Em nossa edição de número 241, trouxemos em nossas páginas um resumo da entrevista que o diretor-geral da Triumph Motorcycles, Renato Fabrini nos concedeu e agora, você confere a íntegra deste depoimento.
Boa leitura!
Moto Adventure – Olá Renato, muito obrigado por atender a nossa reportagem e aceitar o convite de falar com nossos leitores. O senhor assumiu o comando da Triumph Motorcycles em outrubro do ano passado e o Salão Duas Rodas foi praticamente o seu début. Como o senhor avalia este período?
Renato Fabrini – Apesar de nunca ter atuado no setor de duas rodas, sempre tive um contato muito de perto com o segmento e principalmente com a marca Triumph desde 2012, ano em que a subsidiaria brasileira foi inaugurada.
Eu já tinha uma grande simpatia pela marca e produtos, então não foi difícil conciliar os interesses quando a oportunidade apareceu.
O mais engraçado foi entrar em uma nova empresa em que de forma indireta vivi e torci bastante nos últimos anos e por conta disto já conhecia praticamente todo mundo.
Foi uma transição muito legal com o time; tive a impressão que já trabalhava na Triumph há um bom tempo.
Acredito que o resumo deste ano pode se resumir em uma palavra: DESAFIADOR. Tive uma mudança de segmento e de cara já tivemos que enfrentar todos os desafios impostos pelo COVID-19, mas em geral temos nos saído muito bem.
Moto Adventure – E é possível comparar o segmento de duas rodas com o automotivo, que é de onde o senhor veio? Existe tal possibilidade?
Renato Fabrini – Existem grandes diferenças. Desde o ponto de vista de conceito de produto até características dos clientes.
Mas o que mais me surpreendeu foi a paixão que o cliente motociclista tem pela motocicleta e seu universo. É algo único e muito original.
Moto Adventure – Como a pandemia afetou o planejamento de lançamentos da Triumph Motorcycles para este ano? Ano passado vocês anunciaram que o objetivo era lançar 4 motos (Rocket 3 R, Street Triple 765 RS e Tiger 900 Rally Pro e GT Pro) e isso foi cumprido, mas havia alguma outra ação que foi atrapalhada?
Renato Fabrini – A pandemia no geral nos forçou a rever todo o planejamento, mas com todas as dificuldades colocadas acredito que estamos conseguindo fazer deste limão uma limonada. Todos os produtos previstos para o ano foram lançados e têm sido muito bem recebidos pelos nossos clientes. Manteremos nosso plano original. O foco da Triumph é o crescimento da nossa marca no Brasil, oferecendo os melhores produtos, experiências e satisfação para nossos clientes.
Moto Adventure – Ainda citando informação de 2019, vocês queriam chegar às 6.000 motos vendidas em 2020. Como imagina que encerrarão este ano em termos comerciais?
Renato Fabrini – Não devemos alcançar as 6.000 unidades; tivemos um impacto enorme em nossas vendas no período de março a maio, quando as lojas realmente estiveram fechadas e desde junho temos recuperado fortemente as vendas. O período de junho a outubro foi muito bom com respectivas quebras de recordes históricos de vendas nunca alcançados no Brasil. A pandemia ainda nos afeta visto que as nossas fábricas ficaram fechadas e o abastecimento para o final de ano também foi impactado. No final não teremos tempo hábil e motos para buscar as 6.000 unidades.
Moto Adventure – Falando em lançamentos, este ano a marca começou a vender a Rocket 3 R mas não fez nenhuma ação de lançamento junto à imprensa. A moto foi sendo encaminhada aos concessionários, começaram a ser vendidas, mas a mídia não foi notificada. Por quê?
Renato Fabrini – Basicamente o baixo nível de divulgação do modelo se deu pelo fato da alta receptividade do produto junto aos clientes, praticamente vendemos todo o volume previsto para o ano de 2020 no Salão Duas Rodas e depois veio a pandemia. A Rocket 3R é um produto sensacional e sem comparação; ainda temos lista de espera, precisei negociar um lote extra junto a matriz, mas com a pandemia as unidades não tiveram tempo de chegar dentro de 2020. O próximo lote já está a caminho e deve chegar no início de 2021, aí todos terão oportunidade de testar as motos como deveria ter sido feito em seu lançamento.
