Acompanhe aqui a entrevista completa que fizemos com o aclamado piloto da Honda, que volta ao Brasil após três anos competindo na Europa, dividindo-se entre os Mundiais de MotoE e de Superbike.
MOTO ADVENTURE – Como você avalia a experiência que você viveu no WSBK?
ERIC GRANADO – Eu avalio a experiência no WSBK muito boa para minha vida, para minha carreira, por eu ter conseguido ganhar muita experiência com pilotos de altíssimo nível. Eu acredito que é uma experiência única, que pouquíssimos pilotos na história do motociclismo tiveram oportunidade de ter. Eu tive a chance de estar lá, fazer a temporada, aprender, disputar e dar o meu melhor na pista, então acho que foi uma experiência que vale muito a pena eu ter vivido. Pude entender como funciona esse mundo, essa categoria, que traz essas motos de altíssimo nível derivadas de série. O WSBK é a categoria máxima da motovelocidade que tem como base os modelos vindos das ruas, então acho que foi muito interessante fazer parte disso para aprender e evoluir como piloto.
MOTO ADVENTURE – O que você acha que faltou para replicar lá o sucesso que vivenciou no Europeu de Moto2?
ERIC GRANADO – Eu acho que são cenários bem diferentes, campeonatos bem diferentes, momentos diferentes da minha vida, com motos diferentes. A gente, no Campeonato Europeu, participava com uma moto que tinha o mesmo motor para todos os pilotos e era minha terceira temporada. No Mundial de Superbike era meu primeiro ano, tinha pistas que eu não conhecia, é uma categoria que tem várias motos de várias marcas – cada uma com seus pontos fortes e fracos -, então acredito que é difícil comparar um campeonato com outro, foram experiências diferentes. No Mundial de Superbike, no conjunto todo, além de ser o primeiro ano, acabei me machucando e não consegui fazer uma temporada contínua. Fiquei um tempo fora das pistas e não pude desenvolver a moto como eu gostaria por conta disso também, junto com o projeto da Honda, que busca ser uma moto ainda mais competitiva, então acho que foi uma série de fatores e acabou sendo um ano difícil para mim. Especialmente por causa da lesão e das quedas, eu sempre fui um cara que tentei e me dediquei ao máximo, mas levo isso como uma grande experiência na vida.
MOTO ADVENTURE – Qual ensinamento você carrega de tua participação no Mundial de Superbike e que você vai levar para tua vida?
ERIC GRANADO – Eu acredito que o maior ensinamento foi eu poder aprender com pilotos mais experientes, poder competir com pilotos que correram na Moto GP. Álvaro Bautista, Danilo Petrucci, o próprio Jonathan Rea, que foi 6 vezes campeão mundial, o (Toprak) Razgatlıoğlu, todos são pilotos que estão em altíssimo nível e eu pude aprender um pouco do comportamento dentro da pista, como eles se comportavam dentro de cada autódromo com suas características diferentes. Isso foi o que mais somou na minha carreira e também como lidar com várias situações, sendo situações boas e situações ruins, dificuldades de pistas em várias condições. A gente viaja o mundo correndo em vários autódromos, em condições completamente diferentes, que eu não tinha vivido ainda, então tudo isso soma muito para a minha carreira.
MOTO ADVENTURE – Já na MotoE, ano passado o acidente que você sofreu no início da temporada do WSBK em Barcelona, acabou comprometendo suas expectativas de brigar pelo título de 2023. Como você lidou com isso? Digo, emocionalmente mesmo, como você gerenciou isso ao longo do ano?
ERIC GRANADO – Realmente foi um ano muito difícil, 2023, eu tive uma lesão no mês de maio e, obviamente, nunca imaginei que a temporada seria comprometida por uma lesão importante. Eu sempre tive muita sorte de nunca ter sofrido lesões sérias na minha carreira e sempre conseguir dar o meu melhor durante toda a temporada, sem ficar um tempo fora. Foi a primeira vez que eu fiquei um tempo ausente da temporada no meio do ano, então foi uma situação que eu tive dificuldade no começo para entender e aceitar, porque eu vinha como um candidato forte para vencer o título – fui vice em 2022 e o piloto mais rápido na pré-temporada. Tive que ter um trabalho mental muito importante com a minha família, com a minha noiva, com a minha equipe e com todos que estão ao meu redor para poder levar essa situação da melhor forma possível. Mas foi difícil, perdi muito nesses 45 dias que eu fiquei fora da pistas e sem poder treinar, tanto física quanto mentalmente, o reflexo, todo o trabalho que não pude fazer porque fiquei parado, sem fazer nenhuma atividade. Consegui durante o ano ir recuperando essa confiança e hoje em dia estou na melhor forma física.
