Imprevistos podem ocorrer com todo mundo, inclusive durante um passeio ou uma viagem de moto. Saiba como evitá-los ou amenizar os prejuízos nas mais diversas situações
TEXTO: JAN TERWAK
FOTOS: CARLA GOMES
Quem nunca passou, um dia vai passar. Essa é a máxima! É o tipo de coisa que acontece com todos que se aventuram de moto, mesmo que exista muito planejamento. Um perrengue, por definição, é uma situação complicada, difícil de ser resolvida e que sempre rende uma ótima história. Aposto que você já ouviu alguma por aí. Alguns dizem que o perrengue dá sabor à viagem, e eu concordo, os momentos difíceis sempre deixam lembranças. O que se deve fazer na hora do perrengue é pensar de forma estratégica, não se apavorar e procurar a melhor solução para contornar o problema.
Reunimos nesta edição de Moto Adventure algumas histórias, situações inusitadas e o que se pode fazer para prevenir que isso aconteça. Por incrível que pareça, os perrengues mais comuns são, muitas vezes, evitáveis. Aqui vão algumas dicas para fugir deles:
Falhas mecânicas: problemas mecânicos acontecem com qualquer um. Tenha a manutenção da sua moto sempre em dia. Manutenção preventiva é sempre mais barato e pode te livrar de muita dor de cabeça. Porém, saiba que, por mais que você faça tudo certo, não está a salvo. Por isso, leve sempre um jogo de ferramentas e tenha conhecimento básico de mecânica.
Tenha sempre um kit de reparo para pneus: não perca tempo com pneus furados, pois eles podem custar um tempo precioso e existem várias opções de produtos no mercado que consertam furos de pneu com câmara, sem câmara, além de seladores.
Clima imprevisível: planeje a sua viagem de acordo com a previsão do tempo. Leve sempre uma capa de chuva à prova de qualquer “toró”. Se o tempo fechar, proteja-se. Caso não dê para seguir viagem, o melhor a fazer é procurar abrigo e esperar a chuva passar. Se a sua viagem for no asfalto, o pavimento fica mais escorregadio, é claro. Mas se sua trip for em estrada de terra, muito cuidado! A chuva altera completamente o poder de tração dos pneus e, nesse caso, você pode diminuir a calibragem para obter mais grip.
Condições adversas do solo: em viagens off road é muito comum encontrar todo tipo de solo, desde terra batida, areia, lama, limo, pedras, até troncos no meio do caminho. Para estar preparado em todas essas situações, e evitar um possível perrengue, invista em você: faça um curso de pilotagem off road. A técnica –correta é o primeiro passo para uma pilotagem mais eficiente.
Falta de combustível: organize paradas para manter-se sempre com combustível no tanque. Não é preciso nem dizer quanto é ruim ficar sem gasolina. Aplicativos como Google Maps ou Waze têm postos de combustível cadastrados, é só questão de organização e planejamento.
Cuidado com alimentação e hidratação: Nunca se sabe o que pode acontecer e não é sempre que se tem um restaurante à disposição. Então leve barrinhas de cereal e água para manter-se hidratado sempre.
GPS: com o avanço da tecnologia é muito difícil se perder hoje em dia. Todos os smartphones já vêm com aplicativos de GPS instalados. Mesmo assim, vale pesquisar por rotas conhecidas e locais pelos quais valem a pena passar antes de encarar a viagem.
Nunca ande sozinho: ao andar acompanhado você tem mais segurança, além de ter alguém com quem contar no caso de um perrengue.
Meu Perrengue
Reunimos um grupo para descer a serra de Caraguatatuba (SP) pela Estrada da Petrobrás. O roteiro já era conhecido, cerca de 150 km de estradas de terra (ida e volta). Estávamos em de 10 pessoas. O caminho na descida foi tranquilo, aproveitamos a natureza e, é claro, as motos. Na volta, as coisas começaram a dar errado: o pneu de um colega furou, o que nos custou um tempo precioso para consertar. O clima começou a fechar, e o sol deu lugar a um céu cada vez mais escuro. O resultado? Pegamos o maior “toró”! A noite chegou e a maioria das motos não tinha farol, pois era off road. Como rodar no escuro sem farol? Tivemos que improvisar, ia uma moto com farol guiando na frente, uma no meio e uma no final, os outros pilotos seguiam o rastro dos demais. Enfim, chegamos em casa às 23h, exaustos, mas com a alma lavada e uma história que rende ótimas memórias para todos.
