A caminho do Centenário da Indy 500, em Indianápolis, grupo de motociclistas prestigiou as principais tradições históricas e artísticas dos EUA
TEXTO: VERA MIRANDA
FOTOS: BY BARROS
Nós, de Moto Adventure, tivemos o privilégio de participar de um roteiro especial elaborado pela Melbourne Tour – uma viagem que simultaneamente satisfez os aficionados por motos e carros. Cruzamos os EUA de sul a norte, perfazendo seis estados, antes de participarmos de uma das maiores festas do Automobilismo mundial, que assistimos “de camarote”: o centenário da Indy 500, em Indianápolis.
Nossa aventura começou na mais “musical” cidade estadunidense, New Orleans (local onde pegamos as motos). A região foi devastada em 2005 pelo furacão Katrina – mas a tragédia não neutralizou seu poderoso carisma. De fato, New Orleans está conseguindo recuperar todo seu charme, impresso em locações como o famoso French Quarter (o coração artístico, intelectual e social da cidade). A rua principal, Bourbon Street – com seus prédios antigos, balcões de ferro e sobrados históricos –, oferece atrações incríveis em termos de música e de culinária (esta última é considerada uma das melhores do mundo por conta da influência francesa).
Igualmente interessantes são o Riverwalk Marketplace, maior centro de compras da cidade, as mansões do século XIX no Garden District, o Cassino Harrah’s e a tradição local de se usar colares de bolinhas coloridas (os famosos ”Beads”). Segundo os costumes vigentes, quem ganhar um deles deve levantar a blusa em forma de agradecimento. Não se surpreenda, portanto, se vir pessoas atirando “Beads” quando estiver passeando pela French Quarter. Pegue um para você, use-o e agradeça levantando a blusa – dizem que isto dá sorte!
New Orleans ainda oferece aos turistas o programa Tax Free (Louisiana Sem Impostos). O governo local reembolsa aos turistas internacionais os impostos por compras feitas na Louisiana. Basta guardar os comprovantes e receber a importância em dinheiro nos aeroportos ou postos de Tax Free.
“CAMPO DE BATALHA”
A saída de New Orleans se deu em grande estilo: atravessamos o Lago de Pontchartrain pela ponte Causeway – a mais extensa do mundo, com 38.422 metros e constituída por duas vias paralelas. Seiscentos pilares de concreto sustentam este prodígio arquitetônico, que conecta Metairie (um subúrbio de New Orleans) à cidade de Mandeville (também na Louisiana).
Seguimos para a cidade de Vicksburg – mas, devido às fortes chuvas ocorridas no mês de maio, vários alagamentos foram provocados na região. Portanto, tivemos que desviar o caminho, já que certos trechos da estrada estavam interditados. Uma vez no Vicksburg National Park, tivemos o prazer de percorrer, a bordo de nossas Harleys, 16 milhas por este que foi um dos mais notórios “campos de batalha” da Guerra da Secessão (em 1863, ali se desenrolou a batalha de Vicksburg, um importante capítulo da Guerra Civil Norte Americana).
Ao longo do trajeto, apreciamos monumentos, canhões, estátuas e até um barco de guerra resgatado do Rio Mississippi. O parque foi construído em lembrança aos mais de 100 mil combatentes que lutaram aquela batalha. Prosseguimos pela Highway 61, também conhecida como “Rota do Blues”, com o objetivo de visitarmos a casa onde nasceu uma lenda deste gênero: o grande B. B. King (hoje, a propriedade é um museu que louva sua carreira). Naquele trecho também pudemos observar o estrago feito pela enchente do Rio Mississippi – principalmente na cidade de Vicksburg, onde várias casas ficaram alagadas.
A CASA DE ELVIS
Saímos do Mississippi e ingressamos no Estado de Tennessee, chegando a Memphis – que, juntamente com New Orleans e Nashville, é considerada uma capital da música norte-americana. De fato, passar por Memphis é uma experiência inesquecível: trata-se de uma cidade agradável, tranquila e que é berço do Jazz, do Blues e do Rock’n’roll – sem mencionar que, ali, o lendário Elvis Presley, ícone do “pop” estadunidense, viveu a melhor fase de sua vida. Na rua principal, a Beale Street, em cada bar, cantina ou esquina há um artista se apresentando.
Em Memphis, visitamos o hotel no qual Martin Luther King Jr. foi assassinado (em 1969) por opositores racistas – ele se hospedara ali para apoiar uma greve de coletores de lixo. Líder da luta pelos Direitos Civis, ele combateu o racismo nos EUA e comunicou ao mundo seus ideais, pregando uma militância destituída de violência (por isso recebeu o prêmio Nobel da Paz, em 1964). Quase tudo está intacto, como no dia do assassinato – do quarto ao seu carro, estacionado na frente do hotel.