MOTO ADVENTURE – De todos os circuitos e Grandes Prêmios que já participou até hoje, qual foi aquele que mais curtiu, seja pelo exotismo, seja pela diversão, seja pelo quanto você se sentiu bem?
ERIC GRANADO – O meu circuito preferido é o de Mugello, na Itália, por vários motivos: o autódromo é incrível, uma pista mágica, com muitas curvas rápidas de subidas e descidas, uma sequência de esses, que eu gosto muito. E é uma pista que foi muito especial na minha vida, no ano passado, depois de ter sofrido o pior acidente da minha carreira eu pude voltar a competir em Mugello na Itália e vencer a corrida de baixo de muita chuva, então essa vai ficar a minha preferida para sempre.
MOTO ADVENTURE – Como é correr dois campeonatos importantes ao mesmo tempo? Como é ficar longe de casa muitos dias do ano, administrar pressão, lesões, cobranças, jet lag…? O que é que mais “pegava” quando você viveu isso?
ERIC GRANADO – Eu corro dois campeonatos já faz muitos anos, acho que essa é minha décima temporada fazendo dois campeonatos ao mesmo tempo, então essa questão não foi um problema para mim. A questão é mudar de moto. Isso é algo que me adaptei muito bem nos últimos anos e sei mudar esse “chip na cabeça”, digamos, de uma moto para a outra. Claro, o ano passado foi mais intenso porque eram dois campeonatos mundiais, e eu estava sempre viajando para países muito longe. Tive corrida na Indonésia, corremos na Austrália e viajei a Europa inteira, então foi cansativo fisicamente – mas eu estava muito feliz porque estava participando de campeonatos de altíssimo nível. Eu moro na Espanha já faz alguns anos então para mim foi mais fácil daqui de Barcelona ir para as etapas, o que é bem menos cansativo do que na época em que eu morava no Brasil, um tempo atrás, quando realmente era mais difícil o cansaço das viagens para fora da Europa. Mas de resto era uma rotina que eu já estou acostumado, em uma ou duas horas de voo eu já estava no autódromo, é tudo muito próximo da Espanha então para mim a questão das viagens eu consegui ir aos poucos administrando. O que realmente pegou para mim foi a questão das lesões, tive muitas quedas durante o ano e isso foi bem difícil. Acho que a lesão para um atleta de alto nível é o que mais pega durante a sua carreira.
MOTO ADVENTURE – Falando em MotoE, você cravou a pole em Portimão, caiu quando brigava pela vitória na primeira prova e finalizou em quarto na segunda. como analisa teu início de temporada?
ERIC GRANADO – Eu fiquei muito feliz com o meu início na MotoE nessa temporada. Eu tenho que dizer que na pré-temporada a gente foi muito bem, mas não conseguiu demonstrar toda a velocidade que eu tinha no passado. Foi um teste importante, poder experimentar vários acertos da moto, entender várias coisas de como a moto funciona e como eu poderia ser mais competitivo. Isso depois gerou o resultado no final de semana de provas, consegui ser bem rápido em todas as condições – seja com pista molhada ou pista seca – e isso me deu bastante confiança. Infelizmente tive aquela queda na corrida um, fiquei muito chateado, tudo que eu queria era poder manter a minha constância esse ano e não cometer nenhum erro e pontuar em todas as provas, mas infelizmente por vários motivos eu acabei tendo essa queda, obviamente foi um erro meu. A gente tinha feito algumas mudanças na moto, acreditando ser a melhor opção para ser mais rápido, mas depois vimos que não era o ideal e voltamos atrás para a corrida dois, e a moto estava perfeita. Não cometi nenhum erro nessa segunda prova, tive que ser um pouco mais conservador para acabar e pontuar, ainda assim briguei pela vitória até a última volta, então foi uma corrida positiva. Temos mais quatorze corridas pela frente e o meu foco tá 100% nisso, o que eu mais quero é poder buscar esse título da MotoE e, ao longo do ano, seguir tendo resultados maravilhosos no Brasil. Quero buscar o título do SuperBike Brasil também, um campeonato muito importante que eu voltei a competir neste ano.
MOTO ADVENTURE – Este ano você voltou a competir no SuperBike Brasil após três anos dedicando-se a andar no exterior. Como foi este retorno?
ERIC GRANADO – Sim, estou de volta! A gente trabalhou junto com a Honda durante esses últimos 10 anos, é a minha décima temporada como piloto Honda. A gente fez vários campeonatos no Brasil, venci seis títulos nacionais (dois na 600cc e quatro na 1000cc), fomos para a Europa e fiz o Campeonato Espanhol por dois anos, fiz o Campeonato Mundial de Superbike. A gente conseguiu resultados bem legais durante todos esses anos, vários títulos, várias vitórias, muitos resultados interessantes também no Campeonato Espanhol, foram vários pódios, então foram anos de muitas conquistas. Juntos, decidimos que o melhor passo agora era fazer o SuperBike Brasil novamente. Então eu fiquei feliz de voltar a competir aqui no Brasil, encontrar os amigos, encontrar o Reinaldo (Campos, chefe de equipe da Honda Racing), encontrar minha equipe e tentar, de certa forma, ajudar o campeonato a crescer e evoluir junto com o time. Então acho que foi um passo interessante e foi muito legal poder voltar correr em Interlagos, que para mim é uma pista muito especial.
