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Aos 95 anos de idade e pilotando desde os 16, esta vovó que ama longas viagens fez do estilo de vida em duas rodas sua razão de viver.

Texto: André Ramos

Fotos: Thunder Press/Divulgação

Gloria nasceu em 1925, em um quarto nos fundos da loja onde seus pais, Ernest e Pierina, onde comercializavam motos das marcas Henderson e Excelsior, na Lexington Avenue, em Clifton, Nova Jersey. Quando tinha somente três anos, seu pai faleceu de gangrena, fruto de um acidente com sua moto e para tentar minimizar os problemas, seu tio Joseph, que trabalhava em uma fábrica precária, passou a ajudar na loja em meio período. Como não tinham com quem deixar a criança, ele frequentemente a levava para onde trabalhava. Ela nunca se esqueceu do papelão que colocava nas solas dos sapatos, quando estes se desgastavam e da fome frequente que sentia.

Apesar disso, a família continuava sobrevivendo, com ela trabalhando na loja, pagando contas e fazendo a contabilidade básica. Seu irmão, Arthur (chamado de “Bub”), cinco anos mais velho, era quem vendia as motos e peças (a loja agora era um revendedor Indian), fazia manutenções e também, quem as testava – e fazia bem isso!

Quando Pearl Harbor empurrou os Estados Unidos para a Segunda Guerra Mundial, ele foi trabalhar para a Indian e ajudou a desenvolver suas motos militares, e acabou entrando para o Exército.

Apesar de literalmente ter crescido em uma loja de motocicletas, Gloria não tinha muita vontade de aprender a andar, mas acabou convencida pelo irmão. Em 1941, aos 16 anos, pilotou pela primeira vez: foi com uma Indian Scout 1931. A partir de então, nunca mais parou.

Sua primeira moto foi uma Indian verde-camuflada que, ironicamente, Bub ajudara a projetar enquanto trabalhava na Indian. Em 1946, aos 21 anos, tornou-se membro das Motor Maids, um dos primeiros moto clubes femininos, e foi então que começou a fazer suas primeiras viagens.

Mas sua primeira grande viagem aconteceu em 1950, uma jornada de 1.800 quilômetros de ida e volta para o Canadá (via Pensilvânia, Ohio, West Virginia, Canadá e pelo norte do estado de Nova York) para conhecer Marion Oler, membro das Motor Maids. Foi revelador. “A partir de então, eu estava viciada em passeios de motocicleta. E praticamente desde aquela viagem, tenho viajado em minha motocicleta, conhecendo pessoas, vendo o país – e o mundo – e simplesmente curtido isso”, revela.

Anos depois, Gloria conheceu um veterinário do exército chamado Len com quem se casou, criou dois filhos (Lori e Glen), tornou-se uma representante da Avon de grande sucesso (trabalhando lá por 44 anos!) e, claro, continuou pilotando, viajando e vivendo um estilo de vida motociclista. Ao longo do caminho, ela fez milhares de amigos, ganhou vários prêmios, entrou em vários Halls da Fama e conquistou a popularidade de grande parte da indústria e dos motociclistas.

Aos 95 anos, Gloria estima ter percorrido ao longo de sua vida 1.050.000 km, em onze Harley-Davidsons e três Indians que possuiu. Para seu 90º aniversário em 2015, ela fez uma viagem de mais de 2.700 km, de New Jersey a New Brunswick, para acompanhar um evento das Motor Maids.

Recentemente, um tombo na igreja resultou numa fratura de quadril e em uma cirurgia que a colocou em uma cadeira de rodas que, sem dúvida, não é o tipo de transporte em duas rodas que ela preferia. Mas apesar da idade avançada, Gloria continua otimista e afirma: “vou voltar a pilotar!”.