazer um mochilão pelo Sudeste Asiático mas chegando lá, percebei que não queria ir de ônibus de um lugar para o outro, deixando de ver o que havia pelo caminho. Depois de alugar uma Honda 125 por uma semana no norte da Tailândia, fui fisgada e decidi comprar uma moto em Chiang Mai e fazer toda minha viagem em duas rodas. Eu tinha 19 anos e minha Honda 125 me levou por 12.000 km pela Tailândia, Laos, Vietnã e Camboja. Antes disso eu nunca tinha pilotado e não tinha ideia do que estava fazendo. Com um mapa de papel na mão e minha mochila presa à garupa da moto, estava pronta para a aventura. Foram 6 meses que mudaram minha vida e que iniciaram o meu amor pelas viagens de moto.

Moto Adventure – Você enfrentou muitos problemas de saúde. Pode falar sobre isso?

Rosie Gabrielle – Eu nasci com uma grave complicação vascular, que levou ao diagnóstico de uma rara doença, seguida de 10 cirurgias. Aos 5 anos de idade, sofri minha primeira cirurgia cardíaca, seguida da remoção de um rim e da colocação de várias pontes de safena. Quando adolescente, sofria de dores crônica, um mal que me afligia 24 horas por dia, sete dias por semana, e fui diagnosticada com Doença de Lymes. Desnecessário dizer o meu sofrimento, mas nunca deixei que isso me parasse. Minhas dificuldades me deixaram mais forte e me mostraram que eu poderia superar qualquer coisa. 5 anos atrás eu estava determinada a me curar e entrei em uma jornada de auto-cura e embora eu ainda tenha muitos altos e baixos e um longo caminho adiante, sei que a vida é um constante ir e vir. Sou muito grata a todas as experiências e desafios que passei em minha vida. Todas as coisas existem para nos ajudar a crescer e com isso em mente, sempre procuro dar o meu melhor em tudo e extrair a melhor versão de mim.

Moto Adventure – O seu primeiro destino de viagem depois dessa experiência no sudeste Asiático foi Omã. Por que escolheu este país e esta região, que não são vistos como muito amistosos com mulheres que andam sozinhas?

Rosie Gabrielle – Eu morei em Omã por 10 anos e lá é como um lar para mim. Escolhi começar minha viagem no Oriente Médio porque sei que o mundo tem uma visão distorcida sobre como a região é atualmente. Por exemplo: é extremamente seguro para uma mulher viajar sozinha por lá; de fato, sinto-me 100% mais confortável viajando por lá que pelo meu próprio país. Muito da visão negativa que se tem da região vem da mídia e das falsas representações que ela pinta. Sempre fui tratada com muito respeito, como uma irmã e alguém da família. Eu nunca me vi como vítima frágil, sexualizada, assediada, insegura ou ameaçada. Eu sempre senti-me aceita, acolhida e admirada por pilotar uma moto grande e fazer isso sozinha e sempre fui bem-recebida pelas pessoas em suas casas e cuidada por elas. Humanidade. Algo que tem perdido sentido em nosso mundo ultimamente e isso fere meu coração. Como uma “vulnerável” mulher viajante, eu queria mostrar ao mundo uma perspectiva diferente da vida para mostrar às pessoas, especialmente às mulheres, que elas podem fazer qualquer coisa e que o mundo não é tão assustador como nos contam.

Moto Adventure – Quanto tempo você passou planejando esta viagem?

Rosie Gabrielle – Normalmente eu não planejo nada. Você pode planejar tudo, gastar sua energia tentando adivinhar tudo o que vai acontecer e no final, nada sair como você imaginava. Eu tenho uma ideia geral sobre a direção que irei, coisas que pretendo ver ao longo do caminho e não muito mais que isso. Você nunca vai saber o que virá e sempre é melhor ser flexível e seguir o fluxo, esperar o inesperado. Tudo ao longo do caminho, lugares para ficar, tempo necessário para cumprir cada parte do roteiro, eu vou fazendo ao longo do dia, dia após dia. Há muitos fatores que mudam o curso da sua viagem, então, é melhor estar com a mente aberta e confiar que a aventura é sobre o caminho e não sobre o destino.

A segunda parte da entrevista com a Rosie Gabrielle continua em nossa próxima edição.