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A realização de um sonho

O emocionante relato de nossa leitora que ao chegar à cidade que seu pai sempre quis conhecer na Hungria, soube em uma ligação no meio da madrugada, que ele havia falecido no Brasil.

Texto e Fotos: Rosana Draschi

Esta viagem foi totalmente dedicada ao meu falecido pai, Giuseppe Draschi, pois eu passaria por Budapeste, a cidade que tanto sonhou em conhecer. Este foi um tour planejado através da empresa Alive Moto Tours, com toda segurança, carro de apoio e tranquilidade ao longo de 3.200km  de lindas paisagens e muita emoção.

Ainda no Brasil e quase cancelando a viagem, fui ao hospital visitar meu pai, pois ele já estava diagnosticado com câncer terminal. Nossa conversa foi muito tranquila. Com muito carinho, me disse: “eu estarei aqui quando você voltar, para ver as fotos e os vídeos de onde você passar. Não deixe de ir; você não vai poder ficar aqui comigo no hospital, e viajar e conhecer novos lugares é o que você vai levar na sua memória para sempre Vá tranquila, não quero que cancele; estou muito feliz por você”.

E com o consentimento dele, de minha mãe e minha irmã, eu segui viagem. Independentemente de ir ou não, se algo acontecesse, eu jamais iria ao velório, pois queria e quero guardar aquele lindo sorriso e nossas boas conversas.

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No dia 12/08/17, já em Munique (Alemanha), seguimos rumo a Salzburg (Áustria), por estradas secundárias muito lindas. No caminho, claro, uma parada para o almoço no Restaurante Steghouse, localizado no lago Chiemsee, no município de Gstadt Am Chiemsee, no distrito de Rosenheim, Baviera. Que lugar maravilhoso. Lá podemos também pegar uma embarcação para conhecer um dos Castelos mais fantásticos construídos pelo rei Ludwig, o Herrenchiemsee, localizado na ilha de mesmo nome.

Ainda naquela tarde chegamos a Salzburg, dando tempo de passear pela bela cidade de Mozart, que cidade encantadora. Quanta coisa passou em minha mente naquele dia de viagem. Vendo aquela bela estrada, quanta esperança ainda havia dentro de mim.      

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No dia seguinte seguimos para Ljubliana (Eslovênia), ao longo de 320km de muita beleza, pois passamos pela bela Road Nockalmstrasse, ainda na Áustria. Que estrada encantadora; que paisagens lindas que eu gostaria que meu pai presenciasse. Pelo caminho, eu ia lhe mandando fotos.

Depois de uma boa noite de descanso, tivemos a manhã livre para conhecer a bela Ljubliana (ou Liubljana). Aproveitamos para conhecer o Castelo Medieval que fica no centro da cidade e que leva o mesmo nome. Trata-se de uma fortaleza construída no século XI e reconstruída no século 12. Quão maravilhosa é a vista para a cidade! Conseguimos ainda passear um pouco pela praça, mas não podíamos nos demorar, pois nossa saída seria às 13h.

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Apenas 200 km nos separavam da pequena e encantadora cidade à beira-mar de Vrsar (Croácia). Que estrada! Cercada por muitos vinhedos e paisagens lindas, fica localizada no município de Ístria, ainda na Croácia, e banhada pelo mar Adriático.

Pense em praias lindas de águas transparentes. Para caminhar na praia ou entrar no mar, o ideal é usar sandálias plásticas, pois não tem areia e sim, muitas pedrinhas. Mas que lugar linnnndddooooo! Tive a oportunidade de andar em um mini submarino que faz um pequeno tour pela costa da praia principal; na verdade, ele fica metade submerso, deixando as janelas debaixo d’água, o que nos permite fazer um passeio muito diferente, vendo o fundo do mar. Com certeza meu pai iria se divertir com esse passeio; ele também adora o mar, a praia e os peixes.

Neste dia alguns participantes do grupo optaram por fazer o passeio de barco que vai até Veneza, na bela Itália, origem do meu pai. É um trajeto de cerca de três horas ida e depois volta, mas para quem não conhecia foi muito válido. Como eu já havia passado por Veneza em outra oportunidade, preferi ficar em Vrsar para aproveitar o mar e caminhar pelas pequenas ruas, de cujos pontos mais altos pode-se avistar o mar.

