Ela escolheu as insanas e tensas provas de arrancada para canalizar sua paixão pelas duas rodas. Conheça a história desta sueca que doma um monstro de 750 hp com naturalidade e doçura.
Texto: André Ramos
Fotos: Divulgação/Arquivo Pessoal/Henrik Vormdohre
Em nossa edição 246 trouxemos uma reportagem especial mostrando a história de Ida Zetterström, uma sueca que poderia ser modelo, mas que escolheu o ácido mundo das provas de drag race para canalizar a sua paixão pela motocicleta.
Hoje, seus resultados fazem dela a mulher mais rápida do mundo sobre uma moto, tendo alcançado marcas e feitos que até então, jamais uma mulher havia conseguido, e agora, você confere, na íntegra, uma entrevista exclusiva que realizamos com ela.
Este é mais um conteúdo feito para você, que faz parte da galera dos Melhores Motociclistas.
Boa leitura e… Let’s go together!
Moto Adventure – Ida, muito obrigado pela gentileza em nos atender. É um prazer para nós e para nossos leitores este nosso bate-papo. Quando você era adolescente, o que seus amigos diziam, especialmente as garotas, a respeito de sua paixão pelo mundo das arrancadas e das motos?
Ida Zetterström – Muito obrigada pelo convite! Quando eu cresci, acho que a maioria dos meus amigos não entendia bem o quão grande era minha paixão por corridas; eles sabiam que eu corria e eu falei muito sobre isso, mas foram principalmente meus amigos e família na pista que realmente entenderam do que se tratava. Acho que pode ser difícil entender, se você nunca fez isso sozinho, o quão viciante esse esporte pode ser.
Moto Adventure – Mas por que as corridas de arrancada e não uma outra modalidade, digamos, “mais normal”, como o enduro, o motocross, ou mesmo as pistas ou track days?
Ida Zetterström – Por várias razões. Primeiro de tudo, eu cresci em uma pista de corrida, participei de corridas desde que tinha apenas 3 semanas de idade, então me apaixonei pelo esporte muito cedo e ganhei minha primeira dragster Jr quando tinha apenas 8 anos de idade, limite de idade naquela época. A segunda razão é principalmente porque você não é capaz de obter essa aceleração em nenhum outro lugar. Eu tentei motocross, enduro e tudo é tãããão divertido, mas nada se compara a ir tão rápido quanto nós, pelo menos para mim este é pico máximo de adrenalina e eu não acho que poderia encontrar nada semelhante em outra modalidade.
Moto Adventure – O que os homens diziam, no início de tua carreira, quando viam que disputariam com uma mulher? E mais: como reagiam quando tomavam um couro de você?
Ida Zetterström – Quando eu era mais jovem e corria na Dragsters Jr e na Dragster Supercomp, nós tínhamos mais mulheres, então eu realmente não vi isso como “estranho”, mas quando fui para uma classe alta, senti um “foco” totalmente diferente no fato de ser mulher. Todo mundo tem sido muito gentil comigo, embora eu sinta que alguns homens não gostam de perder para uma garota; alguns são mais difíceis do que outros, mas pode definitivamente ser difícil para alguns. Ao longo dos anos, quando progredimos e realmente mostramos que o que podemos a todos, acho que conquistamos nosso respeito nessa categoria – e isso é ótimo.
Moto Adventure – quando você percebeu que essa coisa chamada Drag Races estava se tornando séria?
Ida Zetterström – Eu sempre sonhei com uma carreira em corridas, e corridas de arrancada sempre foram sérias para mim em algum nível. Nós tivemos alguns anos muito bons enquanto competíamos na Dragsters Jr, com muitas vitórias. Mas foi somente nos últimos 2 ou 3 anos que eu senti que realmente conhecíamos nosso lugar no esporte e poderíamos ir para pódios e campeonatos. Ainda estou muito longe de me considerar uma piloto profissional e fazer isso para viver, mas estou dando pequenos passos em direção a esse objetivo todos os dias e só sei que quero estar envolvida no esporte em tempo integral de uma forma ou outra. Por exemplo, acabei de abrir minha própria empresa de marketing trabalhando com marketing e corridas.
Moto Adventure – Seguindo este raciocínio, o que você sentiu quando conquistou seu primeiro título no esporte?
