Mobilidade com exclusividade: este foi o mote de advogado paulistano ao customizar sua Kawasaki Z300, transformando-a em uma peça única inspirada na Scrambler
Texto: Guilherme Derrico
Fotos: Ricardo Kruppa
Kawasaki Z300
A primeira vez a gente nunca esquece! Essa foi a sensação de Rodrigo Marcondes, proprietário da oficina Bendita Macchina, ao receber a missão de customizar uma Kawasaki Z300, a primeira moto da marca japonesa em que ele iria atuar. Após pensar em diversas soluções para criar o projeto, ficou decidido que mudar a “cara” da máquina seria o primeiro passo, já que o modelo Naked inspira um ar mais agressivo, totalmente diferente do que o cliente queria. No caso, o dono da moto desejava um modelo Scrambler.
Mas, o que significa Scrambler? O termo surgiu nos anos 1950 para nomear as motocicletas adaptadas para corridas de enduro, com pneu para terra, escapamento alto e guidão mais largo. O nome deriva da expressão “to scramble”, que nada mais é do que subir uma colina ou montanha rapidamente usando as mãos e os pés.
O advogado paulistano Vinícius Branco, de 60 anos, queria transformar sua Kawasaki Z300 numa Scrambler, pois possuir um modelo desses era um sonho antigo dele. Após entender o gosto do cliente, que seria criar uma Scrambler com escapamento mais para cima, com um tanque maior e na cor verde musgo, o customizador tocou o projeto adiante.
“Vinícius queria uma moto pequena, para facilitar a mobilidade urbana, podendo usá-la para ir a reuniões, ao escritório e, ao mesmo tempo, que tivesse uma cilindrada legal, pois ele gostaria de, aos finais de semana, usá-la para ir à praia. Após discutirmos o projeto, chegamos à conclusão de que a Z300 seria a opção perfeita para o seu propósito, já que se trata de uma motocicleta pequena, de 300 cc, porém bicilíndrica, com refrigeração líquida, então ela entrega uma potência bem legal ao condutor”, afirma Marcondes.
Para ser produzida, a máquina passou por um processo de um mês e meio, sendo quatro semanas de funilaria, uma semana para pintura e mais uma para finalizar a montagem. Após a conclusão, coube aos profissionais da Bendita Macchina escolherem um nome para a moto, e ficou decidido que “Escopeta” seria a pedida certa.
Planejamento é essencial
“Quanto mais tecnologia a motocicleta apresenta, mais difícil o projeto se torna. É um grande jogo de esconde-esconde. Fizemos reuniões com o cliente, entendemos o que ele acreditava ser uma Scrambler, já que o modelo pode apresentar diferentes visões de acordo com cada piloto. Entendi que ele queria um tanque redondo e escolhemos o da TX 500, da Yamaha, e mudamos completamente a peça”, diz Marcondes.
Segundo o customizador, o princípio básico da sua oficina é não alterar a ciclística das máquinas, ou seja, chassi, motor e suspensão sempre vão permanecer originais, e todo o resto poderá sofrer mudanças. “O fundo do tanque foi alterado para não mexer em nada no berço do chassi. Somado a isso, colocamos a bomba interna de gasolina original da Z300 e adaptamos o bocal, também original, ao tanque escolhido. O escapamento foi feito a mão. Como a Z300 é bicilíndrica, fizemos dois escapamentos, que foram mudados de posição, e incluímos uma proteção para as pernas. Desenvolvemos um banco feito em dois tipos de tecido, confortável, para ser utilizado no dia a dia e nas viagens, e que combinasse com a manopla, as grades e os faróis. Instalamos também um dispositivo USB para que o condutor pudesse carregar o celular enquanto pilota, além de remanejar a parte mecânica e eletrônica da moto”, detalha o customizador.
O painel recebeu dois instrumentos, em tamanho reduzido, sendo um velocímetro e um conta-giros, um ao lado do outro, com a ignição entre eles. “O farol ganhou grades para passar um ar mais ‘cross’. Criamos para-lamas, protetor de cárter exclusivo, tampa lateral e tudo mais. O reservatório do arrefecimento líquido está escondido atrás da tampa lateral. Fizemos uma abertura para que o proprietário consiga ver o nível do líquido e cuidar para que tudo esteja sempre em conformidade, em conjunto com o protetor do escapamento. Aliás, posso dizer que o escapamento foi o nosso maior desafio durante o processo. Não usamos plástico ou fibra nos nossos projetos, sempre metal, tudo sob medida para cada motocicleta”.
O pneu escolhido foi o Metzeler Tourance misto, que serve para andar no asfalto e também na terra, com raios 17. “Cromamos o escapamento e o guidão, desenvolvemos grades para cobrir os fios do tanque, dando um acabamento legal para esconder toda a parte elétrica. Esses acessórios não são meramente estéticos e sim funcionais, já que protegem as unidades citadas, inclusive o filtro de óleo”, detalha Rodrigo.
Quatro anos construindo sonhos
O publicitário Rodrigo Marcondes, de 40 anos, largou a carreira que exercia havia mais de 10 anos para realizar um sonho, o qual se tornou realidade e foi batizado de Bendita Macchina. Ele diz que percebeu uma lacuna no mercado e sentiu que havia espaço para olhar com mais carinho para as motocicletas de baixa e média cilindradas. A oficina de customização, localizada no bairro de Pinheiros, em São Paulo, existe há quatro anos e já produziu algo próximo de 100 motocicletas.
“Customizar motos com foco na mobilidade urbana, esse é o grande diferencial da Bendita Macchina. Quando entrei no ramo, percebi que a cena era muito voltada para motos de grande porte. Máquinas de 125, 150, 250 e 300 cc podiam ser olhadas com mais carinho. Elas são perfeitas para o trânsito das grandes cidades e merecem toda a nossa atenção”, acredita Marcondes.
O proprietário da oficina fala sobre as etapas da customização. “Eu pego o briefing com o cliente e divido com a equipe para, assim, pensarmos nas melhores ideias. Trabalhamos sempre duas motos por vez. Primeiro o projeto passa pela funilaria, depois enfrenta a preparação e pintura e, por último, a montagem. Somos uma grande família. Nossa equipe é formada por Bill, Cauê, Abel e Peu, quatro personagens muito importantes para nós, supervisionadas por mim e pelo meu irmão, Deco, que também cuida da parte burocrática do negócio”, comenta.
De acordo com Rodrigo, o cliente pode visitar a oficina e acompanhar o andamento do processo. “O cliente pode nos visitar quantas vezes quiser. Damos essa abertura a ele e, inclusive, enviamos fotos para que ele acompanhe o desenrolar do projeto. Acabamos virando amigos dos clientes e gostamos dessa proximidade”, finaliza Marcondes.
Apoio na compra da moto
O customizador conta que, se for necessário, auxilia o cliente na compra do veículo, dando todo o suporte para facilitar ao máximo a aquisição e entrega da moto. “Temos vários parceiros que nos ajudam nessa empreitada. Os concessionários são nossos amigos desde a fundação da oficina. Quando a compra é feita à vista, o cliente nem precisa ir até a concessionária. Eu pego os dados dele e da loja, o cliente deposita a quantia para o concessionário, a moto é faturada diretamente no nome do comprador e a entrega é feita aqui na Bendita Macchina, zerada”, salienta Marcondes.
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