Que gratidão imensa em saber que tudo o que aprendi, o que eu sou, inclusive pilotar, eu devo ao meu pai, e estar nessa viagem era por ele. Eu ainda tinha e esperança de que dias melhores viriam, mesmo tento a certeza do destino certo. 

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Neste dia meu coração estava mais calmo e Zagreb (Croácia) seria o nosso próximo destino. No caminho de 300 km, paramos na maior cidade da Croácia, Pula, onde pudemos conhecer a grande Arena de Pula, um anfiteatro do tempo do Império Romano onde ocorreram muitas lutas de gladiadores.

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Com a chegada a Zagreb por volta das 17h30, aproveitamos para caminhar e conhecer um pouco da arquitetura austro-húngara da cidade, onde destaca-se sua catedral no estilo gótico com duas torres, uma delas em reforma. Confesso que a ansiedade não me deixou dormir direto naquela noite, pois a viagem do dia seguinte seria rumo a tão sonhada Budapeste (Hungria)

A partida

E finalmente chegara o dia 17/08/2017. Depois de um belo café da manhã, subimos nas motos já preparadas para seguirmos viagem. Em uma das paradas para um lanche, como de costume, recebi mais uma chamada de vídeo do meu pai. Mesmo sentindo que poderia ser a última, eu ainda queria acreditar que pudesse ser diferente. Ele, sem forças, tentava me dizer que iria começar o tratamento, pois o catéter estava ok. Como perder as esperanças, quando você aprende com seu próprio pai, a nunca desistir?

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Segui pilotando por aquelas belas estradas, sempre conversando dentro do meu capacete com o Senhor Deus, pedindo para que decidisse o que fosse melhor para ele, sem sofrimento. Rodados 380 km, chegamos à linda Budapeste e eu como sempre em cada cidade nova que chego, começo a chorar, pois sinto na alma uma grande emoção. Nos hospedamos no lado Buda da cidade (a cidade, que é dividida pelo Rio Danúbio, tem cada lado com seu nome, o Buda e o Peste). Que cidade maravilhosa, que sonho em um dia lindo de verão. “Ahhhh pai, quão linda é esta cidade”

No mesmo dia aproveitamos para dar uma volta, atravessamos a linda Ponte Liberty Bridge rumo ao lado Peste e fizemos um lanche no mercado municipal. Que delícia de lugar; tirei muitas fotos para enviar ao meu pai. Voltamos para o hotel e tivemos uma noite agradável ainda com os amigos de viagem. Me recolhi para uma boa noite de sono, pois queria acordar cedinho e aproveitar o dia para conhecer tudo o que desse e tirar mais fotos. Assim que me deitei, fiz minha oração e logo adormeci.

Mas à 1h30 da manhã em Budapeste (19h30, horário de Brasília), meu celular começou a tocar: era o óbvio naquele horário e recebi a triste notícia da partida do meu pai. Que noite difícil; quer dor horrível!

Ainda de pijama, entrei na banheira e chorei até quase amanhecer. Era preciso lavar a alma, mesmo com a certeza de que fora o melhor para ele não sofrer, afinal era o que eu sempre pedia nas orações – que ele não sofresse – pois o destino já era certo com os resultados médicos.

E naquela manhã, decidi então que não ficaria chorando no quarto do hotel e sim, realizaria, através dos meus olhos o sonho do meu pai. Com todo amor, carinho e apoio dos amigos, saí e para minha surpresa, logo ao lado do hotel, a famosa Igreja na Pedra, conhecida como a Caverna de São Ivan, me presenteou com a sua energia. Ali, em um dos altares eu ajoelhei, chorei e rezei por ele.

Apesar da dor que apertava meu peito, a boa energia e a felicidade tomaram conta de mim; eu sabia que ali comigo ele estava, pois mesmo na cama do hospital, ainda no Brasil, ele não deixou eu desistir dessa viagem. Naquele momento, com muito amor e carinho conversamos, nos despedimos e sabíamos pelo nosso olhar, que seria a ultima vez que nos veríamos. Sei que você esperou eu chegar em Budapeste para partir. Naquela noite não acompanhei o jantar: me recolhi para rezar e pedir forças, para pilotar no dia seguinte.

