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Projeto desenvolvido pela equipe da Frateschi Garage transforma uma comportada BMW F 650GS de meados dos anos 90 em uma invocada scrambler, misturando elementos clássicos com modernos.

Texto: Guilhes Damian/Renato Frateschi Fotos: Gustavo Epifanio

O projeto dessa BMW F650 apareceu de uma forma curiosa. Um cliente em potencial marcou de fazer uma visitinha na oficina para conhecer o trabalho mais de perto, bater um papo e tal. O problema é que ele ficou maravilhado com uma Honda XL 250 Scrambler que eu havia construído em uma espécie de homenagem à minha esposa – ele inclusive queria levar a moto! – mas pela natureza e propósito do projeto eu não tinha como vendê-la: se vendesse, provavelmente iria apanhar em casa!

Como o cliente não tinha uma moto base, também era minha missão correr atrás de uma possível candidata que coubesse no orçamento do projeto como um todo. Pensei em alguma coisa de média cilindrada, uma 500cc por exemplo, mas era uma tarefa difícil já que a oferta de modelos nessa faixa de cilindrada por aqui é super escassa. Pensei até nas Honda CB 500 lá do final dos 90, início dos anos 2000, bicilíndricas, que foi a base de meu primeiro projeto como customizador, só que para minha surpresa elas estavam um pouco carinhas e acabei ficando sem muita opção.

Confesso que não me passou pela cabeça uma mono num primeiro momento, mas fazendo uma pequena pesquisa me deparei com a BMW F 650GS. Estava ali uma base super bacana, confiável e que não custaria os olhos da cara, sem contar que ela estava em ótimas condições e praticamente pouco rodada pela idade. Uma moto de 1994 com apenas 40.000 Km. Um achado!

“Coisa de moleque”, não!

A partir dessa escolha o projeto acabou ganhando um desafio adicional. Bom, o design original da F 650GS não é exatamente uma unanimidade e o desafio era justamente esse: transformar uma moto com um design já cansado e antiquado em algo muito mais moderno e interessante.

Outro fator importantíssimo era justamente se ater ao uso que o cliente iria fazer da moto: não adianta muita coisa entregar uma moto incrível na qual o cliente vai se sentir desconfortável e que não seja adequada ao que ele pretende com ela.

O cliente queria a moto para pequenas viagens e sempre com garupa. Portanto, era crucial o conforto e a ergonomia para duas pessoas. E tem mais um detalhe, o senso estético do cliente e o tipo de imagem que ele quer passar ou evitar. Nesse caso, o desejo era por algo mais sóbrio, que não chamasse tanta a atenção e, nas palavras dele, que não ficasse com cara de “coisa de moleque”.

A primeira coisa que me veio à cabeça foi utilizar o icônico tanque das BMW R80 dos anos 80. Um tanque sóbrio e com linhas super interessantes que acabou sendo o ponto de partida para todo o resto.

A partir do desejo de algo mais sóbrio e discreto eu teria de fazer algo bem diferente do que costumo fazer, que são projetos com uma cara bem mais agressiva. O tanque já era metade do caminho, a questão então era acertar todo o resto da moto freando meus impulsos de fazer algo muito arrojado. Adicionei a isso tudo um desejo meu de fabricar muitas partes com tecnologia de impressão 3D. Isso também tem relação com o fato de colocar exclusividade no resultado final com peças únicas e com a vantagem imensa de, se eventualmente alguma delas quebrar, com alguns cliques eu consigo fazer uma nova igualzinha para repor na moto.

A mistura de tecnologia moderna e alguns detalhes que remetem ao antigo acabou resultando em uma legítima retrô moderna, coisa que anda muito em voga hoje em dia.

A parte mais difícil do projeto foi esconder toda a parte elétrica da moto. Até a bateria (de lítio) foi posicionada debaixo do tanque de combustível, para contribuir com um ar mais sóbrio e elegante. A parte onde me permiti ousar mais e deixar minha “marca” foi no escapamento, que foi projetado por aqui em um esquema 1×2, finalizando com ponteiras SC Project.

Falando em marca, aproveitei a impressão 3D para brincar com minha identidade visual. Algumas peças levam o F da Frateschi, impressos em 3D, como na grade do farol dianteiro e também nos protetores da suspensão dianteira invertida, dando um upgrade na original que é do tipo convencional.

Para um resultado final de acordo com o desejo do cliente, usamos o preto e vermelho em um esquema de cores super discreto e classudo.

A moto acabou fazendo barulho na gringa justamente pela “mágica” de transformar um patinho feio em um cisne e também pelos custos do projeto que, somando moto-base e as transformações, ficou cravado em 25.000 reais.