Por fim, fomos visitar Graceland, a casa onde vivia o Rei do Rock, Elvis. Ela também foi transformada em um museu e recebe cerca de 600 mil pessoas por ano (é a segunda casa mais visitada do país, logo depois da Casa Branca, em Washington – DC!). Este santuário foi aberto à visitação em 1982. Após comprar o ingresso, o turista recebe um headphone e uma voz passa a narrar os principais momentos da vida do cantor, à medida que se passeia pelos cômodos da mansão.
O tempo parece parado em Graceland – tudo continua como estava em 1977, quando Elvis morreu. A decoração, típica daquela década, é pesada. E as roupas usadas pelo Rei, assim como os troféus que colecionou, podem ser vistos em um dos cômodos. A visitação termina no jardim de meditação – onde, hoje, está sepultado Elvis, além de alguns de seus familiares.
MÚSICA COUNTRY E FURACÃO
No dia seguinte, recolocamos as máquinas na estrada rumo a Nashville, a Meca da música Country. O local combina um clima de cidadezinha com uma inesperada sofisticação urbana – haja vista seus museus de padrão internacional, restaurantes ecléticos, prédios imponentes e agitada vida noturna. Percorrer os bares do centro, todos impregnados de uma áurea Country, é uma diversão e tanto! Difícil é achar um cantinho para ficar – todos vivem lotados! A caminho de Louisville, fizemos uma visitinha ao complexo da destilaria Jim Beam, com direto a degustação de seus premiados Bourbon.
No Estado de Kentucky, paramos no Parque Nacional de Nammoth Cave para contemplar o conjunto de cavernas mais extenso do mundo. O trajeto é feito sob a supervisão de Rangers (guardas de parques), encarregados de informar e ciceronear os visitantes. A profundidade da caverna equivale a um prédio de 20 andares – é surpreendente a beleza do lugar!
Louisville estava um tumulto, já que a previsão era a de que um furacão passaria por ali. Sendo assim, apenas visitamos as lojas da BMW e da Harley e jantamos. Como crianças que não conhecem o perigo, retornamos à recepção do hotel e ficamos na expectativa da passagem do furacão. Felizmente, no horário previsto, apenas choveu e ventou muito. Neutralizada a “ameaça”, fomos liberados para retornar aos nossos quartos.
Por conta da chuva no dia seguinte, mudamos nosso itinerário e rumamos direto para Indianápolis. A manobra, é claro, teve um preço: perdemos o visual proporcionado por uma das estradas mais belas da região.
TRATAMENTO “VIP”
Em Indianápolis, nos entregamos às emoções do mais esperado evento do “tour”: a festa de centenário das 500 milhas de Indianápolis. Como descrever a expectativa de acompanhar a festa mais importante do automobilismo? O evento é realizado desde 1911 em circuito oval. Ao campeão, uma láurea difícil de ser igualada: nada menos que um prêmio de aproximados US$ 2,5 milhões (ou R$ 4 milhões)!
Durante cinco dias ficamos hospedados no Ommi Severin, pertinho das principais atrações da cidade: bares, restaurantes, lojas e interligação direta com o principal shopping local, o Circle Center Mall. Em uma sexta-feira (29/05), primeiro dia da competição, logo pela manhã fomos ao autódromo assistir à Indy Ligh. O grupo teve a oportunidade de curtir a festa em caráter “VIP” – ou seja, em arquibancada exclusiva e com direito a bebidas, petiscos, almoço e até credencial especial para visitar os bastidores.
No “Dia D” para os apaixonados por Automobilismo, enfrentar a fila e esperar o momento de adentrar o Indianápolis Motor Speedway não foi exatamente um sacrifício – e sim, uma satisfação. Não é todo dia que se participa de uma festa desta magnitude, que, vamos admitir, os estadunidenses organizam bem. As atividades começaram com um desfile das máquinas históricas que ganharam as competições anteriores, bem como dos pilotos que deixaram suas marcas ali – incluindo o nosso Emerson Fittipaldi.
A prova teve um final surpreendente: JR Hidebrand (Panther) colidiu na última curva – para tristeza dos americanos e após liderar a prova, deixando a vitória para o inglês Dan Wheldon (Herta), que finalizou em segundo as duas últimas edições da Indy 500. O brasileiro Tony Kanaan (Bra/KV-Lotus), muito querido nos EUA, terminou em quarto lugar. Após largar na 22ª posição, Tony fez uma corrida de recuperação e chegou, em algumas voltas, a ficar em segundo lugar.
Fim da festa! Rumamos para Chicago, onde devolvemos as motos e nos despedimos dos amigos. Alguns privilegiados ainda permaneceram na cidade (a qual, particularmente, eu adoro!) para degustar de suas inúmeras atrações. Um “fecho” e tanto para uma aventura que, em todas as instâncias, foi espetacular. Agradecemos à Melbourne Tour o convite para mais uma jornada inesquecível!
Melbourne Tour – www.mbtour.com
Total Rodado: 1.600 milhas (2.560 km).
*Matéria publicada na edição #128 da revista Moto Adventure.
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