trilha-telegrafo-inferno-verde-motorrad-historia-dois-amigos

O atual instrutor-chefe da BMW Motorrad do Brasil nos traz uma deliciosa história vivida em 2014 quando, ao lado de dois amigos, resolveu encarar a famosa – e temida – Trilha do Telégrafo de big trail.

Aproximadamente 87km separam Guaraqueçaba, no Paraná a Cananéia em São Paulo. Destes 87km, apenas 7 km são de trilha.

A famosa Trilha do Telégrafo fica em uma das regiões com maior índice pluviométrico do país e o resultado disso é um terreno extremamente encharcado e instável, que varia entre lama muito mole e uma argila densa que gruda como nada que você já tenha visto na sua vida. Junte a isso pedras, troncos, riachos e raízes expostas de árvores e você tem o cenário da Trilha do Telégrafo.

Pois estes foram os mais difíceis, demorados e exaustivos 7km da minha vida desde que subi numa moto pela primeira vez. Começamos a trilha às 15hdo sábado e terminamos às 18h. De Domingo!

Aconteceu de tudo neste final de semana: furamos pneus, conseguimos quebrar uma chave de roda tentando consertá-lo, cortamos a mão, comemos pizza no posto da Polícia Rodoviária, dormimos no chão de um posto de gasolina na BR-116, descemos a sempre bonita Serra da Graciosa, pilotamos forte por estradinhas de terra depois de Antonina e até vimos uma corrida de canoas na Festa do Pescador em Guaraqueçaba.

A aventura já tinha sido enorme antes mesmo de entrarmos na trilha. Mas assim que começamos, vimos o porquê da fama do Telégrafo. Logo nos primeiros 50 metros, os 2 primeiros tombos. Levamos 3 horas – e mais alguns tombos – para evoluir uns 2km.

Ajudamos e fomos ajudados por trilheiros locais, que deram a dica: “daqui a 500m tem a casa do Sr. Henrique. Talvez vocês possam dormir lá”. Cogitamos seguir direto e acampar no meio do mato, mas num lampejo de sensatez, decidimos ficar por lá e ter a oportunidade de tirar as roupas encharcadas de lama. E foi o que fizemos.

Com o dia quase escurecendo, chegamos na casa simples de madeira (e sem energia elétrica) do casal de caboclos que nos abrigou. Enquanto a Dna. Lucinda cozinhava seu arroz e feijão no fogão a lenha, o Sr. Henrique, com a ajuda da luz fraquinha de uma vela, contava causos, tocava viola e insistia para que tomássemos mais um golinho da cachaça local. Comemos muito e dormimos dividindo um colchão meio surrado, colocado no chão.

Acordamos com o sol nascendo e um visual incrível à nossa volta. A generosidade da caboclada não tinha acabado: Dna. Lucinda, ainda tímida e sem falar muito, nos preparou um café e uns bolinhos de banana muito bons. Saímos as 8h com a esperança de chegarmos para o almoço em Cananeia, mas não poderíamos estar mais enganados. Ficamos, até as 18h literalmente arrastando as 3 motos pelos 5km restantes de um lamaçal inacreditável. De vez em quando um morador local passava a pé ou a cavalo. Quando perguntávamos como estavam as coisas mais pra frente, eles diziam “ah, tá um pouquinho pior do que aqui”…

Eu estava exausto. Onde tinha músculo, tinha cãibras. E ficamos nessa de cair, atolar, desatolar, sentar pra descansar, puxar moto com corda, tomar água do rio, afundar a perna até a altura do joelho por exatas 10 horas. Quando faltavam uns 200 metros para a o final da trilha, já era possível ver uma escola e umas casinhas dos locais.

Fizemos fotos praticamente comemorando nossa chegada. O que ainda não sabíamos é que levaríamos quase 1 hora e meia para percorrer estes últimos metros.

Tivemos que construir uma passagem com troncos de madeira para atravessar com as motos um dos trechos mais profundos e grudentos de lama e argila. Este final de semana foi intenso demais. Um baita desafio e também uma oportunidade incrível para conhecer lugares bonitos, gente disposta a ajudar e moradores humildes mas muito, muito generosos.

Mas o mais incrível de tudo foi à parceria desses dois caras que foram comigo. Foram 2 dias de muito trabalho em equipe, esforço físico inacreditável, muito incentivo e muita risada. Fomos amigos, voltamos irmãos.

1 COMENTÁRIO

Comments are closed.