claudio-giusti-country-manager-da-royal-enfiled-no-brasil-foto-fabiano-godoy

Leia na íntegra a entrevista publicada nas páginas da edição 233 da Revista Moto Adventure

Texto: André Ramos

Fotos: Johanes Duarte/Fabiano Godoy

Nos últimos dias o mundo que conhecíamos até então deixou de existir, transformado na velocidade da luz por uma pandemia causada por um vírus que tem deixado um rastro de preocupação e medo por todo o planeta

Para tentar conter sua disseminação, governos de vários países têm recomendado a seus cidadãos que permaneçam confinados em suas casas, decretado lockdowns e se mobilizado na luta contra este inimigo invisível, mas muito ameaçador.

O efeito colateral destas medidas tem sido a paralisação da economia, reflexo do fechamento das lojas, cujas portas foram baixadas por decreto e das indústrias, que para tentarem conter o contágio, estão colocando seus empregados em férias coletivas e mandando muita gente para o home office.

Isso tem gerado ansiedade e especulações sobre até onde isso vai e o que irá acontecer depois que tudo isso passar – e no mundo das duas rodas, isso não é diferente. Para saber sobre o que se passa pela cabeça de um executivo do setor, fomos conversar com o Claudio Giusti, country manager da Royal Enfield no Brasil.

Em uma entrevista feita por email (sim, estamos em home office também), Giusti falou sobre como a marca está enfrentando a crise e seus planos para o futuro aqui no Brasil.

Saiba o que ele pensa sobre este momento que estamos passando e também, suas avaliações sobre o mercado, novos produtos e possibilidades de virem para o país.

Claudio Giusti, country manager da Royal Enfield no Brasil. Foto: Fabiano Godoy

Boa leitura.

Moto Adventure – Claudio, não temos como começar este diálogo de outra maneira. Como o senhor avalia este atual momento, com concessionárias fechadas, pessoas confinadas, mercado paralisado… Como a Royal Enfield encara este momento em nosso país?

Claudio Giusti – André, neste momento de contingenciamento das atividades de todos, a Royal Enfield e todas as suas concessionárias estão completamente aderentes às recomendações das autoridades locais, procurando preservar ao máximo a saúde e integridade de todos seus colaboradores, clientes e parceiros. É um momento de reflexão para todos, revisão de nossas metas como empresa e indivíduo. É também uma grande oportunidade que temos para demonstrar, pelo impedimento, de como é divertido sair para um passeio de moto e relacionar-se com outros motociclistas. Constantemente estamos em contato com nossa rede de concessionários para suportá-los, inclusive financeiramente, pois nossa filosofia foi a de sempre resguardar a lucratividade deles.

Moto Adventure – O governo ainda não definiu com exatidão por quanto tempo será preciso que fiquemos em confinamento, mas já se ouviu especulações falando em reclusão de 3, 4 meses. O que aconteceria com a Royal Enfield se isso, de fato, vier a ocorrer?

Claudio Giusti – Tanto a nível mundial como aqui no Brasil, a estratégia da Royal Enfield não muda. Temos um forte planejamento de longo prazo e reservas para nos mantermos pelo período que for necessário. Nosso compromisso com o Brasil, como dito sempre, é o de longo prazo e passaremos por mais esta. Afinal, uma empresa que, desde 1901, produz motocicletas sem nunca ter parado, é realmente capaz de enfrentar mais este desafio.

“Nossa estratégia é de longo prazo”, garante Claudio Giusti. Foto: Johanes Duarte

Moto Adventure – Por quanto tempo a Royal Enfield conseguiria permanecer com suas atividades paralisadas, sem quebrar?

Claudio Giusti –  Não é apenas a Royal Enfield que passa por esta paralisação das atividades de varejo e estamos confiantes que medidas, além das já anunciadas pelos países, serão tomadas para a reversão da economia. Internamente, estudamos alternativas para oferecermos produtos e serviços a nossos clientes, como vendas on-line, cursos aos clientes de como reparar suas motocicletas em casa (temos uma manutenção extremamente simples de nossas motocicletas) para que possamos entregar peças originais em casa, de maneira que não estamos com todas as atividades paralisadas.

Moto Adventure – Como essa crise afeta os planos da Royal Enfield para 2020?

