Confira algumas experiências vividas pelo casal Teodoro e Maura em suas aventuras por diversos países

TEXTO: TEODORO VIEIRA

FOTOS: MAURA DE ANDRADE

Em se tratando do continente sul-americano, que possui 12 países com diferentes riquezas culturais, onde o Brasil divide cerca de 17 mil km de fronteiras com nove deles, são inúmeras as possibilidades de explorar novas experiências de moto. Sem contar que a adoção da motocicleta em cada uma dessas regiões tem sabores diferentes. Por rodar em um clima bem frio durante o inverno, o motociclista argentino se adaptou utilizando uma cobertura especial em nylon presa com velcro às manoplas para se proteger do vento cortante. Na Colômbia, o mercado está em constante crescimento, com cerca de 600 mil motos vendidas por ano desde 2016, mas o motociclista comum ainda desconhece as possibilidades de equipamentos de proteção para deixar a pilotagem mais segura e confortável. Na Venezuela, a polícia costuma andar em dupla na mesma moto, permitindo que o soldado garupa esteja equipado com armamento pesado. E, no Peru, encontramos o “moto táxi”, veículo bem popular que, na verdade, é uma versão latina do tuc-tuc indiano.

Em termos globais, geralmente a moto é muito bem aceita não somente para o lazer, mas como uma excelente opção de transporte rápido e econômico. Na Cidade do México, onde o trânsito é um dos mais caóticos entre as megalópoles, também vimos scooters dividirem espaço com motocicletas grandes entre os carros, fugindo dos engarrafamentos. A segurança pública também segue motorizada e atenta, serpenteando por entre os carros. O moto turismo nos EUA é tão bem difundido que é comum alugar uma motocicleta em um Estado e devolvê-la a milhares de quilômetros de distância em outro. Quem não se lembra do seriado CHIPs, estrelado por Erik Strada e Larry Wilcox, que inspirou o recente longa-metragem com o entusiasta por motos Dax Shepard e Michael Peña. Em cidades como Pittsburgh e Miami, uma conhecida agência disponibiliza máquinas de diversos estilos com os respectivos acessórios, quando necessário, além de um atendimento impecável.

A Europa parece exalar não somente o motociclismo, mas a cultura em duas rodas que está enraizada naqueles países desenvolvidos. A rede de ciclovias holandesa (entre fietsstraats, fietspads e fietsstrooks) possui 35 mil km, nos quais o indivíduo aprende a pedalar antes mesmo de andar, e a infraestrutura de trânsito, em lugares como Amsterdam, considera o alto volume de ciclistas dividindo o espaço nas vias com semáforos específicos até para a passagem dos barcos nos canais. Londres chegou a contar com um serviço especial para atender a quem vai dirigindo ao happy hour e decide confraternizar tomando um drink – mas não gostaria de abandonar seu veículo no estacionamento para pegar um táxi de volta para casa. Esse motorista especial contratado chega ao pub pilotando uma motoneta dobrável, que é acomodada no porta-malas do carro do cliente para, então, conduzir o seu próprio veículo até sua residência. Depois de estacionar, devolve as chaves do veículo do cliente satisfeito e resgata sua motoneta para continuar sua rotina. Além desse serviço inovador, os passageiros ingleses também podem deixar o movimentado aeroporto de Heatrhow a bordo de uma Honda Gold Wing ou equivalente e abreviar o tempo no trânsito londrino. Moto táxi de luxo!