MOTO ADVENTURE – E como analisa este início de temporada? Como analisa o nível dos pilotos e da competição, agora que voltou para casa?
ERIC GRANADO – O início do campeonato no Brasil foi incrível, eu fiquei muito feliz com a minha volta para o SuperBike Brasil. Eu tenho que dizer que eu precisei me adaptar bastante, ainda estou me adaptando. A pista de Interlagos mudou bastante desde a última vez que eu que eu corri lá, os pneus são diferentes, a moto é diferente. Essa motocicleta não é igual a que eu corri no WSBK, tem muita diferença, então tive que encontrar meu acerto ideal. Junto com o Reinaldo e toda a equipe trabalhamos bastante para conseguir encontrar um acerto ideal e eu pude vencer as duas primeiras provas. Então começamos muito bem, obviamente os outros pilotos estão melhorando e são cada vez mais rápidos. O nível não vai ser igual o ano todo, os pilotos vão estar cada vez mais próximos e vai ser difícil para conseguir manter a ponta, então eu tenho que me dedicar, me esforçar. Meus companheiros são muito rápidos, tem pilotos de outras marcas também evoluindo, então com certeza quem pensa ‘venceu as duas provas, está ganhando fácil´, não é bem assim. É muita dedicação. Mas começamos bem e espero continuar nessa linha durante todo o ano.
MOTO ADVENTURE – Como compara a moto que usava no WSBK com a que está utilizando aqui no Brasil?
ERIC GRANADO – A moto do Brasil é bem diferente da do Mundial de Superbike basicamente por conta do regulamento. O Mundial de Superbike é muito mais aberto para preparação e mudança, então basicamente a moto é quase um protótipo, ela tem outro chassi, outra balança, outras regulagens de motor, a moto tem aerodinâmica um pouquinho mais trabalhada em túnel de vento. Enfim, a moto é bem mais potente com mais eletrônica, então muda muito. A moto do Brasil é uma moto stock com algumas mudanças feitas com relação ao modelo de rua, então chassi original, balança é original, na suspensão você pode mudar somente a parte interna, as rodas são originais, tudo isso faz com que, obviamente, a moto tenha outra performance. Então tive que me adaptar e acertar essa moto com essa configuração para que eu fosse mais rápido. As duas motocicletas são realmente bem diferentes uma da outra.
MOTO ADVENTURE – E qual análise comparativa você faz entre a moto da MotoE e uma Superbike de 1000cc?
ERIC GRANADO – São motos bem diferentes, a MotoE é uma moto elétrica, com a entrega de potência de 0 a 100km/h imediata, a moto tem 2.6 segundos de 0 a100, então é muito rápida e é uma moto um pouco mais pesada, com 225 kg. A gente não tem marcha, e há essa questão do peso que a gente sente na pilotagem, então é algo que você tem que se adaptar no começo, mas depois fica normal e a pilotagem é bem parecida com a moto de 1000cc. Já a superbike é uma moto derivada de série, com 1000cc, seis marchas e entrega de potência um pouco mais linear, porém constante. A MotoE entrega de 0 a 100, 150 km/h de forma muito imediata, a partir de 200km/h ela é um pouco mais linear. Já a superbike cresce sempre do começo ao fim, obviamente por conta da entrega por marcha. Então acho que as diferenças maiores são o peso, as marchas e a entrega de potência, mas de resto são duas motos que dá para pilotar e se divertir bastante.
MOTO ADVENTURE – Para encerrarmos, você ainda pensa em seguir competindo no exterior?
ERIC GRANADO – Sim, com certeza, minha carreira é aqui no exterior desde 2006 e eu vou continuar aqui sim, vou continuar morando aqui, minha vida é aqui, vou para o Brasil para as competições no SuperBike, mas minha rotina está sendo aqui faz muitos anos. E vou continuar, eu gosto muito da MotoE mas nada impede de ter uma outra oportunidade um outro campeonato, WSBK, ou até outra categoria dentro do MotoGP, também nunca se sabe né, moto 2 ou quem sabe a MotoGP algum dia, mas no momento eu estou muito feliz com a MotoE, quero continuar nesse projeto junto com o SuperBike Brasil e a Honda Racing. Assim seguiremos, se tudo der certo, no que vier pela frente, mas o meu foco está nesta temporada e depois para o ano que vem a gente pensa no próximo passo.