Claudio Giusti – Ainda é cedo para calcular os impactos das lojas fechadas em nosso plano anual que começa agora em abril. Felizmente, antecipamos várias ações de faturamento de motocicletas, peças e acessórios à rede que garantem abastecimento mesmo com os despachos suspensos pela nossa matriz. Nós sempre priorizamos as ações de relacionamento, conhecimento de nossa marca e interação com nossos clientes em detrimento a objetivos de participação de mercado ou volume de vendas. Com as redes sociais e marketing digital que sempre foram ótimas ferramentas de nosso institucional, conseguimos manter, também através de nossos concessionários, contato com nossos clientes promovendo, mesmo que virtualmente, a troca de experiências e relatos de utilização de nossos produtos.

Claudio Giusti assegura que a Royal Enfield está preparada para enfrentar a crise econômica decorrente do confinamento. Foto: Fabiano Godoy

Moto Adventure – Vocês já pensam sobre o que fazer quando essa crise toda passar? Por onde recomeçar?

Claudio Giusti – Já temos o planejamento detalhado de nossas atividades para 2020, como participação nos principais eventos nas 9 cidades onde temos concessionárias, incentivar a utilização de nossas motocicletas seja em test rides curtos em todas as nossas lojas ou em expoxsições que faremos onde os motociclistas estejam. Na verdade, não é um recomeço mas sim uma continuação das ótimas iniciativas que temos tomado que nos levaram ao emplacamento record de 234 motocicletas em fevereiro.

Os lançamentos previstos para 2020 seguem mantidos. Foto: Fabiano Godoy

Moto Adventure – Os lançamentos e eventos previstos para este ano, ainda seriam possíveis de serem mantidos?

Claudio Giusti – O desenvolvimento de produtos trabalha com uma antecedência que nos permite manter o lançamento dos novos modelos previstos. Dependemos agora do retorno das atividades para iniciarmos a homologação das novas motocicletas. Com relação aos eventos de terceiros, estamos atentos para o calendário buscando participar até para contribuir para a recuperação do segmento das 2 rodas no país. Sabemos de nossa importância como marca para promover o motociclismo puro e incentivar mais pessoas a aventurarem-se sobre 2 rodas.

Moto Adventure – Depois de inaugurar concessionárias em São Paulo, Brasília, Curitiba, Campinas, Ribeirão Preto e Belo Horizonte, a marca planejava abrir mais três lojas em Florianópolis, Rio de Janeiro e Campo Grande. Agora para tudo?  E para as lojas mais recentes, como é o caso de Ribeirão Preto, qual o risco de fechamento?

Claudio Giusti – Estive no Rio de Janeiro e inauguramos a loja poucos dias antes da orientação para evitarmos aglomerações. Já em Florianópolis, pudemos preparar a loja e a oficina completamente para o início das atividades plenas mas, 2 dias antes, houve o decreto estadual para o fechamento do comércio. Atendemos às recomendações e nosso concessionário local adiou o evento da abertura da loja. Campo Grande estava previsto para a última semana de março e retomará as reformas da instalação assim que forem permitidos os trabalhos. Novas datas para Florianópolis, Campo Grande assim como a segunda loja em São Paulo, na Zona Leste, serão informadas assim que a normalidade for retomada. Com relação às operações atuais, sempre planejamos operações enxutas, iniciando com poucos colaboradores e instalações adequadas ao volume de vendas. Na grande maioria dos casos, temos os donos das operações bastante atuantes no dia a dia, garantindo um atendimento personalizado e esmerado com nossos clientes. Por conta destas estruturas enxutas, com uma administração bem controlada pelos proprietários, verificamos que as medidas de auxílio já disponibilizadas para a Rede vem mantendo condições de suspensão dos negócios. Estamos atentos às novas necessidades e propensos a continuarmos com a ajuda financeira à rede se for necessário. Entendemos que nossos parceiros locais fazem parte da família Royal Enfield e, assim como o compromisso nacional de longo prazo, regionalmente devemos continuar operando.

Moto Adventure – Vocês já projetam as perdas para este ano? Qual é a queda que vocês esperam enfrentar para 2020?

Claudio Giusti – Como disse, ainda é cedo para projeção de perdas. Entendemos, de outras crises, que o mercado se reprime. A demanda continua lá, latente. Cabe a nós darmos as oportunidades de compra e sermos considerados quando os clientes puderem usar as motocicletas normalmente, de forma a compensar o volume menor de vendas durante as crises.

Claudio Giusti afirma que ainda é cedo para calcular as perdas decorrentes da pandemia mundial. Foto: Johanes Duarte

Moto Adventure – Qual o impacto do coronoavírus nas operações da marca na Índia?

Claudio Giusti – Com a imposição do isolamento de 21 dias na Índia, paramos as atividades fabris e de despacho de produtos, o que não afeta ainda nossa disponibilidade aqui no Brasil por trabalharmos com estoques razoáveis de segurança.