No dia 18 saímos um pouco mais tarde, pois nosso percurso até Viena seria de apenas 285 km. Foi bom, pois eu estava em êxtase e pude, depois do café, colocar os pés no chão e subir na moto. Abri a pasta de músicas do pai e com a melhor música “India”, senti que ele estava na minha garupa e seguimos viagem.

E que delicia foi viajar margeando o Rio Danúbio! Neste dia, paramos para conhecer a Basílica de Esztergom, um lugar magnífico.

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Viena (Áustria) é eleita a melhor cidade do mundo para se viver e também é uma das cidades mais antigas do mundo (ano de 881). Que bela cidade, que linda arquitetura! E o dia seguinte livre para passear foi um presente que recebemos, mas confesso que estava meio dispersa; o coração apertado, às vezes o choro me pegava sem controle, mas consegui fotografar bastante para não me esquecer dos lindos lugares que passei.

De Viena, seguimos para as montanhas, apenas para passar a noite em Visoke Traty (Eslováquia), um lugar magnífico e bem frio. Nosso hotel ficava dentro de um parque nacional e para chegarmos a ele, passamos por uma estradinha maravilhosa em meio aos pinheiros.

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No dia seguinte rumamos para Cracóvia (Polônia), distante apenas 145 km. No caminho paramos em Auschwitz, onde o grupo se dividiu entre os que iriam efetuar a visita e os que preferiam seguir viagem. Confesso que assim que paramos na porta, comecei a chorar, assim como mais alguns. A energia daquele local realmente é muito forte e pesada e me trazia tristes lembranças das histórias de infância de meu pai em meio à guerra na Itália. Nosso amigo João Luiz, que dizia não acreditar nessas energias, depois nos relatou sua experiência com muita tristeza e aperto no coração. Realmente, Auschwitz é para poucos.

Seguimos viagem e levei a querida amiga Luciana em minha garupa, pois seu marido Luiz ficou na visita. Obrigado pela confiança Lu, pois não é pra qualquer um levar uma bela mulher de 1m80 na garupa – e que garupeira incrível! Chegando a Cracóvia, logo saímos para um passeio para conhecer o centro medieval e suas ruas e belas igrejas – adoro em cada local que passo, conhecer as capelas, igrejas e basílicas.

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530 km separavam Cracóvia de Praga (República Tcheca), um trecho de autopistas cercado de belas paisagens. No dia seguinte eu não pude deixar de experimentar o famoso doce de Praga, também muito famoso em todo Leste Europeu, chamado de Trdelník ou Spin Cake, mas também conhecido como Apfelstrudel ou ainda Kurtoskalacs. Mas não importa o nome que lhe é dado; o que importa é que é uma delíciaaaaa!

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Como é bela a cidade de Praga, a “Cidade das 100 Cúpulas”! Que sensação boa de parecer que vivo ali há muito tempo, com suas construções barrocas coloridas no antigo centro histórico, a Ponte Carlos, onde só passam pedestres e suas Igrejas Góticas. E foi nesta cidade incrível que nossa viagem chegou ao fim. De Praga, voltamos para Munique, e de lá para o Brasil; que difícil esse retorno, carregado de muita dor no coração.

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Foi uma viagem inesquecível, feita com muito amor, carinho e com a certeza de um sonho realizado. Gratidão ao meu amado pai, que aos meus 8 anos de idade, me colocou em uma Mobyllete e me ensinou o que é amar as duas rodas e que em momento algum não me deixou desistir dessa viagem; que sempre me apoiou em minhas decisões, em meus novos caminhos, me ensinou a dar a cara à tapa, a trabalhar, lutar e sempre me reerguer quantas vezes sejam necessárias. Meu eterno amor por você. 

“NUNCA DESISTA DOS SEU SONHOS; ELES SÃO O MELHOR QUE VOCÊ PODE VIVER”

  ROSANA DRASCHI

  17/08/2020