Em artigo, autor fala de sua experiência como motociclista e ensina que respeitar os limites é vantajoso em qualquer situação
POR REDAÇÃO
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Encarar o trânsito de uma metrópole, pegar uma rodovia ou mesmo percorrer um pequeno trajeto em uma localidade tranquila com uma motocicleta. Muitos gostariam de fazer isso, mas nem todo mundo pode ou consegue. Se você tem essa capacidade, parabéns, sinta-se um privilegiado, porém, coloque uma palavra em sua cabeça: respeito! Por você e pelo veículo que você conduz.
Nem todos os seres humanos são capazes de coordenar os 5 comandos que uma motocicleta normalmente tem com apenas quatro membros. Essa conta que não fecha implica em ter certa habilidade, talento, e se a isso somarmos o necessário equilíbrio e uma refinada percepção espacial, a conclusão é que, sim, quem pilota moto é um privilegiado.
Quase um super-homem? Menos, bem menos… Não é preciso exagerar. Conduzir uma motocicleta é uma experiência fascinante, para alguns quase que algo místico. É o meu caso: há exatos 46 anos ando de moto e ainda lembro em detalhe de minha “primeira vez”. Naquele instante mágico, tive a certeza de que as máquinas iriam fazer parte de minha vida para sempre, e acertei.
Entretanto, nunca fui um super-homem do guidão, nunca tive habilidade acima da média. Apenas entendi logo que andar de moto é que era especial, e desenvolvi um saudável respeito pela máquina e pelos meus limites. Quase 5 décadas depois dessa estreia meu retrospecto é bem positivo, jamais tive um episódio “doloroso”.
Ué? Não dizem que a moto é o veículo mais perigoso que existe? Como explicar tanto tempo e tantos quilômetros rodados com um veículo que, como o Jô Soares gosta de dizer, “foi feito para cair”, sem nenhum acidente digno de nota, nenhum ossinho quebrado sequer?
A moto é perigosa?
Não. Perigoso é quem pilota sem o devido respeito e, principalmente, sem conhecer seus próprios limites. Muitos jamais tentaram andar de motocicleta vencidos pelo medo. Outros estão no extremo oposto e fazem da moto um instrumento para exibir a quem quer que seja uma coragem suicida.
Acredito que, como sempre, a verdade está no meio: é muito frustrante não tentar fazer algo que pode ser positivo por temor, assim como é pouco saudável exceder. Andar de moto não me exigiu dom ou talento acima da média, mas sim – bato de novo na tecla – perceber quanto antes que o veículo exige respeito.
Desaforos ao guidão custam caro, erros são dolorosos e podem ter consequências irreversíveis. Fatalidades acontecem em qualquer atividade, mas a maioria das histórias ruins sobre motociclistas que ouvi ou vivenciei ao longo de minha vida tinham um componente de abuso ou excesso: de velocidade, de autoconfiança, de exibicionismo e por aí vai.
Portanto, RESPEITO é a regra nº 1 a ser seguida desde o primeiro metro de sua vida de motociclista. Constatação irrefutável: existem pilotos experientes e alguns irresponsáveis também. Os irresponsáveis ao guidão não terão tempo de se tornarem motociclistas experientes.
Alguns são mais habilidosos, ousados ou ambos. A eles, parabéns, e que além disso tenham sorte. Mas, com ou sem grande dom para o guidão, conhecer seus limites é importante. Levar motos ao extremo é coisa para poucos. O melhor é explorar outras capacidades, a de se concentrar e querer fazer bem feito. Resumindo, menos rapidez e malabarismos e mais capricho.
Concentração em 100% do tempo
Há décadas me divirto pilotando motos de todo tipo e tamanho. Além de me levarem para lá e para cá, motos são meu ganha pão, profissão invejável que me fez quase que literalmente conhecer o mundo todo. Por conta disso, as pessoas me pedem conselhos sobre como aprender a andar de moto de maneira segura, como começar, quais os melhores modelos e tudo mais. Sempre tenho muito a dizer, mas o que mais gosto de enfatizar é que andar de motocicletas exige 100% de concentração, em 100% do tempo.
Pode parecer exagerado, mas ao guidão não há margem para ceder ao risco. Trocando percentuais por quilômetros a coisa fica mais clara: em uma viagem de 100 km não se pode ficar concentrado em apenas 97 km eles, e rodar distraído, fora do ar, sem olhar direito para frente, para o chão, para aquilo que te cerca durante dois longos quilômetros, pode ser fatal. Percentualmente, 2% parece quase nada, mas em dois quilômetros pode dar muita coisa errado.
Em um automóvel, pequenos vacilos ao volante, como não reparar em buracos, lombadas ou naquela areiazinha esparramada na pista não terão consequências muito ruins. Já na moto, a distração pode se transformar em uma grande dor de cabeça. Dor de mão, dor de pé ou, na melhor das hipóteses, dor no bolso.
Aos 11 anos de idade, no dia em que montei naquela “cinquentinha azul”, eu não poderia imaginar quanta felicidade, quantas coisas boas e emocionantes as motocicletas me dariam vida afora. Hoje, tenho o privilégio de poder contar tudo isso para vocês, passar adiante minha experiência e o conhecimento acumulado.
Espero que as “Dicas de Motos” sirvam para vocês, leitores, aperfeiçoar suas vidas de motociclistas que, repito, será tanto melhor quanto maior for o RESPEITO. Pelos limites da moto e especialmente pelos seus. Evite excessos, e seja feliz!