Moto Adventure – Voltando a falar sobre a pandemia, como os eventos de experience foram afetados? Programação de viagens, cursos e outras experiências…
Renato Fabrini – Sim, o nosso braço de experiências, a TRX (Triumph Ride Experience) foi muito afetado no começo e agora, dentro de todas as medidas de segurança e proteção estamos retomando os cursos e viagens. O que não nos deixa nenhuma dúvida é que os clientes terão as motocicletas como uma forte opção em virtude da crise do Coronavírus. As motos são uma excelente alternativa quando comparadas, por exemplo, com os transportes públicos. Já percebemos um novo comportamento dos consumidores que estarão focados em alternativas de viagens próximas às suas residências, em ambientes seguros e com menos exposição à aglomeração de pessoas. Os passeios de motos devem ter um crescimento significativo, pois permitem aliar uma viagem, reunir um grupo de conhecidos com total segurança sem altas exposições a grandes grupos de pessoas. A Triumph já está trabalhando intensamente junto ao seu braço de experiências, a TRX (Triumph Ride Experience) que oferece um pacote completo de novas experiências dedicadas ao já atual público motociclista e para os futuros clientes que desejarem entrar no mundo das experiências em duas rodas. Neste ano, por exemplo, com o lançamento do projeto Triumph Women For The Ride, criamos um pacote totalmente focado em experiências para o público feminino.
Moto Adventure – Como a Triumph Motorcycles Brasil está posicionada em vendas em relação aos demais países onde a marca atua?
Renato Fabrini – Os mercados de maior sucesso são o americano e o europeu, com Estados Unidos, França, Reino Unido e Alemanha liderando as vendas. O Brasil está conquistando cada vez mais espaço entre os líderes, aumentando o numero de vendas ano após ano. Somos o país que mais vende Tiger no mundo e atualmente estamos em 5º lugar em vendas totais entre todas as subsidiárias.
Moto Adventure – Hoje, se somarmos os números de vendas no atacado dos três modelos big trail da marca, chegamos a quase 55% de participação. Hoje a Triumph está refém deste segmento?
Renato Fabrini – Acredito que não; as vendas de big trail sempre terão um percentual alto, mas estamos verificando uma excelente performance no segmento de roadster com a nova Street Triple e as vendas de clássicas crescem mês a mês; elas estão conquistando cada vez mais o publico brasileiro e se mostrando como a melhor opção para o uso no dia-a-dia.
São produtos excelentes, que aliam o melhor da tecnologia e engenharia, com a facilidade de pilotar em cidades e também estradas. É uma ótima solução de mobilidade em grandes centros urbanos. Além disso, é um segmento que tem uma história, lifestyle e universo muito rico. Neste mês lançamos a nova ofensiva de customização das Clássicas, o projeto TCM (Triumph Custom Made) que tem por objetivo trazer o caráter único e de exclusividade a nossas motos; os primeiros modelos customizados com a garagem Shibuya foram a Street Scrambler e a Speed Twin. Foram 40 unidades numeradas e exclusivas que após o lançamento foram todas vendidas em poucos dias. O cliente deste segmento quer esta exclusividade e potencial de customização que as nossas motos clássicas possuem. Em virtude do sucesso já estamos programando a nova onda de customizações para o início de 2021 agora com a Street Twin e Bobber Black.
Moto Adventure – E quanto a concessionários? O que estava programado para 2020 e o que está para 2021?
Renato Fabrini – Atualmente temos 18 concessionárias em todo o país.
E mesmo com toda a pressão colocada pelo COVID-19 a Triumph do Brasil lançou três novas lojas totalmente renovadas dentro do nosso padrão Triumph World Black: BH, Curitiba e Brasília. Este é um exemplo de quanto a nossa rede de concessionária não só aposta na marca como também em criar o melhor ambiente para todos os nossos clientes. Para 2021 o desafio está em abrir novas lojas sem diminuir o volume médio da atual rede de concessionários; queremos que as novas aberturas realmente representem volume adicional à marca e estamos com uma postura bem pé no chão sobre o tema.
Moto Adventure – Por fim, com qual cenário – ou cenários – a Triumph Motorcycles trabalha para 2021? Preveem que haverá um novo fechamento do mercado devido à subida nos casos de Covid-19 ou não?
Renato Fabrini – Ainda é muito cedo para concluir se haverá um novo fechamento do mercado e por enquanto a Triumph mantém as suas projeções de crescimento e novos lançamentos para o mercado para 2021. O que posso assegurar é que hoje estamos muito mais fortalecidos e aptos a prestar um atendimento muito melhor do que tínhamos no início da pandemia e fomos pegos de surpresa; hoje os nossos canais digitais e a nossa rede de concessionárias está muito melhor preparada para lidar com as adversidades impostas pelo COVID-19.