Quando apontamos o foco, ou melhor, o farol para a Espanha, vemos o cotidiano de uma verdadeira comunidade em duas rodas convivendo naturalmente com os demais veículos, mas desfrutando de vantagens claras – além de evitar o trânsito –, como o direito de estacionar em cima da calçada, desde que não bloqueie a passagem dos pedrestes. Metade da frota dos veículos madrilenhos está sobre duas rodas. Sua vizinha, Itália, que representa o mercado com nada mais do que 20 fábricas de motocicletas, possui praticamente uma moto por habitante! Enquanto isso, do outro lado do mundo, onde cerca de 17 milhões de motocicletas são comercializadas por ano em países como Índia e China – nesta última, prevalecendo as motos elétricas –, presenciamos uma revolução tecnológica japonesa com a moto que se equilibra sozinha em baixas velocidades sem o uso de um giroscópio. A ideia é reduzir o número de acidentes no tráfego pesado das grandes cidades. Vamos retornar à Europa, mais precisamente, ao campo de provas do BMW Group, em Miramas, no sul da França, onde a motocicleta autônoma foi apresentada com o objetivo de evitar acidentes fatais envolvendo outros veículos em cruzamentos considerados perigosos. Esta e outras facilidades, como o piloto automático, ABS, assistente de partida e até mesmo GPS, podem atrair adeptos ou afastar motociclistas mais clássicos.

Conhecer novos lugares pilotando uma moto é uma das coisas mais prazerosas da vida. A oportunidade de viajar de Madrid a Barcelona em uma BMW F800GS durante o Moto GP da Catalunia, em junho de 2015, foi uma experiência única. Depois de pegarmos a moto em Madrid, eu e minha inseparável companheira, Maura, viajamos por 600 km para explorar parte da Espanha e vivenciar sua cultura sobre duas rodas. Em uma das paradas, conhecemos um casal que pilotava uma Honda Hornet, cada um, voltando de férias da ilha de Teneriff, com o simples objetivo de pilotar. Saíram da Espanha e cruzaram parte do Marrocos para tomar uma balsa até a ilha do Padre José de Anchieta. Simplesmente inspirador! Durante a viagem, fomos abordados somente uma vez pela polícia rodoviária, que estava interessada nos documentos da moto e na habilitação. Chegaram a questionar que não se tratava de uma licença internacional, mas, quando traduzi alguns campos em Português, perceberam a similaridade e nos dispensaram.

Rodando pela América do Sul, as paisagens dos Andes Peruanos são simplesmente de tirar o fôlego, principalmente quando se está a 4.500 metros acima do nível do mar. Em uma das passagens pelas “abras”, filmamos a corredeira de um rio ao longo da estrada e, também, diversas cenas cruzando o deserto de Nazca. E ainda, a chegada ao Pacífico. Muito bacana! O propósito da câmera de capacete é capturar imagens que proporcionem a sensação de pilotagem – mas percebemos que serve para mais do que isso. A presença da câmera auxilia bastante na fiscalização policial ao sermos abordados, tornando o procedimento de verificação de documentos bem mais rápido, direto e amigável. Isso foi evidenciado na quarta vez em que fomos abordados na estrada, com a câmera guardada no bolso da jaqueta, e os simpáticos soldados “de carreteras” confirmando que não havia filmagem. Dessa vez, a inspeção na moto foi lenta, questionando a falta de refletivos nas malas, e até mesmo, o número da placa no capacete. A multa seria inevitável. Por sorte, não havia sinal de rádio para validar os dados do veículo. Por essas e outras, vale a pena instalar outra câmera na moto, garantindo o registro de todos os momentos da viagem, sejam estes agradáveis ou não.

Mais ao sul da América do Sul, cruzamos a fronteira com o Uruguai pelo Chuí sem nenhuma burocracia, apenas munidos de um seguro especial chamado “carta verde” com o mesmo propósito do DPVAT nacional, além dos documentos de porte obrigatórios. Apresentar o passaporte agiliza a migração e, em menos de dez minutos, já estávamos montados na moto pela excelente Ruta 9 uruguaia. Logo que se cruza o Chuí, essa mesma estrada se transforma em uma larga pista de pouso de avião, revelando os pilotos ao redor – de duas e quatro rodas! É indescritível a sensação de rodar por terras latino-americanas e contornar o Uruguai pelo litoral do Atlântico. Curiosamente, Montevidéo traz uma lembrança de Santos, e Colônia del Sacramento é o último marco uruguaio para se atravessar de barco até a requintada Buenos Aires, já na Argentina. Não há dúvida que rodar por nossos países vizinhos e conhecer sua cultura é uma experiência indescritível!

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