Ida Zetterström – Foi ótimo, foi uma grande conquista para mim e para toda a equipe. No ano anterior, tivemos um ano louco, com acidentes, reabilitação, recordes e tudo o mais, muitos altos e baixos e anos depois, quando vencemos a série, parecia uma recompensa por todo o trabalho duro e sacrifício. E, no final, a vitória coube ao piloto que tinha sido mais consistente durante a temporada com passagens rápidas em quase todas as corridas. Isso foi algo que me deixou especialmente orgulhosa, mostrando um grande trabalho em equipe. Consistência é a chave.
Moto Adventure – Você consegue descrever a sensação que é acelerar um monstro cujo motor produz insanos 750 hp e alcança mais de 330 km/h em menos de 7 segundos?
Ida Zetterström – É tão difícil de descrever… (risos). Durante a corrida você está tão focada que realmente não pensa sobre isso. É só quando você aperta de volta a embreagem e você “relaxa” um pouco que pode sentir a onda de adrenalina passando por você.
Moto Adventure – Falando nela, conte-nos um pouco sobre o que tem em sua moto, suas modificações, etc.
Ida Zetterström – Eu corro com uma (Suzuki) Hayabusa 1300 cc, controlada por uma ECU FuelTech FT600 e sobrealimentada por uma turbina Xona Rotor, que fazem a potência chegar aos 750 hp, como você disse. Para a categoria, a moto é alongada e tem 1.727 mm de comprimento. Nós competimos com pneus de rua e sem wheelie bars (dispositivo que impede a moto de empinar nas largadas), esse é o charme da classe. Nós construímos os motores, modificamos a moto e ajustamos tudo por nós mesmos, e formamos a equipe Alandia Motorsport.
Moto Adventure – Imagino que para você fazer o que faz precisa cumprir um rigoroso regime de treinamentos físicos. Estou certo?
Ida Zetterström – Eu realmente não sou uma rata de academia; eu me esforço para ir à academia porque preciso, mas realmente prefiro fazer algo que adoro que me faça esquecer que treino, como motocross, jetski ou algo semelhante. Claro que isso não é possível o tempo todo, então eu tento sair com minha bicicleta, faço longas caminhadas, musculação e um pouco de ioga para equilibrar a mente e o corpo.
Moto Adventure – Você é eletricista de formação. Este background te ajuda a fazer ajustes na sua moto? Imagino que seja necessário um feeling muito desenvolvido para conseguir captar o que a moto está te passando e conseguir exprimir isso ao seu time para conseguir chegar à sua máxima performance…
Ida Zetterström – Eu realmente não faço ajustes na moto sozinha; temos nosso preparador, o Arttu, que faz isso; o Kim faz o acerto dos motores e embreagem e meu pai geralmente trabalha acertando amortecedor e chassis. Eu ajudo no box e se necessário, faço minha parte também neste aspecto. Por exemplo, sempre fiz a embreagem sozinha nos anos anteriores, quando tínhamos uma equipe com duas motos. Posso abrir um motor, se necessário, e posso ajudar o Kim quando ele está desenvolvendo um motor e precisar de ajuda. Basicamente, quero saber o máximo possível para poder ajudar, se necessário.
Moto Adventure – Você se imagina um exemplo para outras mulheres? Você acredita que este exemplo pode estar ajudando a empoderar outras mulheres a irem atrás de seus objetivos e a acreditarem que elas também podem alcancá-los?
Ida Zetterström – Eu espero ser. Eu realmente não me via dessa forma; só tenho feito minhas coisas e o que amo, mas nos últimos dois anos tenho recebido surpreendentemente muitas mensagens de pessoas, especialmente garotas, dizendo que sou uma inspiração para elas e isso tem me deixado incrivelmente feliz e orgulhosa. Se eu perseguir meus objetivos e com isso, puder ajudar outra pessoa a perseguir seus objetivos também, então isso é uma vitória para mim!
Moto Adventure – Você tem planos de competir nos Estados Unidos?
Ida Zetterström – Eu já tive a oportunidade de competir por lá e realmente gostaria de voltar a correr nos EUA um dia. Não tenho nenhum plano para isso no momento, mas está definitivamente no meu plano de longo prazo.
Moto Adventure – Para encerrarmos, por favor, deixe uma mensagem para nossos leitores e leitoras.
Ida Zetterström – Muito obrigada por ler esta entrevista! Eu ainda não fui ao Brasil, mas espero ir um dia e na ocasião, irei visitar a Fueltech Brasil! Persiga seus sonhos, nenhum sonho é muito grande! Um grande beijo em todos vocês.
Instagram: @dragsterfia