Depoimentos
Guilherme Landolfi, motociclista há 35 anos
Em 2010, eu e meu amigo Moacyr estávamos viajando pela América do Sul. Saímos da Argentina e passamos pelo Uruguai. Na volta pegamos muito vento e chuva, mas a tocada estava boa. A ideia inicial era chegar ao Chuí (RS) – extremo sul do Brasil –, abastecer as motos e seguir viagem somente no dia seguinte bem cedo. Porém resolvemos continuar a viagem no mesmo dia. O clima continuava castigando a gente, entretanto, seguimos em frente. Estava em nossos planos uma parada para abastecimento e eu sabia da existência de um posto de gasolina na Reserva do Taim, mas descobrimos, da pior maneira, que ele estava fechado. Algumas dezenas de quilômetros depois Moacyr sinalizou que estava ficando sem combustível, então reduzimos o ritmo para poupar gasolina. Algum tempo depois a minha moto entrou na reserva, então eu pensei: se a minha motocicleta entrou na reserva, a do Moacyr vai acabar a qualquer momento. Nem preciso dizer que o clima ficou tenso, nos obrigando a reduzir ainda mais o ritmo. Nenhuma trégua vinha do céu e a chuva continuava forte.
Ao chegar a Rio Grande, avistamos um posto de combustível e nesse mesmo instante a moto do Moacyr apagou por pane seca. Ele apertou a embreagem e conseguiu chegar ao posto, totalmente zerado! Viramos devotos da Nossa Senhora do Tanque Cheio!
Valdecir Souza, anda de moto há 35 anos
Eu e meu amigo Ricardo estávamos indo a Goiânia (GO) e, após rodar centenas de quilômetros, percebi que o meu pneu havia furado. Acionei o guincho do seguro da BMW, que me levou até o posto de combustível mais próximo. Nesse posto havia um borracheiro, mas ele não fazia o conserto naquele tipo de pneu. A solução foi acionar o guincho do meu seguro particular, que demorou três horas para chegar. Ele me levou a um borracheiro da vila, que fez o serviço, mas na hora de cobrar ficou muito mais caro do que devia, só por conta da minha moto. Naquela época, o conserto de um pneu custava R$ 10,00 e ele me cobrou quatro vezes mais. Depois de muita conversa, o borracheiro colocou a mão na consciência e me cobrou “apenas” R$ 20,00.
Aloisio Frazão, motociclista há 31 anos
Meu maior perrengue foi na Trilha do Telégrafo. Ela tem um percurso de apenas 7 km, que se mostraram os mais difíceis da minha vida. Estávamos em três amigos e demoramos um dia e meio para percorrer a trilha por completo. Aconteceu de tudo naquele final de semana: tivemos pneus furados, conseguimos quebrar uma chave de roda, comemos pizza no posto da Polícia Rodoviária, dormimos no chão de um posto de combustível na BR-116, diversos tombos ao longo do percurso e muito mais. Foi o final de semana mais intenso e desgastante da minha vida em cima das duas rodas, certamente o meu maior perrengue.
Celso Miranda, anda de moto há 36 anos
O meu maior perrengue aconteceu ano passado. Estava voltando do Mato Grosso do Sul, quando o pneu dianteiro furou. Tomei um susto, porém tive condição de manter o controle da Honda Africa Twin. A dificuldade foi achar um borracheiro que soubesse fazer o serviço. Não é qualquer um que sabe montar e desmontar esse tipo de roda, que tem uma série de macetes. Mas, eu tive sorte! Nesse dia, diversas equipes de apoio do Rally dos Sertões estavam retornando. Por acaso encontrei com o mecânico da equipe ASW, que rapidamente colocou a minha moto na carreta e me levou ao próximo posto de combustível. Borracheiros não gostam de consertar pneu de moto, pois dá muito trabalho. Outra coisa que borracheiro não gosta é de palpite. ––A dica que eu dou para evitar esse tipo de perrengue é que, antes de pegar a estrada, você aprenda a fazer esse tipo de coisa, tenha o conhecimento e as ferramentas corretas, se possível leve até uma câmara reserva.
E você, já passou por um perrengue? Conte a sua história no e-mail: contato@motoadventure.com.br
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