O feriado de Páscoa é sempre uma ótima oportunidade para viajar de moto. Imagine, então, na companhia de seu pai…

Texto e fotos: Juliano Alves

Ruínas de São Miguel

Ambos são moradores de Curitiba (PR): o motociclista Juliano Alves pilota uma Yamaha XTZ 250 Ténéré e seu pai, João Carlos Alves, uma Kasinski Mirage 250. Recentemente a dupla aproveitou um feriado da Páscoa para colocar as máquinas na estrada. Confira a aventura nas palavras de Juliano.

“ESPELHO”

O filho tem o pai como um espelho. E comigo não é diferente: sempre me lembro de meu pai como o homem que me ensinou a dirigir e que, em cada viagem familiar, me dava aulas de como encarar uma estrada, contando-me ”segredos ”. Agora ele trocou de lugar comigo, tornando-se o aprendiz e escutando com atenção meus relatos de viagens e dicas de lugares aonde ir. Meu pai está com 72 anos e comprou sua primeira moto há dois anos. Tirou sua habilitação e, recentemente, decidiu aceitar um convite meu: viajar de moto ao meu lado.

Mesmo com tudo planejado, os dias que antecederam a jornada foram um misto de apreensão e ansiedade, visto que, para meu pai, seria uma grande viagem, algo que ele ainda não fizera sobre duas rodas.

NA ESTRADA

Enfim, chegou o grande dia. Com a rota traçada e as motos prontas, partimos rumo a São Miguel das Missões (RS), capital dos Sete Povos das Missões Guaranis, para visitar as Ruínas de São Miguel.

Seria a quarta vez em que eu retornaria às Missões. Porém, era a estreia do meu pai. Às 06h00 de uma sexta-feira, iniciamos nossa aventura. O sol se fez presente, tornando o dia perfeito para curtir uma viagem de moto. Os primeiros quilômetros foram vencidos e eu sempre o acompanhando pelo retrovisor, apreensivo nas ultrapassagens e moderando o ritmo da viagem, para que meu companheiro adquirisse mais confiança. Logo Curitiba, capital paranaense, ficou para trás e fizemos nossa primeira parada, em São Mateus do Sul. Quando meu pai tirou o capacete para falar sobre a moto, a estrada e a viagem, percebi que estávamos literalmente “no caminho certo” – e a partir daí, pude trocar a expressão apreensiva e preocupada por sorrisos dentro do capacete…

A viagem transcorreu com tranquilidade. A Rodovia Transbrasiliana, a partir de União da Vitória, nos proporcionou, além de boas condições de viagem, belas paisagens. Meu pai, a cada parada para um descanso, me cobria de entusiasmo e alegrias. As pessoas nos olhavam com simpatia e, nos costumeiros bate-papos de viagens, recebemos muitos elogios. Alguns até duvidavam da idade de meu pai. E o melhor de tudo: todos o parabenizavam por sua coragem (e a nós, pela grande aventura que fazíamos juntos).

Chegamos a Passo Fundo (RS) no início da tarde. Ainda restavam mais de 250 km até nosso destino, porém, tínhamos como recompensa os belos campos missioneiros como pano de fundo. Ao cair da tarde, tivemos o sol como nosso companheiro ao longo de toda a Rodovia BR-285. Depois de 12 horas viajando, finalmente chegamos ao nosso destino.

MISSÕES

Imagine-se chegando a uma cidade e, após passar pela primeira lombada, levantar a viseira do capacete e sentir aquele “cheirinho” gostoso do interior. Imaginou? Então, seja bem-vindo a São Miguel das Missões, lugar simpático e cordial, onde fomos recepcionados pela família de nosso amigo Odil, que já nos aguardava (como manda a tradição gaúcha) com um bom chimarrão e um churrasco “gordo”.

A cidade de São Miguel das Missões é a principal redução dos Sete Povos das Missões, tendo sido declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1983. No sábado, após uma merecida noite de descanso, iniciamos nossa visita à cidade pela Fonte Missioneira.

Lá pude rever o “Nego Osório”, que, em minha primeira visita às missões, me tratou com uma hospitalidade ímpar, tanta que este guia turístico tornou-se um grande amigo.

Odil, juntamente com sua família, nos aguardava para uma roda de chimarrão, na qual ouvimos os ”causos” das missões enquanto o almoço era preparado com capricho.

ESPETÁCULO

À tarde fomos visitar as ruínas de São Miguel. Um lugar mágico, onde é possível sentir a energia positiva dos povos guaranis. A catedral, ou o que restou dela, foi construída em 1745 e impressiona tanto por sua grandeza como pelo cuidado de sua construção, com seus detalhes e ornamentos feitos pelos índios e pela ausência de qualquer tipo de cimento na fixação das pedras.

Junto às ruínas encontramos o Museu das Missões, onde algumas esculturas e documentos relacionados à construção da catedral e às missões estão expostos, juntamente com alguns sinos da catedral. É possível, ainda, comprar alguns artesanatos feitos por índios, que ali expõem seus trabalhos.

À noite retornamos às ruínas para assistir ao imperdível espetáculo Som e Luz, no qual, em alguns minutos, a história dos povos jesuíta e guarani é contada (por meio das vozes de grandes artistas nacionais e de luzes, que, de acordo com os acontecimentos narrados, tingem as ruínas de tons multicoloridos). Quem vê e ouve não esquece jamais.

Fim de espetáculo, fim de nossa visita às missões… Jantamos e começamos a nos preparar para o regresso ao lar.

VOLTA

Para evitar o trânsito pesado, típico dos finais de feriado, decidimos pegar a estrada de volta para casa no domingo de manhã. Assim, mais uma vez, viajamos sob um céu azul, que nos acompanhou até Curitiba. Dizem que uma grande viagem não é medida pelos quilômetros rodados, mas sim, pelo “modo” como os rodamos. E a sensação de retornar às missões, rever os amigos e, principalmente, ter meu pai como companheiro ao longo daqueles 1.885 km fizeram desta aventura o melhor presente de Páscoa que eu poderia receber.

DICAS

São Miguel das Missões oferece poucas opções de hospedagem. Ali, o melhor custo x beneficio é oferecido pela Pousada das Missões, tanto pela localização (ao lado do Sítio Arqueológico de São Miguel) como pela decoração (de motivos indígenas). Esta pousada, além das opções de hospedagem regulares, ainda dispõe de alojamento para alberguistas (com preços mais acessíveis).

ONDE FICAR

Pousada das Missões

Rua São Nicolau, 601 – Centro

http://www.pousadadasmissoes.com.br

ONDE COMER

Restaurante O Guarani

Av. Borges do Canto

Restaurante Meu Cantinho

Rua São Nicolau – defronte as ruínas

ONDE IR

Sitio Arqueológico de São Miguel Arcanjo

Horários: Todos os dias das 09h00 às 12h00 e das 14h00 às 18h00

Valor: R$ 5,00. Estudantes e maiores de 65 anos pagam meia-entrada.

Espetáculo Som e Luz

Diariamente ao entardecer
No Sítio Arqueológico de São Miguel Arcanjo
Valor: R$ 5. Estudantes e maiores de 65 anos pagam meia entrada.

Fonte Missioneira

Rua Jordão França Bittencourt

Funciona das 09h00 às 12h00 e das 14h00 às 18h00.

Entrada franca.

Matéria publicada na edição #163 da revista Moto Adventure.