Moto Adventure – Saindo um pouco do assunto crise, como a Royal Enfield analisa este início de vendas das Twins Interceptor 650 e Continental GT 650? Fale um pouco sobre números, performance de vendas, reação do público, etc.

Claudio Giusti – Tivemos uma grata surpresa quando expusemos a Interceptor 650 e a Continental GT 650 no Salão Duas Rodas de São Paulo e iniciamos as pré-vendas. De novembro até janeiro, quando lançamos oficialmente os dois modelos com os jornalistas em São José dos Campos e Paraty, tivemos mais de 200 pedidos firmes de clientes que apenas viram as motos sem oportunidade de pilotá-las. Abastecemos nossa rede com todas as 11 variações de modelos e cores e hoje já temos lista de espera para algumas versões. A reação mais positiva do público acontece quando o cliente tem a oportunidade de pilotar as nossas motos. O conjunto motor e transmissão afinados com o conjunto assim como a pilotagem fácil e segura, conquistam desde os mais novatos até os pilotos mais experientes.

Continental GT 650 e Interceptor 650. Os recentes lançamentos da marca recebem boa avaliação quanto ao seu desempenho comercial. Foto: Johanes Duarte.

Moto Adventure – Recentemente surgiram fortes boatos de que uma Himalayan 250 estaria sendo gestada lá fora. Vamos imaginar que isso seja uma verdade. Qual a possibilidade desta moto ser vendida no país? Como o senhor analisa este produto em face do mercado nacional?

Claudio Giusti – Todos os produtos desenvolvidos pela Royal Enfield são estudados para serem vendidos no mercado internacional também. Com a implementação de normas de emissões tidas como as mais severas do mundo na Índia, quaisquer motocicletas vendidas por lá podem ser exportadas para o Brasil. Sempre estudamos a demanda para a média cilindrada e nossa matriz tem como certo de que o Brasil representa o maior potencial no mundo para o crescimento desta faixa entre 250cc e 750cc por conta da enorme frota circulante de motos com cilindrada menor do que 300cc. Já observamos um crescimento de em torno de 7% desta faixa para os atuais 12%. O sub-segmento das trails vem participando deste crescimento por proporcionar aos clientes uma moto versátil, confortável e segura. Já contamos com a Himalayan que hoje representa 60% de nossas vendas e oferecer ótimo custo benefício, estilo único e experiência de pilotagem em outras faixas de preço está em nossos planos para o país.

“Nossa matriz tem como certo de que o Brasil representa o maior potencial no mundo para o crescimento na média cilindrada”, afirma o executivo. Foto: Fabiano Godoy

Moto Adventure – Esta semana o site Auto Car India revelou fotos-espiãs de um protótipo que se assemelha muito à Triumph Street Twin. Vem aí uma nova clássica da marca? E poderia ser vendida no Brasil?

Claudio Giusti – Não posso revelar produtos futuros já em desenvolvimento mas posso garantir que teremos ótimos produtos acessíveis mantendo o DNA da Royal Enfield.

Moto Adventure – Como o senhor avalia a participação da Royal Enfield no Salão Duas Rodas do ano passado? A marca pretende continuar a investir neste tipo de evento?

Claudio Giusti – O Salão Duas Rodas permitiu nosso contato com um novo cliente propenso a pilotar uma moto clássica, com potência para utilização na estrada e uma dirigibilidade urbana sem igual. Entendemos que o Salão é uma ótima oportunidade para termos contato com nossos clientes em um ambiente onde ele possa comparar produtos de várias marcas e condições de compra assim como para mostrar nossas novidades. Para a próxima edição, teremos novos produtos para expor mas a nossa participação está condicionada aos custos pois trata-se atualmente de um dos maiores investimentos que fazemos.

Moto Adventure – Para encerrarmos, que mensagem o senhor deixa aos leitores da Moto Adventure?

Claudio Giusti – Passamos por um momento em que a Royal Enfield, diferente de tudo que promovemos aos motociclistas, pede agora para que as motos fiquem na garagem. Aproveite para repensar em nossos modos de vida, em como interagimos com as pessoas e descubra a oportunidade que a pilotagem pode representar, trocando o mundo virtual das redes por experiências reais que só um passeio de moto pode proporcionar. Aproveite esta restrição para dar ainda mais valor aos passeios e interações com motociclistas, conhecendo novos destinos e aproveitando uma pilotagem segura.

A Royal Enfield estará com certeza ao seu lado, proporcionando estes momentos únicos, com produtos acessíveis e encantadores para os amantes do puro motociclismo.